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Uma jovem de 22 anos morreu por falência múltipla dos órgãos, em Estrasburgo, França, horas depois de ter chamado uma ambulância, através da linha telefónica de emergência, e ter visto o pedido de socorro ignorado pela operadora de serviço, que, num tom jocoso, desvalorizou a situação.
O caso polémico, ocorrido a 27 de dezembro último, está a causar uma onda de revolta e indignação em França, depois de, esta semana, ter sido noticiado pela imprensa, que divulgou o áudio da chamada telefónica de emergência entre a vítima e a telefonista.
Naomi Musenga ligou para o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) queixando-se de dores abdominais fortes. Talvez por não ter conseguido ser detalhada ao expor os sintomas - apenas pediu ajuda continuadamente -, a operadora de linha não terá levado a sério as queixas e desvalorizou a situação. "Vou morrer", disse a mulher, durante o telefonema, que teve a duração de três minutos. "Vai morrer de certeza, um dia, como toda a gente", respondeu a funcionária, enquanto ironizava o estado de saúde de Naomi em conversa com um colega.
Depois de lhe ter dito que não conseguia ajudar a jovem, a telefonista sugeriu-lhe que contactasse o "SOS Médécins", serviço de consultas médicas a domicílio. Assistida num hospital horas depois, Naomi acabou por morrer, tendo a autópsia ao corpo revelado, mais tarde, falência múltipla dos órgãos como causa da morte.
A telefonista foi suspensa e a Procuradoria de Estrasburgo anunciou, esta quarta-feira, que abrirá um inquérito por negligência.
A ministra da saúde francesa, Agnès Buzn, manifestou, no Twitter, estar "profundamente indignada" com as circunstâncias da morte da jovem. "Quero assegurar à família o meu total apoio e solicitar um inquérito à IGAS (Inspeção-Geral das Atividades em Saúde) sobre estas falhas graves", escreveu.
A morte deu origem ao início de um debate geral em torno do funcionamento do serviço de emergência, em França, com vários críticos a apontarem a falta de recursos como um problema estrutural no setor. Em resposta, em entrevista à rádio France Info, a ministra declarou, esta quarta-feira, que o caso é "particular, individual" e não reflete qualquer outra falha na Saúde.
"Fica claro que o problema é de alguém que não tem absolutamente nenhuma empatia, que não aplica os procedimentos, e que brinca com alguém que está doente", acrescentou. Segundo a governante, o SAMU recebe, em média, 25 milhões de telefonemas por ano e "na grande maioria dos casos, os pacientes são muito bem tratados".
Por outro lado, em entrevista ao "Le Parisien", o presidente da associação de médicos de emergência, Patrick Pelloux, defendeu que os funcionários do setor estão "exaustos, stressados e à beira do colapso" e consequentemente "distanciados do sofrimento do paciente", solicitando a contratação de mais profissionais para as linhas telefónicas de emergência.
IN:JN