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Inaugura-se amanhã escultura de Rui Chafes doada a Lisboa
Obra em ferro forjado tem seis metros de altura e pesa quase uma tonelada
Tem seis metros de altura e pesa perto de uma tonelada. Quase 60 anos depois da última estátua ali ter sido colocada, uma décima escultura será acrescentada ao mobiliário urbano da Avenida da Liberdade. Chama-se Eu Sou como Tu, foi encomendada ao escultor Rui Chafes pela Fundação PLMJ - instituída pela sociedade de advogados de José Miguel Júdice - e doada à cidade de Lisboa. A obra, em ferro forjado, é inaugurada amanhã frente ao número 224 (morada da sede da sociedade) e representa um acontecimento que é uma novidade a diversos títulos.
Desde logo porque promove a participação da sociedade civil na vida cultural da comunidade; depois, porque dá um primeiro passo na requalificação do espaço público. Em Portugal, só se ouve falar de arte pública para nomear as rotundas que inundam as cidades, algumas estátuas avulsas ou os monumentos, muitos deles duvidosos. Excepção feita à Expo'98 que é exemplar neste contexto.
Fazer arte para ocupar lugares que têm história, por oposição à neutralidade branca dos museus e galerias, obriga a "respeitar a dignidade de um espaço humano que é, por natureza, especial e único", afirma o próprio Rui Chafes em entrevista publicada no catálogo agora editado sobre a sua obra. Para este trabalho, continua o artista, "o que me importou foi desenvolver um trabalho para um lugar tão simbolicamente carregado".
Eu Sou como Tu vai ser a primeira escultura a, definitivamente, ter lugar na Avenida da Liberdade e a ocupar um lugar entre as estátuas e monumentos (a última, busto de Alexandre Herculano, da autoria de Salvador Barata Feyo, foi erguida em 1950).
No seu conjunto, as esculturas de Chafes equacionam a relação entre transparência e opacidade, peso e leveza, atracção terrena e elevação celestial. E esta não é excepção. Trata-se de um corpo, feito de ferro, fogo e palavra, que lembra a erupção de forças primárias do interior da terra. Uma matéria que se torna sensível e que parece querer tornar-se parte do céu e das espécies vegetais que a rodeiam.
A palavra é um elemento determinante no trabalho do artista - parte importante do seu trabalho é dedicada à publicação de livros, à escrita e à tradução -, por isso pode assumir-se que o mote poético é uma constante e cobre as suas forma.
Este novo trabalho tem no seu título uma chave importante da sua compreensão. Que a escultura seja como aqueles que a vêem, significa que o seu corpo é idêntico ao corpo humano e, sobretudo, que entre tudo o que existe se pode estabelecer uma relação de semelhança. As diferenças são de intensidade, de linguagem, de expressão, de matéria. Ainda que se trate de uma obra de grandes dimensões, a harmonia e integração com o lugar que ocupa é bem sucedida. Não é uma intromissão monumental, nem um gesto extravagante. A sua característica principal é a leveza e, nas palavras do artista, é "uma visão fugaz."
Este sublinhar do anonimato e quase inivisibilidade, metafórica, tratando-se de espaço público, implica um compromisso ético da escultura com o mundo. Uma relação de respeito e compromisso com o outro, humano, vegetal e arquitectónico, que é um dos eixos fundamentais. Esta doação da PLMJ abre um precedente e constitui uma excepção. Neste caso específico, existem motivos de comemoração, por se tratar de um artista reconhecido internacionalmente, e um dos nomes fundamentais da escultura portuguesa contemporânea.
(NUNO CRESPO)
DN Online

Obra em ferro forjado tem seis metros de altura e pesa quase uma tonelada
Tem seis metros de altura e pesa perto de uma tonelada. Quase 60 anos depois da última estátua ali ter sido colocada, uma décima escultura será acrescentada ao mobiliário urbano da Avenida da Liberdade. Chama-se Eu Sou como Tu, foi encomendada ao escultor Rui Chafes pela Fundação PLMJ - instituída pela sociedade de advogados de José Miguel Júdice - e doada à cidade de Lisboa. A obra, em ferro forjado, é inaugurada amanhã frente ao número 224 (morada da sede da sociedade) e representa um acontecimento que é uma novidade a diversos títulos.
Desde logo porque promove a participação da sociedade civil na vida cultural da comunidade; depois, porque dá um primeiro passo na requalificação do espaço público. Em Portugal, só se ouve falar de arte pública para nomear as rotundas que inundam as cidades, algumas estátuas avulsas ou os monumentos, muitos deles duvidosos. Excepção feita à Expo'98 que é exemplar neste contexto.
Fazer arte para ocupar lugares que têm história, por oposição à neutralidade branca dos museus e galerias, obriga a "respeitar a dignidade de um espaço humano que é, por natureza, especial e único", afirma o próprio Rui Chafes em entrevista publicada no catálogo agora editado sobre a sua obra. Para este trabalho, continua o artista, "o que me importou foi desenvolver um trabalho para um lugar tão simbolicamente carregado".
Eu Sou como Tu vai ser a primeira escultura a, definitivamente, ter lugar na Avenida da Liberdade e a ocupar um lugar entre as estátuas e monumentos (a última, busto de Alexandre Herculano, da autoria de Salvador Barata Feyo, foi erguida em 1950).
No seu conjunto, as esculturas de Chafes equacionam a relação entre transparência e opacidade, peso e leveza, atracção terrena e elevação celestial. E esta não é excepção. Trata-se de um corpo, feito de ferro, fogo e palavra, que lembra a erupção de forças primárias do interior da terra. Uma matéria que se torna sensível e que parece querer tornar-se parte do céu e das espécies vegetais que a rodeiam.
A palavra é um elemento determinante no trabalho do artista - parte importante do seu trabalho é dedicada à publicação de livros, à escrita e à tradução -, por isso pode assumir-se que o mote poético é uma constante e cobre as suas forma.
Este novo trabalho tem no seu título uma chave importante da sua compreensão. Que a escultura seja como aqueles que a vêem, significa que o seu corpo é idêntico ao corpo humano e, sobretudo, que entre tudo o que existe se pode estabelecer uma relação de semelhança. As diferenças são de intensidade, de linguagem, de expressão, de matéria. Ainda que se trate de uma obra de grandes dimensões, a harmonia e integração com o lugar que ocupa é bem sucedida. Não é uma intromissão monumental, nem um gesto extravagante. A sua característica principal é a leveza e, nas palavras do artista, é "uma visão fugaz."
Este sublinhar do anonimato e quase inivisibilidade, metafórica, tratando-se de espaço público, implica um compromisso ético da escultura com o mundo. Uma relação de respeito e compromisso com o outro, humano, vegetal e arquitectónico, que é um dos eixos fundamentais. Esta doação da PLMJ abre um precedente e constitui uma excepção. Neste caso específico, existem motivos de comemoração, por se tratar de um artista reconhecido internacionalmente, e um dos nomes fundamentais da escultura portuguesa contemporânea.
(NUNO CRESPO)
DN Online