Diabetes Mellitus na criança

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Diabetes Mellitus na criança

O que é?

A diabetes mellitus é a doença do sistema endócrino mais frequente na infância e adolescência e é caracterizada por hiperglicemia crónica (aumento do açúcar no sangue). Esta hiperglicemia resulta de uma deficiência na secreção de insulina, de uma alteração na sua acção ou, ainda, de ambas, resultando num metabolismo anormal dos hidratos de carbono, das gorduras e das proteínas. Dependendo da causa subjacente, esta doença é dividida respectivamente em 2 grupos principais: diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2. A primeira, que é a mais frequente na infância, é causada por uma destruição pelo próprio sistema imune das células secretoras de insulina, sendo também chamada insulino-dependente por a sobrevivência da criança depender de insulina exógena; a segunda, conhecida como diabetes não insulino-dependente, é a forma mais frequente no adulto, podendo também surgir na infância e adolescência, sobretudo se existir obesidade e sedentarismo.

Factores de risco

Apesar de as pessoas a quem surge a diabetes mellitus tipo 1 não terem outro familiar próximo com a doença, em cerca de 80% dos casos existe algum componente hereditário na origem desta. Existe um aumento do risco de aparecimento da diabetes mellitus tipo 1 de 0,4% para 4 a 6% quando um dos pais ou irmão tem a doença. Este risco será ainda maior se ambos os pais forem afectados ou se o irmão for gémeo idêntico.

Outros factores de risco, como a exposição precoce dos lactentes ao leite de vaca e, sobretudo, infecções por determinados vírus, podem precipitar a doença em indivíduos geneticamente susceptíveis. É possível que o nosso organismo, na tentativa de eliminar estes vírus, os confunda com as células secretoras de insulina e as destrua (doença auto-imune). A presença de outras doenças auto-imunes, como a doença tiroideia, doença celíaca ou o vitíligo, conferem um aumento do risco do aparecimento da diabetes mellitus tipo1.

Os factores de risco para o aparecimento da diabetes mellitus tipo 2 são a obesidade e a história familiar deste tipo de diabetes.

Sinais e Sintomas

Como referido, a diabetes mellitus tipo 1 é a forma mais frequente na criança. A apresentação típica é uma história, muitas vezes com menos de 1 mês de evolução, de poliúria (urinar muito), polidipsia (muita sede), polifagia (muita fome), com emagrecimento. Existem também formas mais insidiosas de aparecimento da doença, caracterizadas por letargia, fadiga e emagrecimento. A cetoacidose diabética representa cerca de 25% das manifestações iniciais da diabetes na criança, podendo manifestar-se precocemente de um forma leve, com vómitos, poliúria e desidratação. Nos casos mais graves, o hálito tem um odor a acetona, a respiração tem um padrão próprio (Kussmaul), pode haver dor abdominal e alteração do estado de consciência até ao coma.

A diabetes tipo 2 na criança tem aumentado de forma importante nos países desenvolvidos, acompanhando o aumento da obesidade nesta faixa etária. Para além da obesidade, poderá haver poliúria e polidipsia, menos marcada que na diabetes tipo 1, sendo frequentemente assintomática. O seu diagnóstico é efectuado no contexto de análises pedidas por outros motivos.

Diagnósticos

Perante a presença dos sintomas clássicos da doença (poliúria, polidipsia, com emagrecimento), uma glicemia (nível da glicose no sangue) ocasional igual ou superior a 200 mg/dl faz o diagnóstico de diabetes. Em formas mais graves podem estar presentes corpos cetónicos na urina (cetonúria), que, apesar de isoladamente não fazerem o diagnóstico, complementam o resultado da glicemia elevada, definindo maior gravidade da situação.

Também faz o diagnóstico de diabetes mellitus o aparecimento, em duas ocasiões diferentes, de uma glicemia em jejum igual ou superior a 126 mg/dl (7,0 mmol/l) ou igual ou superior a 200 mg/dl (11,1 mmol/l) 2 horas após a ingestão de um soluto com 75 gramas de glicose dissolvida em água (1,75 g/kg, se o peso da criança for inferior a 18 kg). A prova de tolerância oral à glicose não se faz por rotina, estando reservada para situações de forte suspeita clínica com glicemia em jejum normal ou quando a glicemia em jejum é superior a 100 mg/dl e inferior a 126 mg/dl.

Tratamentos

Dependendo da forma de apresentação da diabetes mellitus tipo 1, das condições sócio-familiares da criança e do modo como está organizada a equipa que trata estes doentes, pode-se iniciar o tratamento em regime ambulatório ou de internamento. A cetoacidose, a expressão mais grave da diabetes tipo 1, é uma das situações que justificam uma intervenção emergente. É necessário repor a perda de líquidos que ocorreu nos últimos dias ou semanas, corrigir os desequilíbrios hidroelectrolíticos e ácido-base e iniciar insulina. Depois de tratada a cetoacidose (geralmente após 12 a 36 horas), a alimentação oral é geralmente tolerada e a insulina rápida administrada na forma subcutânea. Nas crianças com sintomas clássicos e com hiperglicemia, na ausência de desidratação e cetoacidose, também pode ser utilizada esta forma de tratamento de transição. A monitorização dos níveis de glicemia é feita regularmente, com os devidos ajustes nas doses de insulina. Alguns dias após, é estabelecido um plano alimentar para a criança seguir em casa e é introduzida insulina com acção mais prolongada. Ao estabelecer as necessidades nutricionais para a criança, com base na idade, peso e actividade, são também levadas em conta as suas preferências. O exercício físico devidamente acompanhado deve fazer parte integrante do tratamento, não sendo raros os exemplos de atletas com diabetes.

Para além da prescrição do tratamento com insulina e dos conselhos alimentares e actividade física, nesta doença o ensino efectuado às crianças e aos pais sobre a gestão diária da doença é o componente mais importante no tratamento da diabetes. O objectivo da equipa é dotar os doentes e familiares de conhecimentos sobre a diabetes que lhes permitam ajustar as doses e tipo de insulina, alimentação e actividade física, de modo a terem glicemias o mais próximo possível do normal.

Na diabetes tipo 2, a correcção do excesso de peso e o aumento da actividade física são medidas importantes, sendo necessária medicação complementar em certos casos.

Qual o prognóstico?

A diabetes mellitus da criança é uma doença crónica, que exige uma co-responsabilização no tratamento por parte da criança e da sua família. Para além de problemas agudos, como agravamento nas infecções ou episódios de hipoglicemia (açúcar no sangue diminuído), complicações visuais, renais, neurológicas e do foro emotivo também podem ser frequentes. A vigilância médica, se possível por equipas multidisciplinares, tem como objectivo tentar que estas crianças tenham uma doença o mais benigna possível e que o seu crescimento e desenvolvimento sejam o mais próximo do normal. Uma alimentação equilibrada, evitando o excesso de peso, é um cuidado importante na prevenção da diabetes tipo 2.

Dra. Elisa Proença Fernandes
Pediatra

Revisto por Dr. Jorge Dores em 14 de Abril de 2009
Endocrinologista
 
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