França decide Europa

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França decide Europa

O candidato presidencial socialista François Hollande já prepara o próximo Executivo francês e forja alianças para as legislativas de Junho.

O optimismo à esquerda reforçou-se nos últimos dias, com a primeira volta das presidenciais à vista, apesar de quase tudo continuar em aberto até dia 6 de Maio, data do segundo turno.

A mais recente sondagem da Ipsos para o Le Monde, France Télévisions e Radio France coloca Hollande e o Presidente Nicolas Sarkozy em ligeira queda, empatados com 27% das intenções de voto.

E em contraciclo, prossegue a ascensão de todos os outros candidatos. A líder da extrema-direita Marine Le Pen (Frente Nacional) subiu aos 15,5%, Jean-Luc Mélenchon (Frente de Esquerda) mantém os 14,5% dos últimos dias e o centrista François Bayrou voltou a superar a fasquia dos 10%.

A confirmarem-se as previsões, é a primeira vez que cinco candidatos conquistam mais de 10% dos escrutínios, o que traduz a pulverização do voto francês e o crescente desencanto com as propostas das forças tradicionais.

Citado pelo Le Monde, o director da Ipsos, Brice Teinturier, considera ainda que a ideia da passagem de Hollande e Sarkozy à segunda volta como um dado adquirido libertou os eleitores para apoiarem outras propostas.

Entre o eleitorado mais jovem, com 18 a 24 anos de idade, a dispersão de voto é ainda maior. Aqui, Le Pen é mesmo a candidata mais apoiada (26%), seguida de Hollande (25%), Sarkozy (17%) e Mélenchon (16%).

Mas apesar de tudo, o cenário de um duelo Sarkozy-Hollande continua a ser o mais certo. E na segunda volta, em Maio, Hollande continua a ser o candidato favorito.

Com 56% das intenções de voto, tem mais de dez pontos de vantagem sobre o rival conservador, com 44%. O socialista é o que mais votos poderá ir buscar aos apoiantes de outros candidatos. Mais de 80% dos eleitores que no domingo votam em Mélenchon vão votar em Hollande no segundo turno, como o vão fazer quase 40% dos apoiantes de Bayrou.

A colheita de votos à esquerda será impulsionada com o expectável apelo ao voto em Hollande que Mélenchon prepara para após o final da primeira volta.

Para a troca, o novo Governo socialista deverá incluir comunistas em pastas secundárias pela primeira vez desde a eleição de François Mitterrand, em 1981 – isto meses depois de Hollande ter declarado à imprensa britânica que «já não há comunistas em França», para deitar água na fervura do seu próprio discurso contra os mercados financeiros.

Os centristas de Bayrou e os ecologistas de Eva Joly também poderão entrar no Executivo.

Dentro do PS francês, também há a expectativa de um Executivo abrangente que inclua as várias tendências internas, de Martine Aubry a Laurent Fabius, Jean-Marc Ayrault, Pierre Moscovici e Michel Sapin.

Para Ségolène Royal, antiga companheira de Hollande e candidata presidencial socialista em 2007 (derrotada por Sarkozy), estará reservada a presidência da Assembleia Nacional.

Sarkozy perde voto de Chirac

No campo gaulista, multiplicam-se as más notícias. Seguindo a tendência de ex-ministros e colegas de Governo de Sarkozy, o ex-Presidente Jacques Chirac, que é actualmente a figura política mais respeitada pelos franceses, deverá votar em Hollande. Aliás, como todo o seu clã, à excepção da mulher, Bernardette.

Quem o diz é o historiador Jean-Luc Barre, co-autor da biografia política do antigo chefe de Estado, onde Chirac afirma que o socialista tem estofo «de estadista» e elogia a sua capacidade de construir consensos para lá das barreiras ideológicas.

Na terça-feira, visivelmente agastado quando confrontado com a declaração de voto do antigo mentor, Sarkozy não se coibiu de aludir ao estado de saúde de Chirac, que sofre momentos de perda de lucidez.

«A melhor forma de respeitar Jacques Chirac durante as suas actuais dificuldades passa por não tentar fazê-lo falar e por não explorá-lo num sentido ou noutro», afirmou.

Nem os coelhos tirados da cartola parecem servir de muito ao Presidente.

No fim-de-semana, o Eliseu divulgou excertos de uma teleconferência entre Sarkozy e o homólogo norte-americano Barack Obama.

Os dois falavam sobre a crise síria e as negociações com o Irão. Num momento de confidência, cuja divulgação não estava prevista, Obama disse admirar «a difícil batalha» que o francês trava, referindo-se à luta eleitoral.

«Vamos vencer, monsieur Obama. Eu e você, juntos», respondeu Sarkozy. Washington não terá sido informada da utilização do excerto.

Também a chanceler alemã Angela Merkel foi 'traída' pelo colega francês.

No fim-de-semana, Sarkozy defendeu a reorientação estratégica do Banco Central Europeu como mecanismo de apoio ao crescimento económico, ao arrepio do concerto franco-alemão até agora vigente.

Esta será a derradeira cartada do enérgico e polémico Presidente francês, a do realinhamento do discurso económico europeu.

Sarkozy tenta assim responder a Hollande, que promete renegociar o pacto fiscal e instaurar uma agenda de crescimento.

Se Sarkozy respira politicamente até 6 de Maio, pelo menos, já Merkozy aguarda a certidão de óbito.


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