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Autarca de Penafiel lança novo romance

florindo

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É como "senhor presidente" que os munícipes de Penafiel ainda tratam Alberto S. Santos, mas o autor de "A escrava de Córdova" - título do primeiro romance - não esconde a vontade de dedicar-se por inteiro, num futuro próximo, à escrita, actividade que considera viciante. O lançamento do novo romance, "A profecia de Istambul", é hoje, quinta-feira, às 19 horas, no El Corte Inglès de Gaia.
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No livro, é apresentado apenas como alguém "que exerce funções públicas. Não gosta do rótulo de autarca-escritor?
A pessoa é a mesma, mas são missões distintas. A presidência da Câmara está virada para o exterior, numa lógica de relacionamento com a comunidade, enquanto que a escrita é um processo muito mais pessoal, embora atinja uma dimensão pública assim que o livro é publicado. Separo a escrita da política.

Não é habitual vermos um escritor debutante vender 15 mil exemplares, como aconteceu com "A escrava de Córdova". Surpreendeu-o?
Nem as minhas melhores perspectivas apontavam para um número tão elevado. O que me agrada mais é que o livro foi ganhando fôlego e leitores com o decorrer dos meses, o que significa que quem o leu gostou e recomendou a sua leitura a outras pessoas.

Concorda com os que dizem que um escritor nunca mais experimenta a sensação de liberdade do primeiro livro, porque nessa altura desconhece a reacção do leitor?
Senti uma maior responsabilidade, confesso. No primeiro livro, nem sequer sabia ainda se ia ser publicado, não tinha prazos para cumprir... Sei que agora vai existir um escrutínio maior. É natural que os leitores esperem uma evolução face ao primeiro romance.

Essa responsabilidade acrescida foi contrabalançada por um domínio superior das técnicas narrativas?
Sim. A experiência que acumulei com o livro inaugural serviu-me muito para "A profecia de Istambul". Senti-me mais solto no entretecer da escrita e na elaboração dos equilíbrios que pretendem manter o leitor em suspenso até à última página. Quem sabe, um dia consigo atingir o meu objectivo de trazer o leitor para dentro do livro e torná-lo parte da história.

Já tem marcadas dezenas de apresentações do livro pelo país fora. Como vai arranjar tempo?
As sessões realizam-se ao fim-de-semana ou à noite. Não misturo a escrita com as funções públicas, que faço questão de cumprir com rigor. Gosto do contacto com os leitores. É um contributo para dar visibilidade às letras, que tanto apoio precisam.

Ser escritor a tempo inteiro é um sonho que acalenta?
Gostava, mas não é possível. Pelo menos, de momento... Se, um dia, surgisse essa possibilidade, não a desdenharia. Sempre fui um leitor permanente, mas só há uns cinco anos surgiu a semente de inquietação da escrita.

O prefácio do primeiro livro foi escrito pelo José Rodrigues dos Santos. É uma referência para si?
Como contador de histórias, sim. Ele tem o que qualquer escritor gostaria de ter: a chave para chegar junto do público.

Não é escritor a tempo inteiro nem tem formação histórica. Como contorna essas limitações para assegurar o rigor histórico que os seus livros demonstram?
Suando muito. (risos) Para este livro, quis conhecer histórias de pessoas comuns que viveram no século XVI. Socorri-me de várias fontes, entre as quais os processos da Inquisição depositados na Torre do Tombo. Só quando reuni uma base de pesquisa muito sólida é que me sinto totalmente seguro para avançar com a história.

São as vidas anónimas que mais o atraem?
Sim. Para compreendermos melhor uma época, não nos podemos quedar pelos factos que os historiadores descrevem. As figuras desconhecidas são, em muitos casos, a engrenagem que faz girar a máquina do tempo. A vida quotidiana é uma excelente forma de apreendermos o espírito de um certo tempo.

O livro encerra um dilema quase insolúvel entre o amor e a salvação da Humanidade. Se estivesse numa situação semelhante, o que faria?
O melhor é mesmo compaginar esses objectivos. Espero que os leitores apreciem a opção que fiz.

Este é, em larga medida, um livro sobre a intolerância. Não podemos cair no erro de julgar que estes problemas pertencem ao passado?
Nos meus livros, tento procurar a génese do que hoje acontece. Quem se limitar à espuma dos dias julga que os conflitos a que hoje assistimos são recentes, quando, na verdade, têm origens muitos remotas.

Os detractores da actual vaga de romances históricos dizem que há uma fórmula para fabricar "best-sellers". Concorda?
Se há uma fórmula, desconheço-a. Procurei contar duas histórias alicerçadas em factos históricos.

Como é que os seus adversários políticos têm reagido à sua faceta literária?
Com muito respeito e elevação. Nunca senti nenhum acossamento por esta circunstância.

JN
 
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