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“PME devem aproveitar a crise para renovar quadros”

billshcot

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Nov 10, 2010
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Empresas têm oportunidade de atrair jovens qualificados com custos mais baixos.

Portugal tem oportunidades de investimento muito interessantes, apesar da crise. Quem o diz é Manuel Caldeira Cabral, da Universidade do Minho, que dá exemplos de empresas e sectores bem sucedidos.

Há margem para as empresas investirem nesta altura?

Há oportunidades muito interessantes. Muitos activos estão desvalorizados e quem tiver liquidez pode fazer investimentos de longo prazo muito rentáveis, em empresas ou mesmo no imobiliário. O mercado interno vai continuar a cair em 2013 e, provavelmente, também em 2014. As melhores oportunidades, nos próximos anos, não estarão aí. Muitas empresas têm conseguido afirmar-se nos mercados internacionais e para estas há oportunidades interessantes. É o momento para investir na internacionalização e em empresas com potencial externo que têm dificuldades em financiar o seu crescimento.

Qual o potencial de uma economia com três anos de recessão e desemprego de 19%?

O desemprego é o maior problema social e económico do país. Os desempregados estão a perder capital humano. Os jovens emigram e o país perde potencial económico com isso. Um país em envelhecimento está a perder uma parte tão importante dos seus jovens é um rombo no potencial de crescimento futuro. No entanto, a situação do desemprego permite a quem investe olhar para Portugal como uma localização que oferece não só acesso a um mercado de 400 milhões, infra-estruturas de qualidade, boas universidades e um bom ambiente de negócios, mas também trabalhadores qualificados a custos muito inferiores aos dos parceiros europeus.

Em que áreas o país tem, neste momento, mais potencial para crescer? Sectores como a agricultura, por exemplo, devem ser mais explorados?

As exportações de bens agrícolas e das agro-industrias cresceram mais de 10% ao ano entre 2005 e 2011. Em 2012, o crescimento abrandou para um valor próximo dos 6%. Este é um sector que tem potencial para crescer mais, quer nas exportações quer no fornecimento do mercado interno. Há muitos terrenos por cultivar e muitas produções que podem ser mais valorizadas. Há também um trabalho já em curso, mas ainda com muito potencial, de valorização dos produtos por maior transformação e criação de valor com marcas com maior reconhecimento. É uma área em que os preços internacionais subiram e onde muitos empresários portugueses começaram a trabalhar na internacionalização antes da crise, conseguindo já conquistar posição mesmo nos mercados mais exigentes. É também um sector em que há boa capacidade científica em Portugal e em que há muito potencial para a inovação.

Mas não é o único sector...

Felizmente, não é o único em que há potencial. O ciclo de forte crescimento das exportações iniciado em 2005 tem características diferentes dos anteriores, marcados pelo aumento do peso dos mercados comunitários e expansão nos sectores tradicionais. O actual, iniciado antes da crise, é marcado pela expansão de um conjunto diversificado de sectores e por uma diversificação de mercados, com um crescimento muito mais acentuado dos extra-comunitários. O crescimento de Portugal nos próximos anos terá de ser baseado num misto de forte crescimento das exportações e de recuperação mais moderada da procura interna. E num conjunto de sectores, dentro dos quais se vão destacar empresas pequenas, médias ou grandes, com capacidade de concorrer no mercado global por preço, mas, mais importante, por se conseguirem afirmar pela inovação e qualidade, por uma boa relação produto-serviço, por se especializarem em nichos, ou demonstrarem maior capacidade de resposta rápida e flexibilidade.

Em que sectores da economia há mais capacidade para atrair investimento estrangeiro?

Pode haver oportunidades de atrair investimento estrangeiro muito diversificadas. Na bolsa, onde várias empresas estão subvalorizadas. Mas também na agricultura, em sectores de serviços às empresas, de transportes e logística, no imobiliário, turismo e num conjunto amplo de sectores industriais. Os exemplos da IKEA, na produção de mobiliário, ou da Embraer, na aeronáutica, mostram o amplo leque de áreas onde pode haver oportunidades.

E o investimento nacional? Para onde deve direccionar-se?

Claramente deve direccionar-se para produzir para o exterior. Tanto em novos projectos com vista ao mercado global como, dentro das empresas que já existem, o reforço das competências de internacionalização.

Que podem as empresas fazer para contrariar o ambiente desfavorável ao investimento?

As empresas devem centrar-se em fazer alterações ao seu funcionamento, com forte impacto nos custos ou no alargamento do seu mercado. Devem cooperar mais umas com as outras, procurando sinergias, reduzindo custos e riscos de operação. Em particular os associados ao processo de internacionalização. Há exemplos muito interessantes como o da pera rocha, em que a cooperação entre produtores permitiu valorizar o produto e aumentar as exportações, mesmo num momento de crise. As PME devem também aproveitar a crise para renovar os quadros de pessoal. Até há bem pouco tempo teriam grandes dificuldades em atrair bons jovens profissionais, com competências determinantes para a expansão internacional das suas vendas. A infeliz situação do mercado de trabalho cria aqui uma oportunidade de acesso a bons candidatos sem um forte impacto nos custos.

É possível o investimento recuperar com a torneira do crédito fechada?

É difícil, tanto nos casos em que está fechada, como nos casos em que está aberta mas a custos incomportáveis, em mercados em que as margens são curtas. O restabelecer do financiamento em condições mais favoráveis é essencial para a retoma.

Que deve o Governo fazer para puxar mais pelo investimento? A reforma fiscal será suficiente?

A descida da carga fiscal sobre as empresas pode dar um empurrão e é um sinal correcto. Mas não chega. A estabilidade e a previsibilidade fiscal é pelo menos tão importante como as taxas aplicadas. Portugal devia poder oferecer a quem quer investir no país contractos que as garantissem. É também importante retomar o trabalho que se tinha feito com o Simplex, de melhoria do ambiente de negócios. O Ministério da Economia parece empenhado em remover entraves às empresas, mas o Ministério das Finanças tem agido no sentido contrário. Simplificar a vida e apoiar as empresas é uma ideia que deve ser central na reforma do Estado. E é necessário actuar para facilitar o acesso ao crédito de empresas com bons projectos e capacidade para crescer.

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