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O Juiz de Soajo
Lenda ou realidade, a história do juiz de Soajo, Ti Sarramalho, é por todos conhecida, sendo ele o símbolo da inteligência e justiça de todo o povo da Vila de Soajo.
OEm tempos cometeu-se um assassinato nesta serra de Soajo, e o juiz do julgado, sem que o assassíno o suspeitasse, foi testemunha do crime.
Deste crime foi acusado um inocente que teve de sentar-se no banco dos réus.
O Juiz (testemunha ocular do facto), apesar de haver algumas provas contra o inocente, e como não podia intervir directamente na acusação, lavrou então a seguinte e curiosa sentença:
“Que o homem morra que não morra, dê-se-lhe um nó que não corra.
Degradado por toda a vida, e cem anos para se preparar”.
Esta sentença diz-se que foi proferida pelo juiz Manuel Domingues Sarramalho, de Tibo, freguesia da Gavieira.
Fizeram-lhe ver que não havia quem compreendesse esta sentença, mas ele respondeu que recorresse, quem nisso tivesse interesse.
Assim o fizeram o réu e a parte acusadora,e fizeram subir os autos até à Relação do Porto.
Ali, depois de muito matutar, resolveram que fosse chamado o juiz Sarramalho para decifrar a sentença.
O nosso Soajeiro meteu-se a caminho e lá foi até ao Porto em obediência á autoridade, vestido do seu burel e com a capa de saragoça que por ali usavam.
Aparecendo perante o tribunal ninguém lhe ligou importância, tal a sua rude apresentação e maneira de vestir.
Só depois de declinar a sua qualidade de juiz, é que o juiz da Relação o mandou entrar para a sala da presidência.
Como lhe não oferecessem cadeira, como competia á sua categoria de juiz, sentou-se no chão, em cima do seu capote e explicou então a dita sentença por ele dita: dizendo que o réu estava inocente, pois o crime tinha sido praticado por outro, pois foi ele o próprio juiz testemunha presencial do facto, e portanto, se não podia ser testemunha no processo, em consciência também não podia condenar um inocente sem praticar a maior das injustiças. Deu-lhe pois por isso, cem anos para se preparar para a condenação.
No fim do seu arrazoado testemunho, levantou-se fazendo uma vénia e saiu da sala, mas deixando no soalho o seu capote.
Chamando alguém a sua atenção para o capote que deixava no chão, ele respondeu:
“O Juiz de Soajo, cadeira onde se sentou, nunca consigo a levou.”
Esta resposta foi uma censura aos da Relação do Porto por não o terem tratado com o respeito e deferência que o seu cargo merecia e por lhe não terem mandado por uma cadeira, que ele decerto não levava consigo.
SOAJO
Soajo já teve vários forais, tendo o último sido concedido em 1514. Mais tarde, viria a ser concelho, abrangendo as freguesias de Ermelo e Gavieira, mas foi extinto em 17/02/1852, em consequência das reformas liberais. Esta freguesia tem uma área de cerca de 3913 hectares e situa-se a cerca de 20 km da vila de Arcos de Valdevez. É delimitada a Norte pela freguesia da Gavieira, a Este pela Espanha, a Sul pelas freguesias de Lindoso e Britelo e a Poente pelas freguesias de Gondoriz, Cabana Maior, Vale e Ermelo.
Vista sobre o Soajo
A aldeia do Soajo está implantada numa das vertentes da Serra da Peneda, sobranceira ao Rio Lima. A sua história já vem de longe. Consta que terá sido fundada no século I, mas só no século XVI lhe foi atribuída carta de foral. Desde a fundação da nacionalidade portuguesa que o seu povo goza de privilégios. Quando outras localidades de Portugal invocavam a liderança espanhola, o Soajo reconhecia o rei de Portugal como legítimo e isso valeu-lhe vários direitos.
Os habitantes da região eram designados por monteiros, em virtude de a sua principal actividade ser a caça. Ursos, javalis, cabras-bravas, lobos e raposas eram as espécies capturadas.
Em 1852, o Soajo viria a perder o direito a sede de concelho. Porém, não perdeu a sua peculiaridade. Ainda hoje, as ruas são pavimentados com lajes de granito e as casas construídas com blocos de pedra. A vida em comunidade sempre foi muito importante nesta aldeia. Até há cerca de um século atrás, o Soajo tinha um juiz eleito pelo povo.
Enquadrada numa região de rara beleza, esta aldeia tem outras curiosidades nas suas imediações, como as Antas do Soajo, a Ponte Velha e o Miradouro do Côto Velho.
A visitar
A aldeia do Soajo é famosa pela sua eira comunitária constituída por 24 espigueiros, todos em pedra e assentes num afloramento de granito. O mais antigo data de 1782. Estes monumentos de granito foram construídos na altura em que se incrementou o cultivo do milho e serviam para proteger o cereal das intempéries e dos animais roedores. Parte destes espigueiros são ainda hoje utilizados pelas gentes da terra.
Espigueiros e eira comunitária
Junto à capela existe um moinho em ruínas designado por moinho do convento. Coberto pela vegetação, ainda possui cobertura e alberga os equipamentos de moagem.
O Pelourinho é um monumento rude, de menor valor artístico e etnográfico, é um testemunho do tempo em que esta população serrana foi vila. Sobre três degraus assenta a coluna, em cuja parte superior, sem capitel, aflora uma carta rudemente lavrada. No alto da coluna, insolitamente, existe uma grossa laje de forma triangular. Segundo a tradição, o Pelourinho do Soajo, representa o pão a esfriar na ponta de uma lança. Consta que no reinado de D. Dinis, os monteiros se terão queixado dos abusos de fidalgos, pelo que o monarca terá dado ordem para que estes não se demorassem ali mais do que «o tempo de esfriar um pão na ponta de uma lança».
Pelourinho
A Ponte da Ladeira tem como característica principal um único arco de aduelas estreitas, construído sobre as bases sólidas de dois paredões, que originam um tabuleiro em dupla rampa ou um pequeno cavalete com parapeitos baixos.
Próximo da capela existem muitas ramadas que se prolongam pela povoação dentro, marcando a paisagem. Todo o percurso é muito valorizado pela presença da vinha. Junto da capela, na beira da estrada, há algumas oliveiras. Há também um castanheiro; ao longo da estrada podem encontrar-se muitos mais.
Realiza-se uma feira todos os primeiros domingos do mês que é motivo de convívio para as gentes da terra.






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