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As Varas Criminais do Porto acusaram hoje José Carlos Martins e a ex-mulher, Cláudia Dória, de nove crimes de burla qualificada, nomeadamente a futebolistas, acolhendo assim a tese defendida pelo Ministério Público MP).
A decisão ocorreu depois do coletivo presidido pelo juiz João Castro ter ouvido o procurador, Fernando Miranda, e depois os advogados dos dois arguidos, Marcelino Pires e Carlos Gonçalves, numa sessão dedicada, toda ela, às alegações finais.
Fernando Miranda disse que, neste caso, a questão era saber "quantos crimes se irão imputar" a José Carlos e a Cláudia Dória, sustentando que deveriam ser, "no mínimo, um crime por cada um dos ofendidos".
Entre os supostos lesados figuram vários antigos jogadores do Boavista, como os guarda-redes Ricardo (496 mil euros) e os médios Jorge Couto (496 mil euros) e Hélder, comerciantes e outras pessoas.
Prometia investimentos com garantia de elevado retorno a quem que lhe confiasse dinheiro.
A alegada burla teve início nos finais dos anos 90 do século passado, prolongaram-se por cerca de uma década, e envolveram "montantes elevadíssimos", segundo Fernando Miranda, que, porém, não especificou.
Até esta sessão, os arguidos estavam acusados de um só crime de burla qualificada, mas o procurador defendeu que isso tinha de ser alterado, alegando que havia "vários ofendidos", de diferentes extratos sociais e económicos.
Fernando Miranda afirmou também que "tudo isto aconteceu porque o arguido se fartou de ser José Carlos, para ser Ricardo", e assumiu depois falsas identidades e ligações familiares, "passando a apresentar um estatuto que até aí lhe seria alheio".
O procurador recordou, ainda, que Cláudia Dória alegou, durante o julgamento, que "foi enganada quanto os outros", mas tal tese não o convenceu porque a arguida teve "uma vida faustosa" durante anos.
Fernando Miranda citou até um dichote brasileiro para assim resumir a sua opinião sobre o que foi a atitude da arguida face ao estilo de vida do então marido: "Me engana que eu gosto".
"Não vemos razões" para se passar da acusação de um crime de burla qualificada para vários, contestou depois advogado de José Carlos, Marcelino Pires.
Para este causídico, José Carlos "vivia numa espécie de fantasia, que ele próprio montou para conquistar a sua namorada na altura", Cláudia Dória.
"Em momento algum se poderá concluir que tudo isto foi arquitetado pelo José Carlos para extorquir dinheiro fosse a quem fosse", argumentou.
Marcelino Pires disse que o arguido "bebia, não trabalhava, gastava fortunas" me frequentava "casas de alterne", mas ninguém, entre as suas presumíveis vítimas, "parou para pensar" sobre esse estilo de vida.
Interrogou-se ainda sobre como foi possível confiar tanto dinheiro a José Carlos "sem um suporte documental".
O advogado Carlos Gonçalves, que representa Cláudia Dória, procurou demonstrar que esta ignorava o que se passava.
O procurador "não conseguiu determinar o momento em que a arguida teve conhecimento" do esquema, alegou Carlos Gonçalves.
"Os negócios eram com o Ricardo (identidade assumida por José Carlos) e a Cláudia estava alheia", insistiu.
Pela primeira vez desde que o julgamento começou, José Carlos fez-se ouvir. Parecendo chorar, declarou que sentia "muita vergonha" e estava "bastante arrependido". Depois disso, o coletivo retirou-se durante alguns minutos e voltou com o anúncio de que tinha decidido acusar José Carlos e Cláudia de "nove crimes de burla qualificada", em vez de um crime apenas, e marcou a continuação da audiência para dia 4, às 14:00.
Fonte: Lusa / SOL