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Anita e o Pardalito

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Fev 29, 2008
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O gato Bigodes só pensa em ninhos, penas e pardais.

Mal uma pessoa se distrai, aí está ele em cima das árvores … - Olha um ninho de pardais!

O Bigodes dá um salto, mas escorrega e faz cair um ninho. Ouvem-se uns pios assustados.

- Que vem a ser isto?

- Foi o gato que fez cair o ninho.

- Não perdes pela demora, grande malvado! - exclama a Anita. Dentro do ninho está um pássaro muito pequeno.

- Vamos chamar-lhe Pierrô.

- é engraçado este canário! - diz o Pantufa.

- É um pardal, seu pateta! … e muito novinho.

- Não é nada bonito. Mal se aguenta nas patas e quase não tem penas.

- Mas há-de voar quando crescer.

- Está a tremer com frio e fome- comenta a Anita. -Temos de tratar já dele.

Levá-lo para casa? Alimentá-lo?

Sim, mas… mas como?

O pai disse: “Não se cria um pardaL como um rato branco …” - Onde o havemos de pôr? No velho chapéu de palha. A avezinha orfã pia de fome.

- Posso deitar-lhe a comida num pires?

- Nem penses nisso! As aves deitam a comida dentro do bico dos filhos - explica o pai.

- Quantas vezes por dia?

- Os pássaros pequenos estão sempre com fome.

- Mas o que é que come um pardal? Alface?-

- Nada disso! Este é ainda demasiado pequeno … Prepara-lhe uma gema de ovo cozido e carne picada.

- E como é que lhe havemos de dar a comida?

- Experimentem com um palito.

- E o que é que bebe?

- Água, claro … algumas gotas apenas.

- Não vamos conseguir! - lamenta-se a Anita. - E quem há-de tratar do Pierrô quando acabarem as férias?

- Um de nós de cada vez. Cá nos havemos de arranjar.

Silêncio completo … até se ouviria o voar de uma mosca!

O pardal dorme, satisfeito, dentro do chapéu. Deixem-no em paz!

- Não acordes a minha avezinha! - indigna-se o Pantufa.

- Ela não é tua - reponta o gato. Fui eu que a vi primeiro!

- Desaparece! Não tens nada que fazer aqui!

- Está ‘bem, está bem! Tanta complicação por causa de um pardaleco …

As semanas vão passando e o pardal ganha forças.

- Querido Pierrô, quando é que voas?

Ele já se aguenta bem nas patinhas e saltita por todo o lado. Quando se cresce começa-se a ser curioso. E o Pierrô quer conhecer tudo… e dá bicadas nos dedos da Anita.

As asas desenvolvem-se e as penas tornam-se mais bonitas. O Pierrô alisa-as com o bico.

- Um pardal é engraçado! Não pára um segundo - comenta o Pantufa.

Não está ninguém em casa e o Pierrô foge para o jardim. Corre, corre a bater as asas.

E chega à capoeira todo esbaforido.

- Parece-me que já posso voar!

- Nada disso, nada disso! -responde a galinha. -Não passas de um pintainho pretensioso!

- E tu uma velha gorda.

- Mas que grande atrevido! - exclama o galo. - Onde é que tu moras?

- Na cozinha da Anita.

- Na cozinha? … Que local tão estranho para um pardal viver!

O Pierrô está cada vez mais esperto. Diverte-se a arreliar o canário.

- Em que pensas, canarinho?

- Não tens nada com isso.

- O que foi que comeste para ficares tão amarelo?

- E tu tão pardacento … Nem sequer sabes assobiar!

- Assobiar? E para quê?

- De qualquer modo, eu não tenho medo do gato!

- Quando é que acabam com a discussão? - pergunta a Anita.

O Pierrô continua a crescer. E faz progressos: as suas asas estão cada vez mais fortes.

Mudou tanto que já não parece o mesmo. Os vizinhos da Anita vieram vê-lo.

- Tem ar de malandro, com os olhos tão brilhantes! - Não tens medo que ele fuja, Anita?

Daqui a pouco já sabe voar … não vais poder aguentá-lo dentro de casa.

- Noutro dia fugiu para a capoeira - diz a Anita -, e voltou sozinho. Conhece bem o caminho. - Quando souber voar vai ser pior!

- Se eu estendera mão, virá poisar nela?-pergunta a Rita.

- Porque não? O Pierrô não é nada tímido!

Ninguém se mexe, à espera que ele se decida.

Mas o Pierrô desapareceu sem dar satisfações … Esvoaça por baixo das cadeiras e no átrio. Estará na cozinha, ou no quarto de banho? Nada disso … está debaixo da mesa da sala de jantar!

Já é noite. São horas de dormir.

- Onde estará o Pierrô?

- Não está em casa - afirma o irmão da Anita. Saem de casa e começam a procurar no jardim. Pesquisam em todos os recantos.

Pierrô, Pierrô, onde estás? Talvez o Bigodes …

Mas o Bigodes não sabe nada.

O pai diz sempre:

“Um pardal é um pássaro muito simpático mas voa por todo o lado … Além disso, é imprudente e muito frágil! E depois, o Pierrô não tem experiência …”

A Anita não consegue dormir e pensa:

“Se chove de noite, o Pierrô vai molhar-se todo … E vai perder-se no escuro …”

E fica à espera, muito preocupada.

- Ele acaba por voltar! - afirma o Bigodes.

Mas quem pode acreditar no gato, com os seus pezinhos de lã e olhos maliciosos?

Na manhã seguinte, na cozinha.

Que barulho será este dentro do armário?

Toc, toc, toc … A Anita abre os dois batentes da porta.

E … adivinhem quem está a dar bicadas numa caçarola? O Pierrô, claro!

- Pierrô! … Corremos tudo à tua procura!

Que sorte! Encontraram o pardal. Fora o estouvado do irmão da Anita que o fechara no armário, por distracção. E se tivesse sido no frigorífico?

Só lhes digo que o Pierrô escapou de boa! …

Mas são horas de ir para a escola.

A Anita monta na bicicleta … e a caminho!

o Pierrô segue-a, batendo as asas como um louco: - Já sei voar, já sei voar …

- Volta para casa, meu atrevido!

Na escola, as alunas sentam-se nos seus lugares. Como está bom tempo, deixaram a janela aberta. Oxalá que o Pierrô … Começa a lição.

- Como se calcula a superfície de um rectângulo?

- Multiplicando o comprimento pela largura … Ouvem-se murmúrios e risinhos abafados.

- Que vem a ser isso? - pergunta a professora.

- Minha senhora, está um pássaro dentro da sala!

- Um pássaro? … Donde teria vindo?

- É o pardal da Anita.

- Seguiu-me até à escola -justifica-se a Anita. - E entrou pela janela. Não consegui fazê-lo voltar para trás …

A professora escorraça o pardal e fecha a janela.

- Não quero pardais dentro da sala! O Pierrô já está suficientemente forte e deve viver em liberdade.

Às quintas-feiras há aula de desenho.

Desta vez, a professora sugeriu:

- Desenhem uma ave …

- Uma ave? É fácil quando se conhece bem … A Anita foi a primeira a terminar o desenho.

E pensa: “A professora tem razão. Está certo ter em casa um pardalito caído do ninho. Podemos cuidar dele, aquecê-lo, alimentá-lo… Mas agora que o Pierrô não pára, é preferível que se desembarace sozinho. É mais natural.”

A partir desse dia, o Pierrô já não arrelia o canário nem se esconde debaixo da mesa da sala de jantar. Alimenta-se de grãos e voa no jardim com uma palhinha no bico. Toma banho no tanque e espaneja-se na poeira. Por vezes vem comer migalhas na mesa da varanda e beber água na fonte…

Espia o gato Bigodes, que o vigia…

A Anita tem orgulho nele.

Pierrô tornou-se um autêntico pardal muito esperto.

FIM DO LIVRO
 
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