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Febre Aftosa

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Febre Aftosa

A febre aftosa é uma doença viral causada por um picornavirus (de pequeno vírus RNA) que afecta gado bovino e suíno, assim como ovelhas, cabras e outros animais de casco e ruminantes.

A doença caracteriza-se pelo aparecimento de salivação, depressão, cansaço, anorexia e andar coxo nos animais. Este coxear, que é o factor diagnóstico dominante junto com a salivação, é causado pelo aparecimento de vesículas ou bolhas dolorosas nos espaços interdigitais das patas do animal. Aparecem também vesículas na pele dos lábios, língua, gengivas, narinas e mamilos.

Os animais ficam debilitados, perdem peso e as vacas diminuem ou perdem totalmente a capacidade de produzir leite. No entanto, a mortalidade é de apenas 5% nos adultos e 75% nos leitões e ovelhas ainda a amamentar.

Nos humanos, esta doença não é considerada preocupante e só se apanha em circunstâncias muito especiais e raras. A infecção nos humanos é temporária e muito leve, não sendo perigosa nem muito menos apresenta risco de morte. Segundo o jornal britânico The Guardian na última grande crise, em 1967, apenas uma pessoa ficou doente e houve suspeitas de infecção numa criança.

Este vírus é altamente contagioso para os animais e pode alastrar-se rapidamente por grandes regiões. O movimento de animais infectados ou contaminados, de produtos, objectos e pessoas (os sapatos ou botas e os pneus dos automóveis são locais privilegiados) leva a uma rápida disseminação da doença. O vírus pode também espalhar-se por meio do vento e percorrer grandes distâncias (nesta crise recente houve o receio de o vírus atravessar o canal da mancha da Grã-Bretanha para o continente europeu).

Todos estes factores tornaram o reaparecimento da doença na Grã-Bretanha uma verdadeira emergência nacional naquele país e que afectou toda a Europa.

Segundo dados mais recentes, já foram detectados mais de cem focos de febre aftosa na Grã-Bretanha e já foram sacrificados mais de 90.000 animais. É proibida a exportação deste país de animais vivos e produtos derivados. O primeiro caso da doença desde 1981 foi detectado em 19 de Fevereiro deste ano e desde então o governo britânico proibiu a exportação de gado e derivados do país, o transporte de gado dentro do mesmo e criou zonas de exclusão junto aos focos de infecção e às zonas susceptíveis de contágio. Estradas foram cortadas e desaconselhou-se a população a ir passear para o campo assim como a parar o carro junto de zonas rurais.

A União Europeia reagiu a este problema, assim como países de todo o mundo como os EUA, Austrália, entre outros. Com a globalização dos mercados, este problema torna-se potencialmente extensível a todo o Mundo. Muitos países como a Alemanha, Bulgária, Roménia, Suíça, Irlanda do Norte, Polónia e Espanha, entre outros, proibiram a importação de gado. Outras medidas de segurança também foram accionadas como a proibição do transporte de animais dentro de cada país, a desinfecção dos veículos de transporte de animais e o controlo dos passageiros que venham do Reino Unido, nomeadamente nos aeroportos, com a verificação de entrada de produtos animais e a desinfecção dos sapatos dos passageiros.

Em Portugal, foram destruídos "poucos" produtos derivados de animais que tinham sido importados da Grã-Bretanha, segundo Capoulas Santos, Ministro da Agricultura, noticiado pela Lusa. Não há também entrada de animais ou derivados provenientes da Inglaterra. No entanto, há suspeitas de um foco de febre aftosa no Alentejo. O facto ainda não foi confirmado oficialmente aquando da redacção deste texto. O aviso foi feito pelo presidente do Sindicato dos Médicos Veterinários. Portugal não está também preparado tecnicamente para poder detectar a doença.

O último caso de febre aftosa na Grã-Bretanha ocorreu em 1981 mas uma grande epidemia desta doença deu-se em 1967, altura em que foram descobertos 2.364 focos e 442.000 animais destruídos, com um custo total em perdas de exportação e despesas gerais de 117 milhões de libras. Já houve crises um pouco por todo o Mundo, incluindo os EUA, e a doença é endémica em algumas partes do mundo, incluindo a América do Sul, África e Ásia.

Esta crise traz consigo repercussões políticas e sociais importantes. Muito debate tem ocorrido na imprensa britânica acerca do assunto. Muitos criticam a política da destruição maciça dos animais. Afirmam que tem muito mais a ver com os problemas económicos que esta crise levanta do que com uma real preocupação com a saúde dos animais ou a saúde pública. Especialistas dizem que a única justificação dada pelo governo para a carnificina é somente baseada no facto de que os animais que recuperam têm menor produtividade em termos de carne e de leite. Assim, há alguns críticos que acreditam que a melhor solução não é matar os animais mas tentar isolar a doença e "deixá-la correr" de forma a que ela desapareça de forma natural. Alguns autores consideram esta doença como uma "mera constipação ou gripe" nos animais.

Esta doença, tal como a BSE (que fez decrescer em 25% o consumo de carne na União Europeia), apresenta um grande risco económico num sistema agrícola baseado na globalização dos mercados.

Há ainda críticas ao actual sistema agrícola, político e social no Reino Unido, e por arrasto, ao resto do Mundo. Títulos na imprensa britânica como "We eat like pigs, that's why Britain has foot and mouth" ("É porque comermos como porcos que a Grã-Bretanha tem a febre aftosa") são elucidativos.

Enquanto uns apontam a forma maciça de produção de gado com o intuito do lucro fácil e crescente como causa do problema, outros afirmam que a industrialização da agricultura é a solução e não o problema.

Alguns autores apresentam como argumento o facto de se alimentarem os animais com rações baratas e sem qualidade, compradas a países pobres nos quais essa doença é endémica.

A verdade é que este e outros casos, como o da doença das vacas loucas, são problemas mundiais e devem ser encarados como sinais para que todo o sistema agrícola e económico seja revisto assim como a nossa atitude perante o que compramos e comemos, bem como a nossa relação com os animais que exploramos.


Helder Pereira
Biólogo
 
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