Hospital mandou doente nu para casa
Família acusa hospital de deixarhomem em casa embrulhado numlençol. Administração vai investigar
00h00m
teresa cardoso*
Bateram-lhe à porta de casa, na Guarda, às duas da manhã. Eram os bombeiros a entregar-lhe o irmão, de 73 anos, doente pulmonar, que tinha tido alta hospitalar. Estava nu. Apenas coberto com um lençol. A irmã não cala a sua revolta.
O Hospital da Guarda abriu um processo de averiguações para apurar as circunstâncias em que um doente foi enviado para casa sem roupa, apenas embrulhado num lençol, disse ontem à Lusa fonte da direcção.
A irmã de um doente de 73 anos, que deu entrada naquele serviço no dia 25 de Junho, apresentou uma queixa no livro de reclamações da unidade de saúde, alegando que o serviço de urgências do hospital enviou o familiar para casa, cerca das duas da manhã do dia 27, "envolvido num lençol e nu".
"[O caso] está em averiguação por parte do hospital", garantiu Fernando Girão, presidente do Conselho de Administração do Hospital Sousa Martins (HSM), da Guarda. Fernando Girão diz que o episódio "não é nenhum atentado à dignidade [da pessoa]", indicando que em dias de calor "é normal" que os doentes, "a maior parte das vezes, estejam com uma fralda e tapados com um lençol".
Como a ocorrência está "em processo de averiguação", Fernando Girão diz aguardar pelas diligências para, mais tarde, poder aferir se houve ou não falhas da unidade de saúde, considerando ser necessário "ouvir toda a gente, para saber como é que o doente saiu e se, eventualmente, ele se despiu".
A irmã do doente, Natália Martins, contou que o irmão, que sofre de esquizofrenia, deu entrada na urgência do HSM no dia 25 de Junho, cerca das 17.30 horas, apresentando "a barriga e os pés muito inchados", tendo ficado internado. No dia seguinte, pelas 12.30 horas voltou ao hospital mas conta que não lhe foi permitido ver o irmão, "porque estava para exames".
"Saí do trabalho às 15.30 horas e voltei lá. Também não me deixaram vê-lo, tendo-me sido dito que estava a fazer uma ecografia renal e outra abdominal", disse. Na madrugada do dia 27 de Junho, "por volta das 2 horas, dois bombeiros foram levá-lo a casa, envolvido num lençol e nu", afirmou, com indignação.
"Não tinham lá roupa [no hospital] porque no dia em que ficou internado eu trouxe-a, mas eles telefonavam-me de manhã, às 6 ou às 7, fosse a que horas fosse, e eu levava-lhe roupa, porque eu não o abandonei, para mo entregarem assim", disse.
Logo na manhã daquele dia, Natália Martins, residente em Rochoso, Guarda, dirigiu-se ao serviço de urgência do hospital da Guarda e exarou um protesto no livro de reclamações.
Referiu que o irmão "não anda sozinho, ninguém o percebe a falar, por isso, ele não disse nada", justificando, assim, o facto de o doente não se ter oposto ao transporte nas circunstâncias referidas.
"Isto não se faz a ninguém. Nem a um garoto, quanto mais a um velhinho", concluiu.
Natália receia que o irmão, que na última segunda feira foi novamente internado, venha a ser prejudicado no Hospital Sousa Martins com a mediatização do caso.