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Lua mãe

Luana

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A Lua marca as marés e influencia o crescimento das plantas. No plano da astrologia, é o planeta da maternidade. Mas terá capacidade para determinar o momento do parto? Mesmo sem unanimidade científica, muitos profissionais de saúde e pais acreditam que sim. Atenção, pois, à próxima Lua Cheia

O exercício é extremamente simples. Basta digitar num motor de busca da internet a expressão «Lua e parto» para, num ápice, o ecrã do computador se encher de dezenas de referências. Portais mais ou menos científicos, fóruns de discussão e blogues debatem de forma acesa a alegada influência do nosso satélite no momento em que os bebés decidem conhecer o mundo.

E há argumentos para todos os gostos: desde quem rejeite completamente a intervenção lunar – apelidando-a de «mito urbano» ou outras expressões bem menos simpáticas – até quem puxe de calendários lunares para apontar a altura do nascimento e garanta a pés juntos que este é um método tão fiável como qualquer outro para calcular a altura do parto.

Discussões à parte, o facto é que não existe nenhuma grávida que não pense, mais tarde ou mais cedo, se as garantias dadas pelas avós sobre o poder da Lua serão ou não para levar a sério. Mas a questão é que não há, por agora, nenhuma resposta definitiva, já que os estudos científicos estão longe de serem conclusivos. Recorrendo à experiência de quem assiste a milhares de partos deparamos, no entanto, com a convicção de que pode mesmo existir uma ligação entre as fases da Lua e os nascimentos. E, para quem defende esse laço, ele aparece como natural, já que toda a gravidez é também determinada pelos ciclos lunares.

Há milhares de anos, muito antes do calendário solar se ter tornado a regra determinante para contar a marcha do tempo, a vida e as estações eram geridas pelas faces da Lua. E também a fertilidade se regia pelos períodos lunares de 28 dias, afinal tão paralelos com os ciclos menstruais. Assim, uma mulher que engravidasse numa determinada fase da Lua poderia esperar ter o seu filho nos braços quando tivessem passado outras nove fases lunares semelhantes. Se quisermos fazer um paralelo para a regra a que estamos mais habituados, isto significa que as 40 semanas de gestação – ou seja, 240 dias – correspondem a cerca de nove meses solares e a dez meses lunares.

Em teoria, todos as nossas etapas metabólicas deveriam manter-se em sincronia com os estímulos naturais e isto inclui, naturalmente, a fecundidade. Vários estudos feitos por biólogos e antropólogos revelaram que nas sociedades desprovidas de luz eléctrica os ciclos das mulheres acertam o passo com a Lua, com ovulações na Lua Cheia e menstruações na Lua Nova. Este ritmo é tão patente que foi designado como «Fertilidade Lunar» e poderá estar relacionado não só com a força gravitacional como também com os níveis de luz. A escuridão total da Lua Nova leva a que o corpo produza melatonina, enquanto que a luz da Lua Cheia pára esse processo, desencadeando o início da ovulação.

Não se pense que este tipo de estimativas se extinguiu com o avanço da História: em muitas sociedades menos tecnológicas a Lua ainda é a ferramenta preferencial para calcular a altura do nascimento, mas nunca o dia exacto. Ou seja, espera-se que ela influencie, mas é pouco importante se tal vier a acontecer dois dias antes ou depois do que determina o calendário.

Mary Zwart, parteira de origem holandesa radicada em Portugal, confirma que «os ciclos da mulher são lunares e, assim, faz sentido que a contagem da gravidez seja também baseada na Lua». E recorda: «quando não existia outro modo de medir a passagem do tempo, era para o céu nocturno que as pessoas se viravam para orientação de muitos aspectos das suas vidas e isso incluía, naturalmente, a espera por um bebé».




Cheia de água


Mas nem todas as mulheres engravidam na Lua Cheia. Assim, como se explica que nas maternidades se encham de cada vez que a Lua aparece no céu nocturno em todo o seu esplendor? Mais uma vez, existem várias teorias e uma delas baseia-se nas leis da gravidade que ligam o satélite da Terra a todos os seres e objectos que povoam o nosso planeta.

À medida que a gravidez se aproxima do fim, o saco amniótico fica de tal forma distendido que pode romper quando submetido a qualquer tipo de tensão. Isto é, às alterações de pressão e densidade que o líquido amniótico experimenta no seu interior. É sabido que a força gravitacional da Lua modifica todas as massas de água no planeta – sejam elas os imensos oceanos ou o mais fino ribeiro. Assim se explicam as idas e vindas das marés. E o mesmo se passará na água que, dentro da barriga, banha o bebé, quase como se o corpo da mãe fosse, também ele, um mar. Quando a Lua está mais forte, a pressão torna-se muitas vezes insustentável, a bolsa rompe-se e o parto pode ter início.

Dizem os cépticos que a quantidade de líquido na gravidez é tão ínfima, quando comparada com os mares da Terra, que muito dificilmente a influência da Lua, mesmo Cheia, é mensurável. E que os relatos de mais nascimentos numa determinada fase do mês padecem de erros estatísticos e de influências psicológicas (ver caixa).

Mary Zwart assiste a dezenas de partos por ano e admite que a alegada influência lunar está muito mais ligada às expectativas de quem acredita do que a uma realidade mais concreta. «Ninguém sabe exactamente o que marca o início do trabalho de parto. Se a mulher estiver atenta à mudança das fases da Lua e a placenta estiver pronta a terminar o seu trabalho, é bem possível que, a nível psicológico, a cabeça da mãe decida que é tempo de fazer nascer o bebé e isso coincida com as alterações lunares, em especial com a Lua Cheia, bem mais significativa».

Se a luz verde é dada pelo Céu, pelo corpo ou pela cabeça da mulher, o facto é que muitos os profissionais de saúde são os primeiros a afirmar que existe mais trabalho nessa altura. Rosália Marques, enfermeira-obstetra no Hospital Garcia de Orta, em Almada, confirma que «existe uma maior afluência ao hospital e, tendencialmente, mais nascimentos durante as fases de Lua Cheia e isso é natural, pois a gravidez é, ela própria, mensurável em ciclos lunares». E este fenómeno chega a determinar, em algumas instituições de saúde, o reforço no número de pessoas que integram as equipas.

Médicos do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Marche (Itália) foram um pouco mais além e resolveram procurar dados que comprovassem ou desmentissem o conhecimento empírico sobre a influência da Lua nos nascimentos espontâneos. Analisaram 1250 partos, ocorridos num espaço de três anos – ou 36 meses lunares – e registaram um acréscimo durante as luas cheias, em especial nos partos de mulheres que já tinham filhos.

Anabela Cristóvão teve dois filhos durante a Lua Cheia e um em plena Lua Nova. «Quando a primeira gravidez estava a chegar ao fim, a minha tia mais velha não se cansava de dizer para estar atenta à ‘mudança das luas’, em especial do Quarto Crescente à Lua Cheia. Eu, céptica, brincava com ela, mas o facto é que tive os primeiros sinais numa tarde, à noite era Lua Cheia e o Ricardo nasceu às três da tarde do dia seguinte.» Dois anos depois, a Ana Rita também nasceu na Lua Cheia «e quando eu me preparava para que o parto do Pedro seguisse o dos irmãos, ele apareceu na Lua Nova anterior. Mas nem isso demoveu a minha tia: ‘o rapaz foi apressado, mas se esperasse como os mais velhos tinha sido na Lua Cheia!’», recorda, a sorrir, garantindo que ela própria acredita hoje «mais na influência da Lua nestas coisas».

Palavra aos cépticos


A Lua Cheia apenas é referida quando se fala do nascimento de uma criança porque as pessoas já estão pré-determinadas para fazer essa relação, esquecendo todos os outros bebés que nascem ao longo do mês. Este é um dos principais argumentos de quem não acredita em influências lunares nos partos. O outro argumento é que não foi realizado nenhum estudo estatístico suficientemente alargado sobre o assunto. Num artigo publicado no semanário «Expresso», o matemático Nuno Crato dá força ao cepticismo, afirmando que nenhum dos 11 estudos referidos na base de dados de investigação clínica PubMed confirma que «os ciclos lunares tenham alguma coisa a ver com os partos». Apenas dois trabalhos, de origem francesa e norte-americana, registam um ligeiro acréscimo, mas antes da Lua Nova, ou seja, em pleno Quarto Minguante. Por sua vez, Nuno Montenegro, obstetra do Hospital de São João, recorre às estatísticas da instituição para afirmar que «não existe qualquer diferença» assinalável no número de partos conforme as diferentes fases da Lua. E, mais uma vez, é no Quarto Minguante que acontece um aumento muito pequeno nos nascimentos.

Vários ritmos


Um estudo publicado no portal Birthsource.com defende a existência de vários ritmos na frequência de partos ao longo do ano e não só relacionados com as fases da Lua. Os investigadores analisaram 5,9 milhões de nascimentos em França, ocorridos ao longo de seis anos e chegaram à conclusão, estatisticamente, os domingos são os dias da semana em que nascem menos bebés e a quintas-feiras são as mais prolíficas. Anualmente, o número máximo de partos acontece, em média, durante o mês de Maio e o número mínimo nos meses de Setembro e Outubro. Os cientistas fizeram também uma análise comparativa do número de partos e as fases da Lua e chegaram à conclusão de que nasceram mais crianças entre a Lua Cheia e a Lua Nova e menos crianças entre a Lua Nova e o Quarto Crescente.


in Pais e Filhos
 
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