A luz apaga-se e acende-se o medo

maioritelia

Sub-Administrador
Team GForum
Entrou
Ago 1, 2008
Mensagens
8,458
Gostos Recebidos
166
Os fantasmas, os bichos debaixo da cama, os monstros e os filmes de terror surgem com o aparecimento da escuridão.
O drama repete-se todas as noites. O Tiago tem seis anos e arranja todos os motivos para adiar a hora de ir para a cama. Nem as sucessivas chamadas de atenção da mãe são suficientes para o convencer. Atrasa os trabalhos de casa, demora a jantar, leva muito tempo para escovar os dentes... Tudo serve de motivo para ir dormir cada vez mais tarde. O Tiago, como tantas outras crianças, sofre de medo do escuro.

«Todos nós, em determinada altura da nossa infância, tivemos medo do escuro ou pedimos aos nossos pais para deixar a luz do corredor ou do quarto acesa», afirma Ana Vasconcelos, pedopsiquiatra e Presidente da Sociedade Portuguesa de Psicoterapia Psicanalítica. O medo do escuro deve ser encarado com «bom senso». É normal que o seu filho se queixe desta inquietação. «A criança sente este medo quando fica sozinha consigo mesma. Isto significa que vai ficar só, sem a televisão a encher-lhe a cabeça de imagens.» De onde vem o medo?

As crianças que se sentem inquietas com a escuridão «são aquelas que mais filmes fazem na sua cabeça e que têm uma enorme imaginação visual». Quando a luz se apaga, o «aparelho psíquico das imagens que vem do exterior é desocupado». É nesta altura que as crianças «se vão ocupar com imagens que vêm do seu interior».

Apesar da noite ser boa conselheira, pode também trazer à tona as preocupações do dia-a-dia. Todos nós já passámos por momentos destes ou já sofremos terríveis insónias por estarmos demasiado ocupados com os nossos problemas. «Os nossos filmes interiores são, geralmente, muito angustiantes. Os miúdos transformam-se em autênticos realizadores de filmes de terror».

O medo do escuro surge normalmente «quando a criança consegue fazer representações mentais com imagens», o que equivale ao primeiro ano e meio de idade. Não há uma idade específica para que este medo desapareça e até «é muito comum que o medo do escuro se prolongue durante a vida adulta. É por isso normal que muitos idosos prefiram estar acompanhados do som da televisão, mesmo que não estejam atentos à mesma».É frequente aparecerem crianças nas consultas da pedopsiquiatra Ana Vasconcelos com «terrores sem nome. Estes são os tipos de medo mais graves». Durante a noite, este sentimento é agudizado.«É antes de adormecer que vamos organizar os momentos mais complicados do dia, através das várias fases do sono que estão já muito bem caracterizadas.»

Os miúdos que se queixam de medo do escuro acordam regularmente muito cansados, «tipicamente rabugentos» porque as suas fases do sono «estão extremamente diminuídas. O seu sono não é organizador mas desgastante». O terror nocturno não é o mesmo que o típico pesadelo. «Este tipo de terrores surge quando a criança acorda completamente em pânico, não reconhece ninguém e fica numa situação em que está semi-acordada e semi-adormecida.

O pesadelo é diferente pois é associado a imagens bem definidas». Este tipo de angústia vai fazer com que as crianças adiem cada vez mais a hora de ir dormir. «São aqueles miúdos que se deitam muito tarde e que arranjam muitas coisas para fazer para adiar o momento em que têm de se deitar porque isso será muito angustiante para eles», diz-nos Ana Vasconcelos. Por outro lado, actualmente, são muitas as crianças que adormecem a ver televisão, como forma de «ocupar a sua mente com imagens».

sp.
 
Topo