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Moradores rompem com bloqueios e manifestações alastram-se pela China
Centenas de grupos de moradores em Pequim estão a sair dos seus condomínios, rompendo de facto com as medidas de prevenção epidémica vigentes na China, enquanto manifestações se alastram por várias cidades do país asiático.
"As pessoas, simplesmente, estão a desobedecer", descreveu à agência Lusa Fabian Kratschmer, um jornalista alemão radicado na capital da China. "Parece que atingimos um ponto de inflexão na estratégia 'zero covid'", observou.
Vários testemunhos ouvidos pela agência Lusa relataram experiências semelhantes: grupos de moradores por toda a cidade organizaram-se e exigiram aos respetivos comités dos seus bairros que apresentassem uma ordem, assinada pelo Governo, a ordenar o bloqueio, e a respetiva base legal para as medidas.
Em vários bairros, os moradores derrubaram as chapas metálicas, desbloqueando efetivamente as suas áreas de residência.
Os Comités de Bairro são o nível mais baixo da burocracia chinesa, em que o Partido Comunista Chinês (PCC) confia para difundir diretrizes e propaganda a nível local, e até mesmo para a resolução de disputas pessoais.
A mobilização destas organizações como "guardiões das comunidades", no combate da China contra a covid-19, expandiu os seus poderes, resultando muitas vezes em abusos de autoridade, medidas arbitrárias, e muitas vezes contraditórias, face às diretrizes emitidas pelas autoridades de saúde.
Em Pequim, o efeito dominó começou no sábado, à medida que foram surgindo vídeos de moradores a sair para as ruas, contrariando as ordens dos comités.
As medidas de prevenção epidémica da China são as mais restritivas do mundo, ao abrigo da política de 'zero casos' de covid-19. A estratégia inclui o isolamento de todos os casos positivos e contactos próximos, o bloqueio de bairros ou cidades inteiras e a realização constante de testes em massa.
Não há relatos de confrontos violentos na capital chinesa.
No entanto, em Cantão, a maior cidade do sul da China, o distrito de Haizhu tem sido palco de violentos confrontos entre trabalhadores migrantes e forças de segurança. Na cidade de Zhengzhou, no centro do país, milhares de trabalhadores numa fábrica da Foxconn, o grupo que monta os iPhone da norte-americana Apple, episódios de violência entre operários e forças de segurança irromperam também na semana passada.
"Vivo na China há 30 anos e nunca vi uma expressão de raiva tão descarada contra o Governo", descreveu David Moser, sinologista norte-americano radicado em Pequim. "Trata-se de um teste sério para a governação do PCC", notou.
Também nas cidades de Xangai, Nanjing e Urumqi, manifestações pacíficas irromperam contra as restrições impostas no país, suscitadas por um incêndio em Urumqi, que resultou em dez mortos. Imagens difundidas nas redes sociais mostram que o camião dos bombeiros não conseguiu entrar inicialmente no bairro, já que o portão de acesso estava trancado, e que os moradores também não conseguiram escapar do prédio, cuja porta estava bloqueada, em resultado das medidas de prevenção epidémica.
Em Urumqi, grupos de manifestantes cantaram "Aqueles de vós que se recusam a ser escravos, ergam-se" - um verso do hino nacional chinês -- e gritaram "queremos liberdade", apelando para o fim dos testes em massa e dos códigos QR, uma versão bidimensional do código de barras colocado na entrada de todos os edifícios, assim como nos transportes públicos ou táxis. O acesso a locais públicos ou residenciais depende da digitalização destes códigos com uma aplicação instalada no telemóvel.
A indignação inundou também as redes sociais do país, apesar do aparelho de censura se esforçar por apagar vídeos e mensagens de protesto difundidos pelos internautas.
"Podemos finalmente ver que há sangue na guelra da juventude chinesa", comentou Song Mei, chinesa natural de Pequim, à Lusa. "Ainda há esperança para este país", disse.
De acordo com o portal especializado What's On Weibo, numerosos utilizadores da rede social Weibo - o equivalente ao Twitter, que está censurado no país - expressaram apoio à vigília, mas, sobretudo, pediram aos participantes que se protegessem, antes que os censores da plataforma proibissem os comentários.
O mesmo portal avançou que, numa universidade em Nanjing, leste da China, os estudantes reuniram-se no 'campus', no sábado à noite, e acenderam as luzes dos telemóveis, numa vigília em memória dos mortos em Urumqi.
Noutra universidade, neste caso em Xian, centro do país, uma cidade que também passou por duros bloqueios, um grupo de estudantes saiu ao 'campus' para mostrar a sua insatisfação com as medidas de confinamento.
De acordo com dados da Comissão Nacional de Saúde, a China somou, nas últimas 24 horas, quase 40.000 novos casos de covid-19, um novo recorde diário. A amplitude geográfica dos casos é também inédita, afetando dezenas de cidades por todo o país em simultâneo.
Isto coincide com a realização do Mundial. O evento desportivo, acompanhado por dezenas de milhões de chineses, evidenciou para muitos o contraste entre o país e o resto do mundo, dando origem ao tema #SeráQueEstamosNoMesmoPlaneta nas redes sociais chinesas.
Muitos chineses, até então limitados à informação vinculada pelos órgãos oficiais, que continuam a descrever o mundo exterior como "devastado pelo vírus", em contraposição com uma China "segura", revelaram-se estupefactos com a ausência de regras de distanciamento social e adeptos sem máscaras.
"O Mundial arrancou e Pequim está em silêncio absoluto", descreveu Jessica, uma hospedeira de bordo chinesa a residir na capital da China, num comentário difundido na rede social WeChat, durante a cerimónia de abertura do Mundial. "Sinto-me como se estivesse no fundo de um poço, a contemplar um mundo maravilhoso, com o qual não posso interagir", acrescentou. "Qual é então o propósito de viver?", questionou.
'Zero casos'. Imagens mostram manifestantes em embaixadas de Pequim
Cerca de mil pessoas protestaram, este domingo, junto à zona das embaixadas em Pequim, contra as restritivas medidas de prevenção contra a Covid-19 vigentes na China, enquanto alguns manifestantes criticaram diretamente a governação do Partido Comunista Chinês.
"Não queremos mais bloqueios, queremos ser livres", gritaram os manifestantes, condenando ainda a realização quase diária de testes PCR em massa, no âmbito da estratégia de 'zero casos' de Covid-19 imposta pelo Governo chinês.
Os protestos ocorreram em Liangmaqiao, junto da zona das embaixadas e do terceiro anel, uma das circunvalações de Pequim.
A maioria dos manifestantes era constituída por jovens, que exibiam folhas de papel em branco, numa crítica implícita à censura exercida pelo regime chinês, que apaga das redes sociais comentários críticos e vídeos e fotografias suscetíveis de denegrir a sua imagem.
As palavras de ordem foram sobretudo dirigidas à estratégia chinesa de 'zero casos' de Covid-19, que inclui o bloqueio de bairros e cidades inteiras, por vezes ao longo de meses, e a realização constante de testes PCR em massa.
No entanto, a agência Lusa testemunhou também críticas diretas ao Partido Comunista (PCC), partido único do poder na China, desde a fundação da República Popular, em 1949.
Sob a presidência do atual líder chinês, Xi Jinping, o PCC assumiu, nos últimos anos, um controlo quase absoluto sobre a sociedade, ensino ou produções artísticas da China. Xi obteve, no mês passado, um terceiro mandato, cimentando o seu estatuto como um dos líderes mais fortes na História moderna da China.
"A China é um país e não um partido", lançou uma manifestante. "A China pertence ao seu povo, e não a eles", atirou outro, erguido em cima de um muro, com o punho no ar, arrancando aplausos dos manifestantes.
Os protestos começaram com uma vigília com velas e flores, organizada em memória das vítimas do incêndio na cidade de Urumqi, que resultou em dez mortos. Os manifestantes começaram, a seguir, a marchar pelas ruas circundantes, tendo sido circundados mais tarde por centenas de agentes da polícia.
Não houve registos de confrontos entre manifestantes e membros das forças de segurança.
Imagens difundidas nas redes sociais do incêndio em Urumqi mostram que o camião dos bombeiros não conseguiu entrar inicialmente no bairro, já que o portão de acesso estava trancado, e que os moradores também não conseguiram escapar do prédio, cuja porta estava bloqueada, em resultado das medidas de prevenção epidémica.
Ao abrigo da política de 'zero casos' de Covid-19, a China impõe o bloqueio de bairros ou cidades inteiras, a realização constante de testes em massa e o isolamento de todos os casos positivos e respetivos contactos diretos em instalações designadas, muitas vezes em condições degradantes.
Os protestos em Pequim surgem após manifestações semelhantes em várias cidades do país, incluindo Xangai, Nanjing e Urumqi.
Em Urumqi, grupos de manifestantes cantaram "Aqueles de vós que se recusam a ser escravos, ergam-se" - um verso do hino nacional chinês -- e gritaram "queremos liberdade", apelando para o fim dos testes em massa e dos códigos QR, uma versão bidimensional do código de barras colocado na entrada de todos os edifícios, assim como nos transportes públicos ou táxis. O acesso a locais públicos ou residenciais depende da digitalização destes códigos com uma aplicação instalada no telemóvel.
Em Xangai, vários manifestantes lançaram palavras de ordem contra o Presidente chinês e o Partido Comunista: "Xi Jinping! Vai-te embora! PCC! Vai-te embora".
"Podemos finalmente ver que há sangue na guelra da juventude chinesa", comentou Song Mei, chinesa natural de Pequim, à Lusa. "Ainda há esperança para este país", atirou.
Amnistia Internacional pede à China contenção perante os protestos
A Amnistia Internacional pediu, este domingo, às autoridades da China para que se contenham perante os protestos contra as restritivas medidas de prevenção da Covid-19.
"Em vez de penalizar o povo, o governo deveria ouvir os seus apelos. As autoridades devem permitir que as pessoas expressem os seus pensamentos livremente e protestem pacificamente sem medo de represálias", afirmou a subdiretora regional da organização de defesa dos direitos humanos, Hana Young.
Cerca de mil pessoas protestaram, este domingo, junto à zona das embaixadas em Pequim, contra as restritivas medidas de prevenção da Covid-19 vigentes na China, enquanto alguns manifestantes criticaram diretamente a governação do Partido Comunista Chinês.
Os protestos começaram com uma vigília com velas e flores, organizada em memória das vítimas de um incêndio na cidade de Urumqi, que causou dez mortos. A Amnistia pediu ao Governo chinês uma investigação "rápida, efetiva e exaustiva" ao sucedido.
Imagens difundidas nas redes sociais do incêndio em Urumqi mostram que o camião dos bombeiros não conseguiu entrar inicialmente no bairro, já que o portão de acesso estava trancado, e que os moradores também não conseguiram escapar do prédio, cuja porta estava bloqueada, em resultado das medidas de prevenção epidémica.
Ao abrigo da política de 'zero casos' de Covid-19, a China impõe o bloqueio de bairros ou cidades inteiras, a realização constante de testes em massa e o isolamento de todos os casos positivos e respetivos contactos diretos em instalações próprias, muitas vezes em condições degradantes.
Apesar das medidas, o número de contágios tem aumentado.
Os protestos em Pequim aconteceram após manifestações semelhantes em várias cidades do país, incluindo Xangai, Nanjing e Urumqi.
Segundo a Amnistia Internacional, dezenas de pessoas foram detidas nos protestos noturnos de sábado e uma mulher foi detida em Urumqi por "difundir rumores".
Polícia chinesa detém 2 pessoas em Xangai, após protestos
A polícia chinesa deteve hoje duas pessoas em Xangai, onde manifestantes protestaram no fim de semana contra as restrições sanitárias de resposta à covid-19 e exigiram mais liberdades.
Um agente disse, à agência de notícias France-Presse (AFP), que uma das duas pessoas "não tinha obedecido a ordens" policiais, remetendo para as autoridades locais quaisquer pormenores sobre as detenções.
De acordo com um repórter da AFP, os agentes estavam também a retirar outras pessoas do local e a ordenar que apagassem imagens dos telemóveis.
No domingo, várias pessoas protestaram contra a rígida política "zero-covid" da China, em vigor há quase três anos, mas também para exigir mais liberdade política.
Houve confrontos com a polícia e muitas pessoas foram detidas, avançou a AFP, que indicou não ter obtido, até agora, uma resposta da polícia de Xangai sobre o número de detenções efetuadas no domingo.
As ruas foram fechadas no domingo à noite, depois dos protestos, e foram reabertas esta manhã (hora local) com menor presença da polícia, mas com cercas azuis colocadas ao longo dos passeios para evitar mais aglomerações.
No domingo, , em resposta aos apelos feitos nas redes sociais, manifestantes saíram à rua em várias cidades chinesas, além de Xangai, como Pequim, Nanjing e Urumqi, para protestar contra as medidas de prevenção e controlo da covid-19.
Nos protestos, ouviram-se 'slogans' antigovernamentais, numa rara demonstração de hostilidade contra o regime e a rigorosa política "zero covid", aplicada desde o início da pandemia, em 2020.
Ao abrigo daquela política, a China impõe o bloqueio de bairros ou cidades inteiras, a realização constante de testes em massa e o isolamento de todos os casos positivos e respetivos contactos diretos em instalações designadas, muitas vezes em condições degradantes.
Jornalista da BBC "espancado pela polícia" ao cobrir protestos em Xangai
Um jornalista da BBC foi "espancado e pontapeado pela polícia", antes de ser detido, em Xangai, no domingo, enquanto cobria um dos protestos contra medidas de prevenção da covid-19 impostas na China.
Aemissora pública britânica, através de um porta-voz, mostrou-se "muito preocupada" ao confirmar que o repórter de imagem Edward Lawrence "foi atacado" em Xangai no domingo, como demonstram imagens partilhadas nas redes sociais, nas quais se vê agentes da policia a arrastarem o jornalista algemado pelo chão.
"É muito preocupante que um dos nossos jornalistas tenha sido atacado desta maneira no desempenho das suas funções", acrescentou o porta-voz, em declarações à estação de rádio britânica LBC, citadas pela agência de notícias Europa Press.
A BBC criticou o facto de não ter recebido nenhuma explicação oficial nem um pedido de desculpas por parte das autoridades, "além de uma declaração de que ele teria sido detido para seu próprio bem, caso fosse contagiado com o coronavírus no meio da multidão".
"Não consideramos uma explicação credível", afirmou o porta-voz da BBC.
Edward Lawrence, que trabalha na delegação da BBC em Pequim, viajou para Xangai para cobrir os protestos dos últimos dias.
As medidas de prevenção epidémica da China são as mais restritivas do mundo, ao abrigo da política de 'zero casos' de covid-19. A estratégia inclui o isolamento de todos os casos positivos e contactos próximos, o bloqueio de bairros ou cidades inteiras e a realização constante de testes em massa.
Nos últimos dias, manifestações contra as restrições espalharam-se por grandes cidades da China como Pequim, Xangai e Nanjing.
Os protestos intensificaram-se na quinta-feira, após a morte de dez pessoas num incêndio num edifício alvo de confinamento em Urumqi.
De acordo com o jornalista agredido, em publicações partilhadas na sua conta no Twitter, a polícia bloqueou estradas e não deixava passar as pessoas, depois de a multidão ter aumentado.
"Vi a polícia a deter três pessoas, duas das quais confrontaram os agentes. Há uma tensão silenciosa até alguém gritar, depois a multidão canta e aplaude em sinal de apoio", explicou, depois de assinalar que os protestos eram pacíficos e com grande controlo policial.
A capital chinesa, que tem estado especialmente protegida contra surtos desde 2020, está agora a experimentar os níveis mais elevados de contágio: de acordo com o último relatório oficial, mais de 4.300 novos casos foram detetados no sábado, 82% dos quais assintomáticos.
Estes números, baixos pelos padrões internacionais, mas intoleráveis para as autoridades chinesas, resultaram em restrições e confinamentos que afetam uma grande parte da população da capital.
De acordo com dados da Comissão Nacional de Saúde, a China bateu no sábado o número recorde de infeções, detetando quase 40.000 novos casos, embora mais de 90% se tratem de casos assintomáticos.
Os números oficiais mostram que cerca de 1,8 milhões de pessoas estão atualmente sob quarentena, uma vez que a diretriz é transferir os casos - incluindo assintomáticos - e também, mas separadamente, aqueles que tiveram em contacto com os infetados, para hospitais ou centros de isolamento.
China diz que repórter da BBC preso "não se identificou como jornalista"
A China disse hoje que o jornalista da BBC, detido no domingo, durante um protesto em Xangai, não se identificou como jornalista, após a cadeia televisiva britânica ter revelado que um dos seus colaboradores foi preso e "espancado" pela polícia.
"De acordo com aquilo que nos foi transmitido pelas autoridades competentes em Xangai, ele não se identificou como jornalista e não apresentou voluntariamente as suas credenciais de imprensa", disse Zhao Lijian, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, apelando à imprensa estrangeira que "respeite as leis e regulamentos chineses enquanto estiverem na China".
A televisão pública britânica, através de um porta-voz, mostrou-se "muito preocupada", no domingo, ao confirmar que o repórter de imagem Edward Lawrence "foi atacado" em Xangai, como demonstram imagens partilhadas nas redes sociais, nas quais se veem agentes da policia a arrastarem o jornalista algemado pelo chão.
O jornalista da BBC foi "espancado e pontapeado pela polícia", antes de ser detido, enquanto cobria um dos protestos contra as medidas de prevenção epidémica vigentes na China.
Pequim cercado para impedir protestos contra restrições severas
Viaturas policiais e patrulhas em grande número, associadas à rede de câmaras de vigilância, foi a forma como as autoridades de Pequim conseguiram hoje impedir qualquer nova manifestação contra as restrições de combate à pandemia de covid-19.
No domingo à noite, centenas de pessoas, sobretudo entre os 18 e os 35 anos, realizaram uma manifestação -- coisa muito incomum em Pequim -- nas margens do canal de Liangma, um local ladeado de árvores, onde as pessoas habitualmente passeiam.
Pacificamente, os manifestantes colocaram à sua frente folhas brancas de formato A4 para representar a censura, cantaram o hino nacional e repetiram palavras de ordem contra as restrições impostas pelas autoridades de Saúde chinesas, que os impedem de se deslocar livremente há quase três anos.
"Acompanhei isto nas redes sociais e quis vir ver. Por fim, há uma mobilização contra esta política de Saúde", declarou em voz baixa, junto ao canal, um quadragenário que solicitou o anonimato, citado pela agência noticiosa francesa AFP.
"Atualmente, os jovens estão preocupados. O preço da habitação tornou-se quase inacessível, eles não sabem se conseguirão arranjar trabalho. Estas restrições de combate à covid-19 aumentam a sua frustração", explicou.
"Com toda esta política de Saúde, é como se se tivesse colocado uma tampa sobre a China. Estamos a tornar-nos alvo de troça do mundo, não é?", acrescentou.
Em ambas as margens do canal, os polícias efetuavam patrulhas, aos pares ou em grupos de três, mais ou menos de cinco em cinco minutos, de forma bem visível, envergando as suas fardas azuis escuras. Outros postaram-se à entrada das ruas adjacentes.
Nas imediações, estavam estacionados cerca de 20 veículos ou carrinhas da polícia, alguns equipados com câmaras, tornando qualquer concentração de pessoas quase impossível.
"Emocionou-me o que estes jovens fizeram ontem (domingo). Eles estão a defender os seus direitos, eu apoio-os", afirmou uma mulher na faixa dos 30 que aproveitava hoje a calma à beira do canal, apesar da chuva miúda e da temperatura de apenas quatro graus centígrados.
"Acho que eles se sentiram inspirados pelo acontecimento de outubro", observou, quando um cidadão anónimo pendurou numa ponte de Pequim duas faixas contra a política de combate à pandemia e o Presidente chinês, Xi Jinping, antes de ser detido, logo a seguir.
Também ela tem motivos para se sentir frustrada: "O meu passaporte expirou há dois anos e as autoridades recusam-se a renovar-mo devido às restrições sanitárias. Nem sequer podemos ir para o estrangeiro. Mas onde havemos de viver?".
As autoridades chinesas já não emitem novos passaportes aos seus cidadãos, salvo em casos excecionais, como para ir visitar familiares próximos, continuar a estudar ou se é enviado para o estrangeiro em trabalho pela entidade patronal.
Um pouco mais à frente, uma jovem que veio correr junto ao canal disse ter acompanhado os acontecimentos da véspera nas redes sociais.
"Foi bom. Enviou um sinal de que as pessoas estão fartas das restrições demasiado rígidas", declarou, enquanto fazia alongamentos.
"Acho que o Governo entendeu a mensagem e vai aligeirar a política para dar, a si próprio e a toda a gente, uma saída", disse esperar.
Foi também o que afirmou o quadragenário: "Vemos os nossos dirigentes irem ao estrangeiro e não usarem máscara. Então, por que é que nós ainda temos que as usar aqui? É incompreensível!".
Outros locais politicamente sensíveis em Pequim, como a praça de Tiananmen, estavam hoje desertos. Nas imediações, numerosos polícias realizavam verificações de identidade -- mesmo aos ciclistas, algo que não é habitual.
Uma manifestação marcada para hoje à tarde na capital chinesa, perto da ponte onde foram colocadas as faixas de protesto, não se realizou também devido à forte presença policial.
Protestos contra restrições Covid-19 na China chegam a todo o mundo
Os protestos crescentes foram desencadeados por um incêndio na região de Xinjiang.
Os protestos contra a rígida política de Covid-19 da China e as restrições às liberdades espalharam-se para pelo menos uma dúzia de cidades em todo o mundo.
Segundo a Reuters, a demonstração de solidariedade de dissidentes e estudantes expatriados aconteceram em cidades da Europa, Ásia e América do Norte, incluindo Londres, Paris, Tóquio e Sydney.
Na maioria dos casos, os manifestantes não superavam a centena. Ainda assim, este é um raro exemplo de união e protesto por parte do povo chinês.
Os protestos crescentes foram desencadeados por um incêndio na região de Xinjiang, na China, na semana passada, que matou 10 pessoas que ficaram presas nos seus apartamentos. Os manifestantes alegam que as medidas restritivas são parte do problema, embora as autoridades neguem.
China. Aliança dos 'media' públicos condena ataques a jornalistas
A maior aliança mundial de meios de comunicação públicos, a União Europeia de Radiotelevisão (UER), condenou hoje os "ataques" a jornalistas que cobrem os protestos contra as restrições sanitárias na China.
Em comunicado, a organização sediada em Genebra "condena veementemente a intimidação intolerável e os ataques a jornalistas e equipas de produção de membros da UER na China".
A situação na China está a tornar-se "cada vez mais volátil" na sequência dos protestos dos opositores à estratégia de tolerância zero contra a covid-19, acusou a organização.
Eric Scherer, presidente do Comité de Notícias da UER, expressou a consternação da organização "com a notícia da detenção injustificada de vários jornalistas estrangeiros, oficialmente acreditados para trabalhar na China, no quadro das suas funções".
"Esperamos receber uma explicação oficial destes incidentes perturbadores por parte das autoridades competentes, a fim de entender como podemos continuar a garantir condições de trabalho seguras para os jornalistas sediados na China", disse.
De acordo com a BBC, um dos seus jornalistas que cobria os protestos históricos em Xangai foi detido e espancado, e um jornalista da emissora suíça RTS "foi assediado enquanto estava a transmitir um 'vivo'", disse a UER, referindo que outros jornalistas também foram ameaçados e alguns foram impedidos de entrar em antena ou de filmar.
"A agressão e intimidação de jornalistas pela polícia e outras autoridades na China é inaceitável e estes últimos incidentes marcam mais um golpe baixo", denunciou a diretora-adjunta Liz Corbin no comunicado.
"Apelamos urgentemente às autoridades chinesas para que respeitem os direitos dos jornalistas e dos membros da UER que vivem e trabalham na China para ajudar o público em países estrangeiros a compreender melhor o que se passa lá", disse.
A UER é a maior aliança de meios de comunicação públicos do mundo, contando com 112 organizações membro em 56 países e como 31 filiais na Ásia, África e Américas.
As manifestações contra as medidas de prevenção epidémica vigentes na China alastram por várias cidades e, no fim de semana, centenas de grupos de moradores em Pequim saíram dos seus condomínios, rompendo de facto com a imposição de medidas de confinamento.
Em alguns casos, os manifestantes lançaram palavras de ordem contra o líder chinês, Xi Jinping, e o Partido Comunista da China.
Ao abrigo da política de 'zero casos' de covid-19, a China impõe o bloqueio de bairros ou cidades inteiras, a realização constante de testes em massa e o isolamento de todos os casos positivos e respetivos contactos diretos em instalações designadas, muitas vezes em condições degradantes.
'Zero covid' desperta chineses para riscos de sistema autoritário
A sucessão de tragédias e casos de abuso da autoridade, no âmbito da estratégia 'zero covid', parecem ter despertado a população chinesa para os perigos de um sistema político sem limites de poder e mecanismos institucionais de responsabilização.
Os protestos que se alastraram este fim de semana por várias cidades chinesas foram suscitados por um incêndio mortal, num prédio na cidade de Urumqi, no noroeste da China. Imagens difundidas nas redes sociais mostram que o camião dos bombeiros não conseguiu entrar inicialmente no bairro, já que o portão de acesso estava trancado, e que os moradores também não conseguiram escapar do prédio, cuja porta estava bloqueada, em resultado das medidas de prevenção epidémica.
"Não é tanto pelos bloqueios em si", disse à agência Lusa a funcionária de uma empresa estatal chinesa que começou recentemente à procura de formas de emigrar. "É mais pela forma como o governo atua", apontou.
Numa manifestação ocorrida no domingo, em Pequim, as palavras de ordem foram sobretudo dirigidas às restritivas medidas de prevenção epidémica vigentes no país. No entanto, a agência Lusa testemunhou também críticas diretas ao Partido Comunista Chinês, partido único do poder na China, desde a fundação da República Popular, em 1949.
"A China é um país e não um partido", lançou uma manifestante. "A China pertence ao seu povo, e não a eles", atirou outro, erguido em cima de um muro, com o punho no ar, arrancando aplausos dos manifestantes.
Ao abrigo da política de 'zero casos', a China impõe o bloqueio de bairros ou cidades inteiras, a realização constante de testes em massa e o isolamento de todos os casos positivos e respetivos contactos diretos em instalações designadas, muitas vezes em condições degradantes, alertando muitos chineses para os perigos inerentes a um Estado com capacidade para abolir subitamente liberdades ou direitos individuais, sem limites ou mecanismos institucionais de responsabilização.
Quando um caso positivo é detetado num bairro ou edifício, os portões e portas de acesso são trancados, incluindo saídas de emergência. Frequentemente, os elevadores são também desativados e chapas de alumínio são colocadas em torno do prédio ou bairro, que passa a estar sob a vigilância de seguranças privados 24 horas por dia.
Funcionários de saúde e agentes de segurança, vestidos com fatos de proteção química e com a cara coberta por máscaras respiratórias, transportam os residentes que testaram positivo, incluindo assintomáticos, para centros de quarentena: instalações improvisadas, com as camas distribuídas num espaço comum, sem chuveiros, e com uma casa de banho para centenas ou até milhares de pessoas. Os contactos diretos são isolados em espaços individuais: hotéis ou contentores, muitas vezes a dezenas de quilómetros do seu local de residência.
A polícia arromba a porta de residentes que se recusam a ser levados, retirando-os à força dos seus apartamentos.
Os estrangeiros radicados no país asiático, comentam frequentemente que é difícil explicar a quem está de fora o que é um confinamento na China, numa referência à discrepância em relação às medidas de prevenção adoptadas no resto do mundo, em 2020 e 2021.
O Partido Comunista Chinês emitiu, este mês, directrizes que visam tornar a estratégia mais "direcionada" e "cientifica". No entanto, uma cultura de medo instalada na burocracia chinesa, que pode ser punida quando um surto ocorre na sua jurisdição, mas não por excesso de zelo, dificulta a suavização das medidas.
"As autoridades locais têm apenas uma métrica agora: 'zero covid'", resumiu o presidente da Câmara de Comércio da União Europeia na China, Joerg Wuttke, que vive no país há 40 anos. "Um funcionário do governo não perde o emprego se a economia na sua cidade afundar, mas sim se ocorrer um surto do coronavírus", descreveu à Lusa.
A mobilização dos Comités de Bairro como "guardiões das comunidades", no combate da China contra a covid-19, expandiu também os poderes no nível mais baixo da burocracia chinesa, resultando muitas vezes em abusos de autoridade e medidas arbitrárias e até contraditórias, face às diretrizes emitidas pelas autoridades de saúde.
Temendo o surgir de casos nas suas áreas, assim que é detetado um surto na cidade, estes comités colocam bairros sob bloqueio, mesmo sem ordem do Centro de Controlo de Doenças, a autoridade máxima responsável pela implementação de medidas. Estes mesmos comités prolongam também, por vezes, os bloqueios, para além daquilo que é o período previsto pelas diretrizes do Governo central.
"Senti-me sem esperanças", contou à Lusa uma residente de Xangai, que recusou ser identificada, no final de um bloqueio de dois meses na maior e mais cosmopolita cidade da China. "Um grupo de pessoas que nem sequer têm educação ou qualquer preparação subitamente passou a ter o poder de decidir sobre a minha liberdade", acrescentou.
A aplicação implacável de medidas resulta, por vezes, na escassez de alimentos e outros bens de primeira necessidade, e produz episódios trágicos.
Nos últimos meses, pelo menos duas crianças morreram, enquanto cumpriam quarentena, depois de lhes ter sido negado tratamento médico em tempo útil. Uma das crianças, um menino de três anos, morreu por envenenamento causado por uma fuga de monóxido de carbono em casa, na cidade de Lanzhou. O seu bairro estava sob bloqueio. O pai culpou os profissionais de saúde, que, segundo ele, impediram-no inicialmente de levar o filho para o hospital. Em setembro passado, um acidente de autocarro que levava 47 pessoas para cumprirem quarentena, no sudoeste da China, resultou na morte de 27 passageiros.
China. Principal órgão de segurança quer "repressão" das "forças hostis"
O principal órgão de segurança da China apelou hoje à "repressão" das "forças hostis", após os protestos dos últimos dias nas principais cidades chinesas contra as restrições sanitárias e limitações das liberdades individuais.
A Comissão de Assuntos Políticos e Jurídicos do Partido Comunista, no poder, entidade que supervisiona as autoridades policiais do país, disse ser "necessário reprimir as atividades de infiltração e sabotagem de forças hostis, de acordo com a lei".
Esta posição consta das atas de uma reunião, divulgada pela agência de notícias estatal Xinhua.
O texto considera fundamental "reprimir resolutamente e de acordo com a lei ações criminosas que procuram quebrar a ordem social e proteger com determinação a estabilidade social".
Em vigor há quase três anos, a política chinesa de 'covid zero' foi este fim de semana contestada em manifestações em várias cidades, no movimento de protesto mais generalizado desde as duras mobilizações pró-democracia reprimidas em 1989.
Um forte destacamento policial nas principais cidades do país, incluindo a capital que foi praticamente cercada, parece entretanto ter dissuadido os manifestantes desde segunda-feira, de acordo com jornalistas da AFP em Pequim e Xangai.
Ao abrigo da política de 'zero casos' de covid-19, a China impõe o bloqueio de bairros ou cidades inteiras, a realização constante de testes em massa e o isolamento de todos os casos positivos e respetivos contactos diretos em instalações designadas, muitas vezes em condições degradantes.
Covid-19. Universidades chinesas mandam estudantes para casa
Universidades chinesas estão a enviar estudantes para casa para tentar evitar mais manifestações de protesto contra as restrições anticovid, numa altura em que muitas cidades estão a pedir aos residentes que evitem viajar.
Algumas universidades providenciaram autocarros para transportar os estudantes às estações de comboios e anunciaram que as aulas e os exames finais serão feitos pela internet, segundo a agência norte-americana AP.
"Vamos providenciar [aulas e exames 'online'] aos estudantes dispostos a regressar às suas cidades de origem", disse a Universidade Florestal de Pequim no seu portal na internet.
Esta universidade disse que o seu corpo docente e os estudantes foram testados ao vírus SARS-CoV-2, que provoca a doença da covid-19, sem registo de qualquer infeção.
A Universidade de Tsinghua, 'alma mater' do Presidente Xi Jinping, onde estudantes protestaram no domingo, e outras escolas em Pequim e na província de Guangdong (sul, adjacente a Macau e a Hong Kong) disseram que estavam a proteger os estudantes da covid-19 ao enviá-los para casa.
Mas a sua dispersão para as remotas cidades de origem reduz também a probabilidade de mais ativismo após os protestos nas universidades no fim de semana passado.
O vírus da covid-19 foi detetado pela primeira na cidade de Wuhan (centro) no final de 2019, e a sua disseminação global levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma pandemia em 11 de março de 2020, declaração que ainda está em vigor.
A doença -- que se manifesta principalmente por uma infeção respiratória grave, mas com muitas consequências ainda em estudo -- matou mais de 6,6 milhões de pessoas a nível mundial, em mais de 640 milhões de casos de infeção com o vírus SARS-CoV-2.
Para tentar travar a pandemia, foram administradas mais de 13.000 milhões de vacinas em todo o mundo, segundo dados da universidade norte-americana Johns Hopkins.
Apesar de ser o país mais populoso do mundo, com mais de 1.450 milhões de habitantes, a China registou apenas 15.970 mortes atribuídas à covid-19 em mais de 3,6 milhões de casos de infeção, segundo os dados da Johns Hopkins.
Foram também administradas mais de 3.460 milhões de vacinas contra a covid-19 no país asiático.
O Governo chinês adotou, desde o início da pandemia, a política "zero covid", que tem implicado medidas draconianas para isolar cidades inteiras com milhões de habitantes e severas restrições à circulação de pessoas no país.
Os confinamentos têm abrandado tudo na China, desde as viagens ao tráfego retalhista, até à venda de automóveis na segunda maior economia do mundo.
Nas últimas semanas, surgiram protestos contra as medidas em algumas zonas da China, que se agravaram nos últimos dias, depois de 10 pessoas terem morrido num incêndio num edifício em Urumqi, a capital da região ocidental de Xinjiang, na quinta-feira passada.
Vídeos que circularam nas redes sociais pareceram mostrar que as medidas anticovid atrasaram o socorro às vítimas, provocando a ira de muitos chineses, que chegaram a pedir a demissão de Xi em protestos realizados em pelo menos oito cidades, incluindo Pequim e Xangai.
O recente congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) consagrou um terceiro mandato consecutivo de Xi, pondo termo à rotatividade na liderança que se seguiu aos 27 anos no poder de Mao Tsé-Tung, desde que fundou a República Popular da China, em 1949, até à sua morte, em 1976.
Apesar de os protestos serem frequentes na China, as manifestações contra as medidas anticovid estão a ser consideradas como as mais expressivas em décadas, depois do movimento a favor de reformas democráticas de 1989.
As universidades foram o foco do ativismo desse movimento centrado na Praça de Tiananmen, ou Praça da Paz Celestial, em Pequim, que foi esmagado pelo exército chinês.
Num aparente esforço para responder aos protestos do fim de semana, as autoridades aliviaram algumas das medidas na segunda-feira, embora refirmando a estratégia "zero covid".
Segundo a AP, não houve notícias de protestos hoje em Pequim, Xangai ou outras grandes cidades.
O perito em política chinesa da Universidade de Chicago Dali Yang disse à AP que as autoridades esperam "aliviar a situação" ao enviar os estudantes para casa.
Segundo referiu, o confinamento dos estudantes às universidades destruiu perspetivas de emprego e de negócios, e gerou frustrações que agora se manifestam pela contestação.
"Tem havido uma certa ansiedade", disse Yang.
Numa entrevista à AP divulgada hoje, a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, defendeu que a China deve mudar a sua política para conter a pandemia "sem custos económicos significativos".
Georgieva também exortou a China a analisar as políticas de vacinação e a concentrar-se na vacinação das "pessoas mais vulneráveis".
Uma baixa taxa de vacinação entre os idosos é uma das principais razões dos confinamentos, a par do surgimento de variantes mais contagiosas do vírus.
Maior cidade do sul da China volta a ser palco de confrontos violentos
Cantão, a maior cidade do sul da China, voltou hoje a registar confrontos violentos entre manifestantes e agentes da polícia, depois de um fim de semana marcado por manifestações em todo o país contra a estratégia 'zero covid'.
Os vídeos mostram manifestantes a arremessar garrafas de vidro e barras metálicas contra as forças de segurança, que surgem a marchar em fileiras, protegidos por escudos antimotim transparentes.
As cenas foram registadas no distrito de Haizhu, que foi alvo nas últimas semanas de confrontos violentos entre grupos de trabalhadores migrantes, oriundos de zonas rurais pobres, e as forças de segurança. O distrito está sob um bloqueio altamente restritivo há várias semanas, no âmbito da estratégia de 'zero casos' de covid-19 vigente na China.
Um outro vídeo mostra dezenas de indivíduos algemados a serem detidos pela polícia.
A China aumentou a presença policial nas principais cidades, na sequência de manifestações que ocorreram no último fim de semana contra as medidas altamente restritivas de prevenção contra a covid-19.
As manifestações foram suscitadas por um incêndio mortal, num prédio na cidade de Urumqi, no noroeste do país. Os manifestantes disseram que os bloqueios no bairro, no âmbito das medidas de prevenção epidémica, atrasaram o acesso do camião dos bombeiros. Os moradores também não conseguiram escapar do prédio, cuja porta estava bloqueada.
No entanto, os protestos, numa escala inédita no país desde as manifestações pró-democracia de 1989, são apenas o culminar de meses de crescente descontentamento popular.
Ao abrigo da política de 'zero casos', a China impõe o bloqueio de bairros ou cidades inteiras, a realização constante de testes em massa e o isolamento de todos os casos positivos e respetivos contactos diretos em instalações designadas, muitas vezes em condições degradantes.
No distrito de Haizhu, em Cantão, vivem mais de 1,8 milhão de pessoas. No início de novembro, os manifestantes de um bairro tinham já derrubado um veículo da polícia e as barreiras colocadas em torno das suas áreas de residência, levando à intervenção da polícia de choque.
Jovens chineses querem "lutar por vida melhor", afirma líder de Tiananmen
Um dos protagonistas do movimento estudantil de Tiananmen em 1989 disse hoje que os jovens chineses saíram à rua não para exigir democracia, ou mais liberdade, mas sim para "lutar por uma vida melhor".
Em Tóquio, Wang Dan admitiu que os recentes protestos contra as rígidas restrições de prevenção e controlo da covid-19 "trouxeram à memória" as manifestações pró-democracia na praça Tiananmen, em Pequim, reprimidas pelo exército em 04 de junho de 1989.
No entanto, o dissidente no exílio sublinhou que os jovens chineses não estão preocupados com "ideias abstratas, como direitos humanos ou democracia", mas "foram obrigados a lutar por uma vida melhor" face à "estagnação económica".
Os manifestantes acusam Pequim de não traçar um caminho de saída da política 'zero covid', que implicou confinamentos forçados de milhões de pessoas, afetando profundamente a economia.
Wang disse, num fórum do clube de correspondentes estrangeiros do Japão, que a principal exigência dos protestos é "uma mudança sistémica": o afastamento do líder, Xi Jinping, ou uma reforma do Partido Comunista Chinês, que governa o país desde 1949.
As manifestações começaram no fim de semana, na sequência da morte de dez pessoas num incêndio, em Urumqi, capital de Xinjiang, cujo socorro foi alegadamente prejudicado pelas medidas restritivas à circulação na região do noroeste da China.
Mas para o dissidente, os protestos surgiram porque a classe média, "o maior apoio do Partido Comunista nos últimos 30 anos", já estava "muito desiludida com as políticas de Xi Jinping" e "perdeu a esperança" com a reeleição do líder para um terceiro mandato, em outubro.
Com as restrições impostas devido à pandemia, os chineses "perceberam que nem eles, nem a sua propriedade, nem o seu dinheiro estão seguros", defendeu Wang. "Foi por isso que tantos começaram a fugir da China. Os que não podem fugir vieram agora para as ruas", acrescentou.
Em junho, o termo chinês 'runxue', ou "planear a fuga", tornou-se viral nas redes sociais do país, com muitos chineses a demonstrarem vontade de emigrar, devido à crise no imobiliário e à política 'zero covid'.
Na quarta-feira, as autoridades levantaram parcialmente as restrições em várias zonas das cidades de Cantão (sudeste) e Zhengzhou (centro-leste), apesar de a China ter registado nas últimas 24 horas o maior número de novas infeções desde o início da pandemia: cerca de 35.800.
Wang Dan disse acreditar que o Governo vai "primeiro tentar acalmar a situação, mas apenas a curto prazo. Assim que os estudantes voltarem a casa, a política irá regressar e novos protestos poderão acontecer".
Na terça-feira, universidades chinesas ordenaram aos estudantes que regressem a casa, alegadamente para os proteger do novo coronavírus.
O dissidente disse recear que, em caso de novos protestos, Xi Jinping irá usar o exército para "uma repressão brutal", semelhante à de 1989, usando como "desculpa" uma alegada influência de "forças externas".
Pequim acusou os manifestantes de trabalharem para "forças estrangeiras", uma referência às alegações de longa data de que Washington e outros governos ocidentais tentam sabotar a ascensão económica e política da China.
Ainda assim, Wang Dan disse acreditar que o país "está a entrar numa nova era". Os protestos "continuam, sobretudo na Internet", graças a jovens que "aprenderam as lições" do movimento pró-democracia em Hong Kong, em 2019, disse.
Em comparação com 1989, o regime de Pequim tem agora "mais ferramentas de repressão", lembrou o dissidente chinês, para sublinhar: "os jovens chineses são muito, muito mais corajosos do que nós".
Várias cidades da China relaxam medidas de prevenção epidémica
Várias cidades chinesas estão a abolir algumas medidas de prevenção contra a Covid-19, sinalizando o fim gradual da estratégia 'zero casos', que manteve o país isolado durante quase três anos e afetou a economia.
O levantamento das restrições está a ser feito de forma informal, já que o Comité Permanente do Politburo, a cúpula do poder na China, não fez qualquer anúncio. A vice-primeira-ministra chinesa Sun Chunlan, encarregada da estratégia 'zero Covid', afirmou apenas, na semana passada, que a baixa virulência do vírus e a alta taxa de vacinação entre a população "criaram condições" para o país "ajustar as medidas contra a pandemia", já que se encontra agora "numa nova situação".
Em Pequim, duas pessoas que testaram positivo para a covid-19 contaram à agência Lusa que o resultado do teste PCR não foi atualizado no código de saúde, a aplicação utilizada na China para aceder a locais públicos ou residenciais. Os dois residentes apuraram que estavam infetados após realizarem testes rápidos em casa, depois de terem sentido sintomas de infeção pelo novo coronavírus.
Até há uma semana, quem testava positivo para a covid-19 era levado para isolamento num centro de quarentena: instalações improvisadas, com as camas distribuídas num espaço comum, sem chuveiros, e com uma casa de banho para centenas ou até milhares de pessoas. Os contactos diretos eram isolados em espaços individuais: hotéis ou contentores.
Qualquer condomínio onde fossem diagnosticados casos era colocado sob bloqueio durante pelo menos uma semana.
Shenzhen e Xangai, duas das principais cidades do país, deixaram também, a partir de hoje, de exigir que os passageiros apresentem resultados de testes PCR para entrar em transportes públicos.
Vários centros comerciais e edifícios de escritórios, no entanto, continuam a exigir a apresentação de resultado negativo num teste para o coronavírus feito nas 48 horas anteriores. Dezenas de cidades do país continuam, também, sob bloqueios rigorosos.
Cidades na província costeira de Zhejiang (leste), como Ningbo ou Hangzou, anunciaram também que o teste de PCR com resultado negativo não é mais obrigatório para aceder a transportes e entrar em locais públicos, a partir de hoje.
As autoridades de Ningbo declararam que não vai ser mais necessário digitalizar o código QR, uma versão bidimensional do código de barras, colocado na entrada de todos os edifícios, assim como nos transportes públicos ou táxis, uma prática comum no país asiático há quase dois anos para rastrear casos suspeitos e contactos próximos.
Numa reunião com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, na quinta-feira passada, o Presidente chinês, Xi Jinping, reconheceu que ocorreram protestos em várias cidades do país, no final de dezembro, contra as medidas de prevenção epidémica, segundo autoridades europeias presentes no encontro, citadas pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post.
Xi atribuiu os protestos à "frustração" de estudantes, após três anos de medidas altamente restritivas.
O líder chinês reconheceu que a Ómicron é menos letal do que as variantes anteriores da covid-19, mas que estava preocupado com as baixas taxas de vacinação entre os idosos.
Pequim está agora a tentar reiniciar a campanha de vacinação. Apenas cerca de 40% das pessoas com 80 anos ou mais receberam as três doses necessárias para as vacinas chinesas Sinopharm e Sinovac atingirem altos níveis de proteção contra a Ómicron.
Duas centenas protestam contra regime chinês em Washington D.C.
A dois quarteirões da Casa Branca, várias pessoas voltaram a pedir mais apoio contra a ditadura de Xi Jinping.
Cerca de 200 pessoas protestaram no domingo contra o regime de Xi Jinping perto da Casa Branca, em Washington D.C., em mais uma demonstração de solidariedade pelos protestos na China contra as medidas restritivas e contra o Partido Comunista Chinês (PCC).
No protesto, na Praça da Liberdade na capital norte-americana, várias pessoas surgiram com frases de protesto exigindo o 'fim da ditadura', o 'fim da censura' e a saída de Xi Jinping, cuja liderança à frente dos destinos da China trouxe um aumento no uso de videovigilância e da censura nas redes sociais para conter qualquer dissidência e oposição.
À semelhança do que se tem verificado nos protestos na China, nomeadamente em Xangai, foram também erguidos pedaços de papel em branco, um objeto que se tornou num símbolo da oposição à censura.
À Associated Press, uma manifestante, que não deu o seu nome completo por recear retaliação por parte das autoridades, admitiu que nunca se importou tanto com problemas sociais na China como agora. "A política de Covid-19 é realmente imprópria. Agora que estou num país com liberdade de expressão, vou fazer o meu melhor para que os meus direitos sejam protegidos", afirmou.
Segundo a agência norte-americana, também se juntaram à manifestação pessoas de etnias minoritárias que têm sido atacadas pelo PCC, especialmente tibetanos e uigures - estes últimos têm ganhado uma visibilidade cada vez maior, devido aos vários relatórios internacionais que alertam para grandes campos de concentração em Xinjiang, nos quais muçulmanos uigures são 'reeducados' e torturados.
Os protestos na China começaram a 25 de novembro, depois de 10 pessoas morrerem num incêndio numa cidade no noroeste da China, com as autoridades a serem acusadas de limitar o acesso aos serviços de emergência por causa das medidas que restringiam o movimento de pessoas.