Asma na criança

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Asma na criança

O que é a asma? A asma brônquica é uma doença inflamatória crónica das vias aéreas, com um mecanismo de produção complexo. Nos indivíduos susceptíveis, esta inflamação contribui para um aumento da reactividade dos brônquios a vários estímulos e leva a episódios recorrentes de pieira, dificuldade respiratória, aperto torácico e tosse com predomínio nocturno. Estes episódios resultam de uma obstrução dos brônquios, que resolve de forma espontânea ou com ajuda de tratamento. Existe por vezes alguma confusão relativamente ao termo asma, sendo utilizadas denominações alternativas como bronquite asmatiforme, bronquite espástica ou outras, que acabam por desviar a atenção dos pais relativamente à situação real.

Qual a prevalência? A prevalência na população infantil é de cerca de 10%, no entanto as doenças alérgicas em geral e em particular a asma, têm vindo a aumentar em número e gravidade nos últimos anos.

Quais são as suas causas? Na origem da asma existem factores hereditários e factores desencadeantes. Relativamente aos primeiros, pelo menos verifica-se o dobro de famílias alérgicas (com rinite, conjuntivite, eczema, alergias alimentares, etc) nas crianças com asma comparativamente às outras; também se fala em factores raciais, no entanto estes estão muito relacionados com o clima e restantes condições do ambiente no primeiro ano de vida. Os factores desencadeantes das crises podem ser variados, nomeadamente a presença de infecções respiratórias víricas, a exposição a substâncias irritantes específicas, os chamados alergénios (pó da casa, pólens, pelos de animais) ou inespecíficas (fumo de cigarro ou lareira, sprays, cheiros activos), exercício, alterações da temperatura, distúrbios emocionais (festas, exames) entre outros.

Como se manifesta? O quadro clínico mais frequente no 1º ano de vida é a bronquiolite aguda vírica, passando-se a designar por asma do lactente quando ocorrem pelo menos três episódios de dificuldade respiratória nos primeiros 2 anos de vida. A partir desta idade iniciam-se as crises típicas de pieira recorrente com dificuldade respiratória e/ou tosse persistente. É importante, no entanto, pensar que nem tudo que pia é asma sendo por isso necessário excluir outras doenças que causam dificuldade respiratória.

Como é que se faz o diagnóstico de asma? Em relação a cada caso importa dar especial atenção ao risco alérgico e aos possíveis factores desencadeantes, assim como avaliar a evolução da doença relativamente à frequência e duração das crises, como são os períodos entre as crises, o número de idas ao Serviço de Urgência, internamentos, tratamentos efectuados e resposta, para estabelecer a gravidade da doença. Para além da clínica, existem exames auxiliares no diagnóstico da asma, que compreendem a radiografia pulmonar, os chamados marcadores de alergia (Ig E total e específicas e testes cutâneos) e o estudo funcional respiratório. Actualmente a asma é classificada, em termos de gravidade, de ligeira intermitente a persistente grave, atendendo aos sintomas e à função pulmonar. O tratamento deve ser individualizado e adaptado a cada situação, sendo tão importante o tratamento profilático, no sentido de evitar o desencadear das crises, como o sintomático dirigido à obstrução das vias aéreas, devendo tentar resolver-se rapidamente os episódios agudos.

Qual é o tratamento recomendado? A prevenção dos sintomas, para além de diminuir a necessidade de recorrer ao Serviço de Urgência e de internamento, permite que a criança tenha uma actividade física normal. No tratamento da asma a longo prazo a via inalatória tópica deve ser preferida, sendo necessária uma participação activa por parte dos pais ou educadores da criança e uma vigilância regular pelo médico; esta via tem vários benefícios, como sendo um início de acção mais rápido, necessidade de doses mais baixas e menos efeitos secundários. A imunoterapia (vacinação) é um processo lento de imunização, que consiste na administração de doses crescentes do alergénio ao qual o indivíduo é sensível, induzindo o chamado estado de tolerância clínica face ao alergénio administrado; este tratamento deve ser realizado sempre sob vigilância médica e habitualmente mantém-se por 3 a 5 anos.

Que conselhos daria aos pais de uma criança asmática? É assim importante lembrar que o tratamento farmacológico é apenas uma parte do tratamento da asma e que é importante evitar factores desencadeantes como tabagismo, poluição atmosférica, infecções respiratórias assim como evitar alergénios como ácaros, pelos e penas de animais domésticos, pólens e determinados alimentos. Não esquecer que a educação do doente asmático envolve sempre a família e que se deve tentar conseguir a melhor qualidade de vida para a criança.

Dra. Elisa Proença Fernandes
Pediatra
 
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