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Caligrafia Medieval

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Caligrafia Medieval

No século II d.C., surgia uma nova forma para armazenar conhecimentos. O pergaminho era o substituto do artifício utilizado na Antigüidade, quando até então os textos eram escritos em folhas de papiro. As folhas de pergaminho eram organizadas em cadernos que, juntos ou costurados, formavam o codex. Exemplares célebres, que chegaram ao mundo atual, são o Codex Runicus (que tem como conteúdo a escrita rúnica) e o Codex Argenteus (manuscrito gótico).

A busca pela comunicação eficaz determinou a abolição de letras demasiadamente enfeitadas, como a gótica, pois à medida que o acesso à informação era difundido e as transações comerciais ganhavam impulso, a escrita saía dos mosteiros e aumentava a procura por uma caligrafia que primasse pela legibilidade.


Caligrafia e iluminura

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O trabalho de cópia dos manuscritos na Idade Média era realizado no interior dos mosteiros, em um quarto chamado scriptorium. Os monges encarregados deste trabalho de cópia dos textos dividiam-se em grupos. Uns estavam encarregados de escrever os códices (pendolistas) e outros, de iluminá-los (minia-turistas).

Os títulos e os vários tipos de letras eram enfeitados ao extremo. A ornamentação da escrita era variada: podia ser antropomórfica (figuras humanas), inspirada em figuras zoomórficas (com motivos de animais), ou podia contar com adornos baseados na tradição dos entrelaçados irlandeses.

A minuciosidade requerida para a elaboração dos manuscritos foi fruto da preferência do cristianismo pela adoção de letras distantes das empregadas na Roma Antiga (como a versal clássica), pois esta escrita era considerada pagã. Então, os mosteiros privilegiaram a uncial. Nesses tempos, a caligrafia estilizada dos documentos oficiais merovíngios, caracterizada pelo prolongamento das letras acima e abaixo, serviu de modelo para os manuscritos dos mosteiros.

Os textos antigos também foram deformados porque eram grafados em diferentes tipos de escrita, sendo as principais: a capital, da época romana; a uncial; e as escritas nationales, como a lombárdica, a merovíngia e a visigótica. As influências merovíngia e anglosaxônica resultaram no advento da minúscula, cuja variante irlandesa, com suas características formas angulosas, foi levada à Inglaterra e ao continente pelos frades missionários. Porém, nos séculos VIII e IX, a escrita angulosa foi substituída pela minúscula carolíngia (nome derivativo do imperador Carlos Magno), caracterizada pela clareza de suas formas simples.

À medida que os manuscritos se multiplicavam, crescia a necessidade de tornar a escrita uniformizada, a fim de torná-la inteligível; e a minúscula carolíngia personificava a melhor opção para atingir este objetivo. A letra gótica, completamente distinta do modelo carolíngio, teve origem por volta do século XI, na Bélgica e no norte da França. No livro El Arte De La Escritura, organizado pela UNESCO (Paris: Editora da UNESCO, 1965, p.29), há uma comparação entre as escritas carolíngia e gótica e as arquiteturas românica e gótica: "Enquanto a minúscula carolíngia correspondia à arquitetura românica, a gótica apresenta as linhas angulosas e delgadas do estilo gótico. As curvas se estiram e se quebram; os extremos superiores dos traços se prolongam em espátula, finos perfis angulosos unem entre si os traços generosos".

No século XV, os primeiros impressores tomaram a escrita gótica como modelo, reproduzindo com fidelidade os manuscritos e adotando, inclusive, os ornamentos feitos pelos monges. Os miniaturistas começavam o trabalho em imprensas, a fim de garantir os enfeites das maiúsculas, que eram pintadas à mão ou gravadas em madeira.

Com o advento da imprensa os caracteres se dividiam em dois grupos: os tipos angulosos, inspirados na minúscula gótica, e os tipos arredondados ou romanos, que tinham como modelo a minúscula carolíngia.

Ainda no século XV percebeu-se o quanto a letra gótica, caracterizada por sua vertiginosa ornamentação, adequava-se melhor aos manuscritos litúrgicos. Desenvolveu-se, então, uma letra derivativa da gótica e condizente com a simplicidade requerida pelo uso diário: a bastarda.

Entre 1450 e 1500, o uso da letra gótica foi paulatinamente abolido do cotidiano, em decorrência do desenvolvimento científico e comercial, e também porque a rapidez crescente com que as correspondências eram enviadas ocasionou um natural descuido na elaboração desta escrita estilosa.

As corporações de copistas estavam sobrecarregadas de trabalho e despreparadas para a nova realidade, impulsionada pela demanda de textos reproduzidos rapidamente. A letra gótica, caracterizada por uma escrita livresca artística e caligraficamente executada (Textura, Fraktur - escrita redonda -, escrita gótica), evoluiu para um tipo que garantia maior agilidade às transações comerciais, a chamada escrita alemã, cultivada até o século XX.

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Definitivamente, escrever à mão sobre pergaminhos era um procedimento muito lento, em nada condizente com os novos tempos. O papel, vindo da China por intermédio dos árabes, substituiu o pergaminho por ser muito menos custoso e assim também contribuiu para instaurar a crise entre os copistas. Todavia, ainda no século XVII, eram impressos livros em pergaminho para leitores exigentes.

Posteriormente, as manifestações artísticas do Barroco perceberam na escrita gótica um modo excelente para encher as maiúsculas de arabescos. Nos tipos de imprensa, esta letra vai perdendo espaço, mas entre os calígrafos é praticada com um imenso prazer, pois permite a revelação da virtuosidade desses artistas.

Os tipos angulosos predominaram ao norte dos Alpes, enquanto na Itália foram mais utilizados os caracteres góticos mais arredondados, chamados de escrita gótica redonda, caracterizada pela já mencionada Fraktur. A gótica redonda caracteriza-se pelo aspecto quebrado dos traços, pela inclinação das minúsculas, pela prolongação de certos traços altos, pela acentuação mais ou menos pronunciada dos traços baixos e pela "tromba de elefante" das iniciais.

Já no século XVI, os humanistas optaram por escrever os livros de autores clássicos, que eram novamente descobertos, com caracteres derivados da minúscula carolíngia. Ao contrário dos caracteres góticos, com seus traços dinâmicos e duros, os caracteres romanos permitiam a construção geométrica e uma análise racional.

A profissão de caligrafista foi devidamente reconhecida até fins do século XVIII. As atas e documentos oficiais seguiram utilizando a letra gótica até o início do século XIX. No século XX esta escrita foi cada vez menos utilizada, dando espaço à latina, com formas claras, que ocupam menos espaço no papel.



Fonte: Caligrafia Medieval
 
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