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Empresa portuguesa usa radares para ‘salvar’ aves

billshcot

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Nov 10, 2010
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Uma equipa de investigadores das áreas da biodiversidade, impacte ambiental e apoio a políticas públicas trabalha, há mais de dois anos, com uma tecnologia inovadora, a aplicação de radares na monitorização da avifauna.

A empresa que desenvolveu o software envolvido nesta monitorização foi a STRIX, na qual esta equipa se dedica, actualmente e até ao final de Novembro, ao projecto de monitorização do Parque Eólico do Barão de S. João em Sagres.

Um dos objetivos principais deste projecto é desenvolver e aplicar novas técnicas que permitam a redução dos impactes em termos de mortalidade de aves planadoras migradoras, devido a colisão com os aerogeradores do parque eólico. “Este tipo de mortalidade é sobretudo expectável em parques eólicos instalados em rotas migratórias de aves, como é o caso do Parque Eólico do Barão de S. João”, explica Ricardo Tomé ao Ciência Hoje.

Por outro lado, continua o director científico da empresa portuguesa, pretende-se também “investigar que outros tipos de impactes sobre a avifauna decorrem da implantação de um parque eólico numa zona com estas características”.

O Parque Eólico do Barão de S. João localiza-se no Sudoeste de Portugal, no concelho de Lagos. Esta zona, bem como toda a região da ponta sudoeste do país, nomeadamente as zonas de Sagres e de Vila do Bispo, é atravessada anualmente por cerca de cinco mil aves planadoras durante a sua migração outonal entre Europa e África, “aumentando bastante a probabilidade de colisão” com os aerogeradores instalados, afirma Ricardo Tomé.

No entanto, a aplicação dos processos de minimização de impactes desenvolvidos pela STRIX, incluindo vigilância radar e visual, e paragem de aerogeradores, tem-se traduzido na “obtenção de mortalidade zero de aves planadoras no Parque Eólico do Barão de S. João durante todo o período de migração outonal”.

Segundo o biólogo, a paragem de aerogeradores baseada na informação obtida visualmente e com radar é um “método extremamente flexível”, que tem resultado num “número relativamente baixo de paragens”. Uma proporção elevada destas ocorre com condições de vento reduzido, o que “resulta em perdas de produção de electricidade muito diminutas”. Desta forma, o caso Barão de S. João demonstra que, pelo menos em determinadas situações, “a adopção das referidas medidas de minimização permite a compatibilização de projectos de exploração eólica com a conservação de espaços naturais de grande importância”.

O trabalho da STRIX tem igualmente permitido a obtenção de informação sobre a alteração de comportamento das aves planadoras após a construção de um parque eólico. Os dados obtidos até à data sugerem a “existência de diferenças inter-específicas marcadas nestes comportamentos”.

Algumas espécies de maior porte, como por exemplo o Grifo Gyps fulvus, não alteraram o seu comportamento migratório sobre o local, aparentemente não reagindo à implantação dos aerogeradores e continuando a utilizar a área do parque eólico similarmente ao que faziam antes da sua construção. Incorrem, por esse motivo, num “elevado risco de colisão” com os aerogeradores. Já outras espécies de menor tamanho, como o Gavião Accipiter nisus e o Bútio-vespeiro Pernis apivorus, parecem evitar a proximidade dos aerogeradores, tendo-se afastado das rotas que seguiam na área do parque eólico, após a sua implantação.

A monitorização e aplicação das medidas de vigilância e paragem temporária de aerogeradores no Parque Eólico do Barão de S. João deverão decorrer durante os anos de exploração do parque. Actualmente, a STRIX também investe no desenvolvimento do software «BirdMonitor», de análise automática das imagens radar, nomeadamente através da incorporação de análise por redes neuronais para classificação de espécies e grupos de espécies. Para além disso, vai continuar a estudar a relação dos padrões de migração com as condições meteorológicas locais, regionais e no Estreito de Gibraltar; e as reacções de pequena escala de aves planadoras perto de aerogeradores.


Grifos no Barão de S. João durante a paragem de aerogeradores (Crédito: Alexandre H. Leitão/STRIX)
 
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