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Anita e um dia diferente

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Fev 29, 2008
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Hoje é domingo. A Anita e o Francisco, o filho do guarda-rios, levantaram-se cedo para irem visitar a pateira.

Esta pateira é uma lagoa com uma ilha ao meio.

-Vais ver os patos-reais, as garças-reais, os pica-peixes… - explica o Francisco. -Vamos entrar por aqui. É mais perto.

O portão está fechado a cadeado. Não é nada fácil passar com as bicicletas!

Numa placa, junto à entrada, está escrito: “Interdita a pesca, excepto ao domingo. É proibido a entrada a cães.”

- E o Pantufa? - perguntou a Anita.

- O meu pai não se vai importar.

O guarda-rios está a manobrar a comporta do riacho.

- O Pantufa pode entrar - diz ele -, desde que não incomode a Trompeta, a galinha-d’água. Senão ela foge do ninho e perdem-se os pintainhos.

- Não se preocupe, o Pantufa não vai fazer disparates.

Aqui está a lagoa ladeada por castanheiros. - É funda?

- Junto às margens, não. Mas ao meio podemo-nos afogar. Sabes nadar?

- Sei… E esta camioneta, donde é que vem?

- É a camioneta da Cooperativa dos Piscicultores.

- Piscicultores?…

- São os criadores de peixes. Eles vendem os alevins. Aqui na lagoa há muitos e variados… Olha, Anita, são às centenas: carpas, percas e outros peixes de água doce. - É aqui que eles ficam bem, em liberdade na Natureza.

O velho moinho de água serve de refúgio ao guarda-rios.

- É aqui que o meu pai guarda o material - diz o Francisco.

- Este peixe tem um ar terrível!

- É um lúcio, o meu pai pescou-o o ano passado no lago… É grande… Estás a ver os dentes?

O Francisco bem gostava de apanhar um peixe como aquele!

- Vamos pescar na ilha! Só espero que o meu pai me empreste a cana e o camaroeiro.

- Podem levar tudo - disse o guarda-rios. - Levem a jangada… Mas tenham cuidado! Olhem que este barco não é muito fácil de manobrar.

Os patos, curiosos, aproximam-se. E eis que um se instala em cima da jangada. É o Ademar, o pato doméstico. O Francisco conhece-o bem, é da quinta ao lado.

Os cisnes não gostam de ser incomodados, estão de mau humor!

- Deixem-me passar - ladrou o Pantufa. - Vou à pesca.

- E se jogássemos aos exploradores? - diz o Francisco… - Vai ser muito perigoso… Há índios por todo o lado.

- Eu não tenho medo nenhum. Sou o Ademar, o pato valentão.

- E aquele, ali, é o Grande Chefe? - pergunta o Pantufa.

- Não é nada! É o senhor Joaquim, o caseiro. Não vês que está a pescar? Não vale a pena incomodá-lo.

A jangada não se manobra como um carrinho de mão. É preciso saber dirigi-la. - Anita, empurra com a vara no fundo da água… Não, não é assim. A vara não deve enterrar-se no lodo.

- Vou cair, Francisco… Vou cair. Segura-me.

A Anita caiu à água. Felizmente sabe nadar! O Francisco ajuda-a a subir para a jangada. - Agarra-te, Anita!

Tudo se arranja. A Anita tornou a ocupar o seu lugar na jangada. A aventura continua.

- Que animal é aquele?

- É a Trompeta, a galinha-d’água… Não a assustes! O meu pai não gosta que se perturbem estes animais.

E eis que três desatam a correr sobre as folhas dos nenúfares. - Eu também - diz o Pantufa -, eu consigo andar sobre… - Pantufa!… Pantufa! Que grande mergulho!

De repente, levantou-se uma grande ventania. A jangada ficou meio à deriva. Impossível de controlar…

Devemos enconstar. A jangada está encalhada nos troncos… Vai ser difícil soltá-la.

- Estamos presos na ilha! – diz o Francisco. – Como é que vamos sair?… Bem, havemos de descobrir uma maneira.

-

Desembarcamos aqui…

- Já vieste a esta ilha? O Francisco diz que não.

Está com um ar inquieto, mas é só para assustar a Anita. Ele sabe que ali não correm perigo.

- Que lugar misterioso!

- Parece que estamos na floresta virgem…

- Onde é que estão os piratas? - pergunta o Pantufa. - Que cão tão pateta!…

Tudo corre bem na ilha.

Não há dragões a cuspir fogo. Não há piratas ferozes. Isso só existe nas histórias!

O Francisco tem sempre boas ideias.

- Estamos todos molhados. Vamos pôr as roupas a secar em cima da ponte de madeira.

Os fatos de banho são muito práticos. Podemos chapinhar na água e apanhar rãs. Está ali uma a inchar… a inchar… a inchar… parece mesmo que vai rebentar! - Cuidado! Uma libelinha.

- É sempre a mesma coisa - diz o Francisco. - Gostava tanto de apanhar um Lúcio como o do meu pai! Podíamos conservá-lo no moinho, ao lado do outro. - Será que o conseguimos apanhar com o camaroeiro?

Um pica-peixe pousou na extremidade da cana. Tem umas lindas cores! Quando ele pesca, mergulha como uma flecha. É um pássaro extraordinário. Sim, mas…

O Francisco está pensativo e pergunta:

- Onde é que se terá metido o lúcio?

- Não te preocupes - diz a Anita. - Vamos encontrá-lo.

- Olha, o teu lúcio!… Eu estou a vê-lo… corre!

- O lúcio? Onde?

- Escondeu-se nas ervas. Olha!… Tão grande!

A Anita tinha razão.

O Francisco nunca tinha visto um lúcio daquele tamanho.

Deve ter os dentes muito afiados. Não o vamos conseguir apanhar. Quando o lúcio quer comer, todos os peixes fogem.

É um carnívoro terrível. - Cuidado, Pantufa!

São horas de comer a merenda que a mãe preparou.

Mas não deixavam de pensar no lúcio:

- Um peixe destes deve ter um peso! Até parece um crocodilo.

- Um crocodilo?… Um crocodilo?… O Pantufa não se está a sentir bem. (É como se tivesse um osso atravessado na garganta.)

- Então, Pantufa? O que é que estás a fazer debaixo da mesa? - Não tenho fome… Tenho medo do crocodilo.

- Não! Estamos a brincar. Não é um

crocodilo, é um lúcio. Um lú…cio.

Estás a perceber? - insiste a Anita. - Para a próxima ficas em casa.

- Anita, já viste alguma garça?

- Vi, no Jardim Zoológico.

- Sobe à minha árvore. Vês tudo o que quiseres. Não tenhas medo. Os troncos são fortes.

Em cima das árvores está-se muito bem. Parece que vamos num veleiro. O vento sopra. Temos que nos agarrar com força. Vê-se tudo. Mas faz um bocado de impressão.

Daqui descobre-se toda a pateira. É o observatório do guarda-rios.

Na pateira há umas garças embirrentas e outras com bom feitio.

- E as outras, ali, o que é que elas têm? São tão engraçadas! - São os filhotes. As penas ainda não estão formadas. Ainda não sabem voar.

Quando a noite se aproxima, as garças dispersam-se e vão pousar nas árvores mais próximas do lago. Vêm de todos os lados, mas há poucos lugares.

Batem as asas e dão bicadas para conseguirem um ramo.

- É o meu lugar. Chega-te para lá!

- Não é nada, é o meu. Que grande rebuliço!

É quase noite. As garças já se acalmaram. O silêncio invade o campo. A Anita está inquieta: - Como é que vamos sair da ilha? - De jangada, claro!

- Bem sabes que não a podemos usar.

- Ah! Sim, já me tinha esquecido… E se fôssemos a nado até ao moinho?

- Não, tenho medo desta água tão escura.

- Vamos fazer uma fogueira.

- Socorro!… Ajudem-nos!…

- Espero que o teu pai nos ouça!

- Tenho a certeza que sim. Tem bom ouvido.

Cai a noite. Uma noite de luar, suave.

- O meu pai deve desconfiar que nós tivemos algum problema com a jangada. Esperamos aqui. Está tudo tão tranquilo! Vamos passar a noite à luz das estrelas. De repente, ouve-se o barulho dos remos a bater na água.

- Francisco… Anita…

É o guarda-rios com o barco. - Eu ouvi-os e pensei:

“Ficaram bloqueados na ilha, precisam de ajuda!…” E agora, já para casa, é muito tarde.

E assim terminou um domingo diferente. Ouvem-se as carpas a nadar alegremente no lago. As estrelas brilham. Amanhã vai estar um dia bonito.

FIM DO LIVRO
 
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