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Um ano na presidência da Liga para Fernando Gomes. A hora indicada para um balanço, com abordagem nua e crua à sustentabilidade dos clubes. É colocado o dedo na ferida - gastou-se de mais - mas também se nota uma visão optimista para o futuro. Desde que os objectivos de apertar o cinto continuem a ser cumpridos.
- O estudo da Universidade Católica que traça a realidade do futebol português toca em muitos pontos sensíveis e lança diversos alertas. Enfrentamos realidade dura, crua e até perversa?
- As conclusões apresentadas traçam um diagnóstico exaustivo e completo dos últimos dez anos do futebol português e demonstram uma preocupação significativa. O endividamento crescente da indústria nos últimos dez anos e os seus níveis muito elevados, de alguma forma, questionam a sustentabilidade do actual modelo. Com esse endividamento, devem ser encontradas novas formas de financiamento e deve ser feita uma alteração dos modelos competitivos em que assenta o futebol português.
- Para ser claro e conciso, os clubes têm gasto mais do que deviam...
- A indústria do futebol português, a exemplo da economia, viveu acima das possibilidades. O acesso ao crédito barato habilitou os clubes a viver com esses mecanismos, desajustados da sua capacidade de gerar receitas. Os meios financeiros foram fundamentais no crescimento da competitividade, associado ao sucesso desportivo, mas não deve fazer esquecer a realidade específica do futebol português e até o equilibro da indústria. O aumento dos juros e cortes brutais no acesso ao crédito, numa indústria assente nessa forma de financiamento, são sinais preocupantes. A indústria não está preparada para gerar receitas nem os custos que suporta.
- Se houvesse uma agência de notação financeira a classificar o futebol português arriscaríamos cair no nível lixo?
- Apesar das dificuldades de alguns clubes, existe o esforço de consciencialização para sustentar os orçamentos, pois o cumprimento de pressupostos é condição basilar para se inscreverem. Este ano cumpriram melhor do que nos anos anteriores, nomeadamente nos compromissos com fisco e segurança social. Não é lixo, obviamente, mas há que ter consciência que as condições da economia são diversas das que aconteciam nos anos de crescimento da última década.
- No meio das dificuldades surge algo que pode classificar-se como um paradoxo. Tivemos dois clubes portugueses na Liga Europa, o que é sensacional. Qual a imagem real do futebol português? A que transita de Dublin ou, de como alguém diz, a proximidade de falência?
- O futebol português não está na falência, é desajustado dizer-se isso. Não significa, como em qualquer sector da actividade, que uma ou outra equipa não tenha capacidade financeira e seja conduzida à falência. Os clubes portugueses, com os meios financeiros disponíveis, fazem verdadeiros milagres. Estamos num país em que a capacidade de gerar receita representa 20 por cento das maiores ligas europeias e os resultados desportivos são milagre. Mas isso não nos leva a esquecer a realidade da nossa indústria. Há que manter o alerta para a necessidade de equilíbrio para factores de risco. A crise mundial em alguns casos é dramática, o acesso ao crédito tornou-se mais difícil, podemos ter dificuldades para o futuro. É preciso um ajuste na forma de financiamento e não endividamento exagerado.
A Bola