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Homem que degolou a mulher diz que não tinha intenção de matar
O homem de 26 anos acusado de homicídio qualificado por ter degolado a mulher, disse hoje em tribunal que não tinha intenção de matar, acrescentando que foi a vítima quem primeiro agarrou na faca e o agrediu.
Bouna Sackho afirmou que durante o mês que antecedeu o crime, ocorrido a 11 de Setembro de 2011, o casal discutia «por tudo e por nada». Na noite dos factos, o suspeito referiu que a discussão teve início após Helmina Biem ter visto no seu telemóvel números de outras mulheres.
O arguido explicou que a discussão começou a «ficar mais forte» e que ambos agrediram-se mutuamente, justificando que a mulher foi à cozinha, agarrou numa faca e seguiu na sua direcção. «Senti a minha vida em perigo. Não sei porque é que ela pegou na faca», disse.
A pedido do colectivo de juízes, o suspeito mostrou as quatro cicatrizes [duas na zona do pescoço e duas na região torácica], alegadamente perpetradas pelas vítima.
Bouna Sackho admitiu que apenas pegou numa outra faca, para fazer com que a sua mulher largasse aquela que empunhava, e que presumivelmente terá utilizado para atingi-lo.
«Tenho consciência da gravidade da situação, mas nunca foi minha intenção matá-la. Foi um azar que aconteceu na minha vida. Eu não queria fazer-lhe mal. Foi tudo muito rápido e não sei explicar muito bem o que aconteceu», disse o arguido, sem no entanto explicar em que circunstância é que ocorreu a morte da vítima, nem como é que a mesma apareceu com um corte no pescoço.
Esta versão dos factos não convenceu o Ministério Público (MP), para quem o arguido entrou em contradição. Por isso, o magistrado do MP solicitou a inquirição da inspectora da Polícia Judiciária responsável pela investigação, que será ouvida na próxima sessão agendada para 14 de Junho.
Na sessão desta manhã foi também ouvida a mãe da vítima. Por decisão do colectivo de juízes, enquanto esta prestava depoimento, o arguido saiu da sala de audiências.
A mãe da jovem disse que o genro agrediu duas vezes a filha. Uma quando ainda moravam em sua casa e outra já no apartamento onde aconteceram os factos, do qual é proprietária.
Acrescentou que o arguido apenas quis casar com a filha e depois a pressionou a ter um filho, para que este pudesse pedir os documentos com vista à sua legalização.
A mulher disse que o crime foi cometido exactamente no dia em terminava o prazo [uma semana], que tinha dado ao genro para este deixar a residência.
A última testemunha ouvida hoje, amiga e confidente da vítima, confirmou as agressões alegadamente levadas a cabo pelo arguido, e denunciou um anterior episódio em que Bouna Sackho terá empunhado uma faca contra Helmina Biem.
A testemunha acrescentou que a vítima queria divorciar-se mas que o suspeito não aceitou a ideia.
No despacho de acusação do Ministério Público (MP), a que a Agência Lusa teve acesso, na noite de 11 de Setembro do ano passado, durante uma discussão relativa à ruptura do casamento, o arguido desferiu vários golpes na mulher, com uma faca de cozinha de 33 centímetros de cumprimento.
Segundo o MP, Bouna Sackho esfaqueou Helmina Biem várias vezes no pescoço, acabando por a degolar. A vítima sofreu também ferimentos na zona do dorso e nos membros superiores. Para a acusação, as lesões no pescoço e no dorso provocaram a morte da mulher.
O MP sustenta que as circunstâncias e o modo de actuação são especialmente censuráveis, uma vez que a vítima foi agredida no quarto do casal, no apartamento onde ambos residiam, em Samora Correia, quando se encontrava nua e vulnerável.
A mulher ainda tentou fugir e defender-se das agressões do marido, como demonstram os ferimentos nas mãos e nas costas, defende o MP. Acrescenta que o arguido agiu com o propósito de a matar.
Bouna Sackho encontra-se em prisão preventiva e está acusado pelo Ministério Público de um crime de homicídio qualificado na forma consumada, punível com pena de prisão de 12 a 25 anos.
Lusa/SOL