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Mariza: "A plateia não é público, são amigos"

florindo

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Uma homenagem às memórias de infância que lhe mostraram o caminho que a levaria aos palcos de todo o mundo, assim é o novo trabalho discográfico de Mariza.

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Chamou-lhe "Fado tradicional" e, nas suas palavras, é um regresso à taberna dos pais, e à Mouraria tal e qual como a conheceu. O disco, o quinto em quase 10 anos de carreira, estará à venda a partir da próxima segunda-feira. O novo trabalho terá direito a apresentação formal ao vivo nos coliseus, hoje,quinta-feira, no Porto e dia 29 e 30 em Lisboa.

Com "Fado tradicional" assume um regresso às raízes do fado. Porquê?
Acho que nunca me afastei das raízes do fado. Todos os meus discos foram feitos a respeitar as tradições e as bases do fado.


Quando lançou o primeiro disco, "Fado em mim", esperava ter chegado onde chegou?
O meu primeiro álbum foi baseado muito em temas que também ouvia cantar na taberna dos meus pais. Fiz o disco para oferecer ao meu pai. Não tinha sequer a pretensão de, alguma vez, fazer digressões e pisar palcos. Dez anos depois de tudo ter acontecido volto às minhas memórias de infância e de adolescência. E é isso que exploro no novo disco "Fado tradicional". Evoco as vozes que por ali passaram, os fados que me ficaram na memória, as ruas do meu bairro, a Mouraria.

Para este registo recuperou também importantes nomes do fado, Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues...
Sim, é verdade. Mas no caso de Amália, aparece muito mais tarde na minha carreira, apesar de as pessoas sempre acharem que eu cantei Amália a vida toda. Mas não foi assim. O meu pai é um apaixonado por fado cantado por vozes masculinas. Durante muitos anos ouvi apenas essas vozes entre elas as do Fernando Maurício, do Artur Batalha, do Fernando Farinha.

Foram então essas vozes iniciais que começou por homenagear em "Fado tradicional"?
Sim. Portanto, neste disco, uma vez que Fernando Mauríciojá não está cá para nos encher a alma com a sua voz, fui buscar o fado por ele popularizado, "Boa noite solidão", que, incrivelmente, é um tema escrito pelo Jorge Fernando, que foi o produtor do meu primeiro disco. E, depois, escolho o Fado Sérgio com a letra

"Prometo jura", que ouvia o Artur Batalha cantar na minha casa. Como foi agora partilhar precisamente este tema com ele?
Para mim foi um privilégio. Sentir a evolução da vida na voz dele, o choro, as lágrimas, o sofrimento, a alegria, é tudo muito forte.

Vai apresentar este disco pela primeira vez esta noite no Coliseu do Porto. Como vai ser o espectáculo?
Em palco recrio uma taberna com a ajuda de um cenário concebido pelo meu amigo Frank Gehry. Já que a taberna dos meus pais não existe, e como não posso trazer a Mouraria para cima do palco, então fazemos uma taberna mais estilizada. Esta ideia surge porque, com este disco, preciso criar uma intimidade maior com o público. Preciso de estar mais próxima, de sentir as minhas memórias para poder cantar. Por isso é que também há pessoas sentadas no palco. Gosto quando as pessoas interagem e quando podemos criar mais intimidade. Para mim a plateia não é público, são amigos.

O que mudou em si desde o lançamento do primeiro disco?
Estou mais velha, mais atenta, mais cansada também. Raramente oiço os meus discos. Mas, há uns dias, tive a curiosidade de ir ouvir o "Fado em mim". Ouvi-o e a voz era-me completamente estranha. É uma voz de quem não tinha a tarimba de tantos palcos, tantas viagens, tantos concertos. Hoje oiço-me aqui, neste "Fado tradicional" e a minha voz tem mais grão, está mais pesada.

No fado de abertura do novo disco canta "devagar devagarinho se vai ao longe". Mas, no seu caso, tudo aconteceu muito rápido, não foi?
É verdade. Perdi a noção do tempo nesta viagem. Foram 10 anos fantásticos, maravilhosos. Tive oportunidade de pisar grandes palcos, de fazer grandes amigos, de partilhar música, de mostrar a minha cultura a outra gente e a outros povos que não a conheciam. De mostrar o orgulho que tenho pelo meu país, pelos poetas que canto, pela língua portuguesa.

Nestes 10 anos qual é o fado que mais reflecte o que a Mariza é?
Como sou eu que faço pesquisa poética e trabalho directamente com os letristas e compositores, todos os temas que canto expressam muito daquilo que sou. Por isso, é muito difícil escolher apenas um fado que diga o que sou. Há vários.

JN
 
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