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Marcel.lí Antúnez, fundador de La Fura dels Baus, inaugura exposição

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Arte: Marcel.lí Antúnez, fundador de La Fura dels Baus, inaugura exposição na Galeria Zé dos Bois

Lisboa, 06 Mai (Lusa) - Chama-se "Outras Peles" a exposição antológica do artista plástico catalão Marcel.lí Antúnez, um dos fundadores do grupo de teatro La Fura dels Baus, que será inaugurada quinta-feira na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa.

"Este projecto enquadra-se num período do meu trabalho a que eu chamo `Membranas`. As `Membranas` constituem uma espécie de reflexão sobre o meu cosmos pessoal e sobre o trabalho que venho realizando há mais de 25 anos e que tenta, de algum modo, construir o meu universo", disse hoje Marcel.lí Antúnez, em conferência de imprensa.

Uma selecção de peças de 1994 até à actualidade, a mostra, que não segue uma ordem cronológica, inclui desenhos, robótica, arte biológica e sistemas audiovisuais interactivos.

"Esta exposição está organizada entendendo o mundo como uma grande membrana. Penso que há cinco membranas: a biosfera, a membrana social, a membrana do vestuário - as próteses -, a epiderme e a membrana neurológica", explicou.

"E daí o título `Outras Peles`", porque, de algum modo, são trabalhos que reflectem sobre a identidade, em torno das dimensões, em torno da possibilidade e da realidade de tocar, em torno do vestuário e das próteses", prosseguiu.

A mostra, com curadoria de Natxo Checa, centra-se em três áreas temáticas: peles, membranas e processos.

Os "exoesqueletos" - próteses mecânicas - são apresentados como peles, bio-instalações como "Agar" e "Metzina" surgem como membranas e várias séries de desenhos, objectos e outros elementos ilustram os seus processos metodológicos.

"A exposição inicia-se com uma bio-instalação e acaba com outra bio-instalação - a ideia da vida no sentido mais estrito, o sentido biológico, está presente desde o início da vida até ao final, e estas duas instalações são uma metáfora desse princípio", sustentou o autor.

"A primeira instalação mostra ecossistemas onde se vêem culturas de micróbios que vão formar uma obra plástica e na última peça vemos morrer um pedaço de carne que se decompõe num poema", referiu.

Poderão ser vistas no espaço da ZDB seis instalações interactivas "que tocam aspectos muito diferentes, desde a ideia do abraço, do tacto, da emoção, até às entidades efémeras e ao vestuário", indicou Marcel.lí Antúnez, salientando "outro aspecto": "a ideia do desenho".

"O desenho regressa ao meu trabalho neste período da minha vida - eu tenho agora quase 50 anos, faço 49 este ano - com uma técnica muito simples que faz uma revisão conceptual de uma representação do meu próprio mundo. É como uma re-representação", definiu.

Há, nesta mostra, três modelos de desenhos, apontou: "os desenhos-raiz, que servem para animações das minhas performances, dos meus espectáculos, os desenhos murais, que são um trabalho inserido na própria galeria [em que são expostos] e o desenho dinâmico, que é uma ideia de desenho em torno da interactividade e da narração".

Inquirido pela Lusa sobre a forma como define a sua forma de arte, Marcel.lí Antúnez declarou-se "humanista, não pós-humanista", porque o seu trabalho "apela às emoções, apela à narração".

"Durante algum tempo, fui um dos pioneiros da arte electrónica, não só do meu país, mas a nível mundial, e ao princípio, sobretudo, uma parte do meu trabalho foi associada à Stellar Art, à relação do corpo com a máquina e todo esse tema, mas agora vê-se claramente que são duas linhas de trabalho absolutamente diferentes", sublinhou.

Na sua opinião, "estamos agora noutro momento histórico", no que diz respeito à arte.

"Do paradigma digital, que foi muito importante nos anos 90 e que é uma parte importante do meu trabalho, passou-se a um novo paradigma que é onde a tecnologia se funde na nossa vida como mais uma coisa. Já não é um mundo à parte. Hoje, todos esses materiais revertem para o mundo da arte e se fundem com as propostas dos artistas", defendeu.

"A esta altura da minha vida, creio que estou a construir um caminho pessoal que é um caminho complexo, porque é formado por muitos elementos, porque tem muita unidade, e essa unidade vê-se com o tempo, com os anos", observou.

Para Marcel.lí Antúnez, "o papel do artista é investigar o mundo, interpretar o mundo, como será o de um cientista ou um filósofo".

"Mas, no meu caso - precisou - a partir de uma perspectiva de uma representação particular que, evidentemente, tem que ver com o meu passado, com a minha infância, a minha cultura, a minha geração e, de certo modo, com as minhas preocupações e a minha curiosidade actual".

"Então, não é estranho que faça peças biológicas, porque todo o mundo biológico me fascina e me interessou desde sempre, não é estranho que trabalhe com materiais efémeros, porque sou filho de talhantes e criadores de gado, sou um tipo da aldeia e vivi isso desde pequeno, e não é estranho que haja [no meu trabalho] uma referência constante à cultura popular, desde Robert Crumb aos `comics` e a todo esse mundo, porque também faz parte da minha vida e eu não renuncio a isso", comentou.

O surgimento do desenho na sua obra "foi como que um acidente", afirmou.

"Eu gostava muito de trabalhar em grupo, nos anos 80, trabalhei com La Fura [dels Baus], trabalhei com Los Rinos, tive trabalhos em colectivos, e trabalhava também com processos imediatos, isto é, alguém propõe uma ideia, e essa ideia executa-se rapidamente", relatou.

"Desde que comecei a trabalhar com a tecnologia, sobretudo ao princípio, isso não era possível: há um processo de preparação, parte dos desenhos nasce como uma estratégia de pensar desenhando, de prever o que vai acontecer", prosseguiu.

Entretanto, esse processo do desenho, que "está nos antípodas da tecnologia", foi ocupando mais espaço, "foi crescendo como um cancro", disse Marcel.lí Antúnez.

"Sinto-me confortável combinando os dois processos [desenho e tecnologia]. Mas é um caminho aberto, não sei onde me levará", comentou.

Depois da inauguração, quinta-feira pelas 22:00, "Outras Peles" estará patente na Galeria Zé dos Bois até 12 de Julho.

ANC.
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