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Eficiência germânica

Roter.Teufel

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Eficiência germânica

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Entrevista com o jornalista alemão Martin Fünkele, da revista BIG - Basketball in Deutschland

A engenharia alemã está entre as melhores do mundo. Não é à toa que marcas como Audi, BMW e Mercedes são alemãs. Essa engenharia se aplica também para o esporte. Sabemos disso muito bem. Como esquecer os trágicos 7 a 1 no Mineirão durante a Copa do Mundo de futebol em 2014? O basquete, porém, parecia indecifrável para a Alemanha. Parecia. Com a conhecida disciplina e planejamento, a Alemanha construiu um grupo talentoso e venceu a Copa do Mundo da FIBA 2023. O primeiro título Alemão veio de forma invicta com direito a vitórias sobre Austrália, EUA e a Sérvia na final. Para falar sobre um pouco sobre o basquete alemão e este importante título, conversei com o jornalista Martin Fünkele da revista BIG (BIG - Basketball in Deutschland) para nos ajudar a entender como eles decifraram o código para as vitórias em mais um esporte.

Nas Quadras: Martin, vamos começar pelo topo. Na introdução comento sobre a famosa engenharia alemã e sua conhecida eficiência. Esse time atual parece personificar essa combinação de eficiência e disciplina. Mas para o público alemão? Quão impactante foi para os alemães essa grande vitória em uma das competições mais difíceis do mundo?

Martin: Foi algo incrível, único na vida. Quando você mencionou essa frase sobre a engenharia, me trouxe um pensamento que pode nos levar a uma conclusão sobre o porquê dessa vitória ter acontecido e o que fizemos para chegarmos neste ponto. Tivemos momentos importantes em grandes palcos com a geração (Dirk) Nowitzki que chegou em 4º lugar no Eurobasket 2005 e na Copa do Mundo de 2002 em Indianápolis, quando eles acabaram ganhando a medalha de bronze. Nessa época, você tinha um motor em Dirk (Nowitzki), que era muito melhor do que o resto da equipe. A ponto que, ele era tão bom que podia carregar outros 11 jogadores, muito aquém de seu talento (do Dirk). Além disso, aquela geração aprendeu como jogar com Dirk. Era um jogo mais mecânico, não tão fluente. Ao contrário do basquete alemão que vimos desde grupo de 2023.

Nós, brasileiros, vemos parte desta mudança. O Brasil perdeu justamente a vaga para a Olimpíada de Toquio 2021, no pré-olímpico de Split, naquela final conta a Alemanha. Contudo, naquelas Olimpíadas, os resultados (3 derrotas e uma vitória) não foram muito bons. Duas mudanças parecem ter sido decisivas para esquecer a última participação na Olimpíada: a volta de Dennis Schröder e a contratação do técnico Gordie Herbert. São estes os grandes fatores para os bons resultados recentes desse time? (Nota: além de vencer a Fiba WC, a Alemanha foi medalha de bronze no EuroBasket 2022)

Sim! Esses dois fatores foram fundamentais para esse grande salto. Você mencionou duas coisas importantes com certeza, mas acho que se olharmos para o elenco atual, precisamos ampliar um pouco a “imagem” e voltar a 2019, quando eles fracassaram na Copa do Mundo (terminaram em 18º eliminados pela Romênia). Sete dos jogadores que vimos neste verão (nosso inverno) estavam na equipe de 2019. Então, você tem uma equipe, um grupo de jogadores que estão conectados há mais de quatro anos.

Quando eles foram para a China, para a Copa do Mundo de 2019, foram rotulados como a melhor equipe de basquete alemã, mesmo sem ter conquistado nada. Tínhamos Paul Zipser, que na época era um jogador sólido da NBA jogando pelo Chicago Bulls, Maxi Kleber, Schroeder, (Daniel) Theis estavam lá, mas eles tinham quatro anos a menos de experiencia e uma pressão tremenda por um bom resultado. O que não aconteceu.

Logo depois foi o torneio de qualificação na Croácia e em Split. Você mencionou quando eles enfrentaram o Brasil sem Schröeder, que na época teve problemas com seu contrato. Ele não podia jogar, mas estava lá. Ele estava lá durante todo o torneio em Split, sem jogar. E nessa época, Henrik Rödel (o técnico anterior) ainda estava no comando como treinador principal. Como jogaríamos o Eurobasket 2022 em casa, em Colonia e Berlim, a Federação decidiu trocar o cargo de treinador principal para Gordie Herbert (N: Herbert é Canadense, foi assistente no Toronto Raptors e técnico do ano no campeonato alemão em 2016). A estratégia era garantir que tinham as melhores peças dentro e fora de quadra capazes de conseguir bons resultados naquela competição. E eles conseguiram e ganharam a medalha de bronze! Só perderam para a Espanha nas semifinais. Essa participação foi mais uma grande peça no desenvolvimento da equipe.

Então, quando olho para o sucesso deste verão, é uma evolução. É uma espécie de resultado de um desenvolvimento. Não é uma sensação. Quero dizer, muitas pessoas que agora estão envolvidas no basquete dizem: 'Oh, como isso pôde acontecer?' É o desenvolvimento de um grupo de jogadores que estiveram juntos por muito tempo. Além da turma de 2019, Peças adicionais, como os irmãos Wagner, surgiram. O irmão mais velho, Mo, também estava nas Olimpíadas, mas Franz não estava lá.

Tenho que destacar também o comando do técnico Gordir Herbert. Quando ele entrou, ele mencionou sua regra mais importante: 'Quero comprometimento. Quero comprometimento de vocês pelos próximos três a quatro anos.'

O basquete é um jogo do improvável. E o povo alemão não é muito inclinado ao improvável. Tudo tem que ser muito bem muito estruturado e controlado. Durante muito tempo, a Alemanha não teve o improvável em quadra. Hoje tem. Estamos falando de Dennis Shöder. Quão importante é Schroeder para esta equipe?

Acho que ele é o fator que os diferencia. Quero dizer, você mencionou todas as suas qualidades. Outra qualidade dele é sua determinação e depois sua liderança. E combine seu talento com sua ética de trabalho e realmente sua determinação para jogar pela seleção. Quando mencionei que ele estava em um torneio de qualificação em Split por sete dias, se juntando à equipe sem jogar, como Porzingis fez na Copa do Mundo, isso diz muito (Nota: Kristaps Porzingis do Boston Celtics acompanhou a seleção da Letônia mesmo machucado durante a FIBA WV 2023). Porém, Shröder não é amado na Alemanha como Dirk era. E isso sempre estraga um pouco as coisas para ele. Ele tem um ego muito grande e luta para ser respeitado. Então, a seleção nacional alemã significa muito para ele. Ganhar na seleção significa receber elogios e, por consequência, ganhar mais respeito do público e seus pares. Ele é um jogador imprevisível e ama a seleção nacional.

Chegaram relatos de que Schröder e o treinador Herbert entraram em conflito durante a competição. O que aconteceu?

Os dois têm um bom relacionamento. O ponto principal é que Gordie (o técnico) entendeu o valor dele (Shröder) para a equipe. Quero dizer, as confrontações começaram antes da Copa do Mundo quando Schroeder deu uma entrevista em um podcast para meu querido amigo Andre Fugt. Shröder falou que não estava feliz com a convocação de Maxi Kleber. O técnico Gordie Herbert queria que ele (Kleber) fizesse parte da equipe e Schröder não queria. No final da história foi que Kleber disse: 'Ok, sinto que não sou bem-vindo. Vou dar um passo atrás.' Isso foi um teste de poder. E neste teste, ele (Shröder) foi o vencedor. O treinador meio que lutou por Kleber, mas percebeu que Schröder é mais importante. E a situação que você mencionou no intervalo, acho que ele lidou muito bem, porque o afastou da discussão e percebeu que não era hora de discutir. Era hora de acalmá-lo no banco e seguir em frente. A equipe conhece o caráter dele. Eles não precisam amá-lo, mas o respeitam muito. E eles encontraram uma maneira de lidar com isso. Sim, acho que ele joga excepcionalmente bem quando está na seleção nacional. Na NBA, não tanto. Acho que ele é muito errático na NBA. É um emprego.

Vamos falar um pouco sobre a campanha. Quando foi o momento em que vocês perceberam que, ‘ok, talvez possamos vencer isso’?

Sem dúvida, a vitória sobre os Estados Unidos. Essa partida foi tão parelha que poderia ter ido para qualquer direção. Este foi o teste final. A diferença entre outras equipes alemãs, eu diria, foi que o time entrou neste jogo com o conhecimento de que podemos vencer. Quero dizer, sempre podemos perder jogos de basquete. Mas se você não acreditar em si mesmo, você perdeu. Mas eles entraram neste jogo com a vontade e com o conhecimento de que sim, podemos vencê-los. E foi o que eles fizeram. E depois disso, eles não podiam perder nada. E falamos sobre o que acontece depois de você vencer um dos maiores jogos da história alemã nas semifinais. O que acontece depois na final? Você fica satisfeito? Você relaxa? Você fica, sim. Mas eles não fizeram isso. Vamos lá. Podemos fazer isso.

E o futuro desse time? Agora a barra está muito alta. Todo mundo sabe que a Alemanha é uma ameaça. Todo mundo vai se preparar de forma diferente para jogar contra a Alemanha. Outras equipes estão melhorando. A França não quer repetir a campanha da Copa do Mundo em uma Olimpíada em casa, e os americanos estão dizendo que vão trazer as armas pesadas para o torneio. Então, qual é o próximo passo para a Alemanha se manter no topo da montanha olímpica?

O time está definido. Pode haver mais uma ou duas adições ou mudanças. Talvez Kleber volte. Talvez alguém se machuque desta vez. Você nunca sabe. Mas acho que basicamente eles vão permanecer juntos como grupo. E quando Gordie Herbert, o treinador, assumiu como treinador principal, ele veio com a ideia louca antes do Eurobasket e disse: 'Vamos lá lutar por um lugar no pódio.' Ele fez o mesmo quando entraram na Copa do Mundo. E ficaria realmente surpreso se ele não aparecesse com uma ideia louca de ir para as Olimpíadas e dizer: 'Vamos lutar por uma medalha'.

Jornal do Brasil
 
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