
Marta Ramos, a menina de cinco anos que recebeu o transplante de medula óssea há seis dias, está estável e bem-disposta na maior parte do tempo. "Vê televisão e já brinca com o computador", revelou fonte próxima da família ao CM, sublinhando que a menina disse aos pais que apenas estava farta de estar no hospital.
Internada na ala de isolamento total do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, Marta recebe a visita dos pais que só podem entrar no quarto com fatos especiais. E até poder regressar a casa a menina terá de esperar algum tempo, uma vez que o processo de recuperação pode demorar entre três semanas a três meses.
António Parreira, director do Serviço de Hematologia do IPO de Lisboa, explicou que o internamento da menina segue os procedimentos deste tipo de casos de transplante: "O paciente fica isolado num quarto específico, o quarto de isolamento, que previne eventuais problemas de infecção."
A medicação é à base de antibióticos, uma vez que Marta está, segundo o especialista, na fase aguda do pós-transplante em que o tratamento é direccionado para evitar o conflito entre as células do dador e o seu corpo. "Só ao fim de três semanas será possível verificar se não há rejeição, ou seja, se as células do dador não atacam o organismo de quem recebe", afirmou o médico, sublinhando que o que se está a fazer agora é tentar manter as condições necessárias à criação de compatibilidade entre as novas células e o corpo de Marta.
Este período de recuperação não é fácil, principalmente para uma criança, uma vez que, ao longo destas três semanas, poderão ocorrer sintomas menos agradáveis. "Fragilidade, febre, diarreia e algum cansaço são alguns dos sintomas", sublinhou António Parreira.
Antes de receber o transplante da medula, proveniente de um dador português com menos de 30 anos, Marta foi internada no IPO, onde foi sujeita a um tratamento de quimioterapia para preparar o organismo.
O tipo de leucemia diagnosticado, em Janeiro, a esta menina de cinco anos é um dos mais graves.
Em Abril, a família lançou-se na internet e fez apelos à doação de medula. A onda de solidariedade levou mais de 175 mil pessoas a inscrever-se como dadoras. Três meses depois, a família e Marta receberam a notícia por que tanto ansiavam. Estavam três dadores compatíveis na base de dados.
BANCO CONTA COM 175 MIL DADORES
A onda de solidariedade criada em torno da necessidade de Marta precisar de um dador de medula óssea não terminou, apesar de a menina já ter sido submetida ao transplante. Segundo dados fornecidos pelo Centro Nacional de Dadores de Células de Medula Óssea, Estaminais ou de Sangue do Cordão (CEDACE), o banco conta com cerca de 175 mil dadores. Acredita-se que, até final do ano, o banco possa atingir os duzentos mil dadores. Amigos e familiares de Marta apelam agora a novos dadores para ajudar outras crianças e jovens que ainda não tiveram a sorte de encontrar alguém compatível que lhes salve a vida. Na página da internet da rede social Facebook, ‘Ajudar Marta’, são lembrados os casos da Teresa (17 anos), do Matias (6), do Diogo (14), da Patrícia (20) e da Aline (18).
UMA QUESTÃO DE SORTE
TERESA AGUARDA DADOR
Teresa Brissos, a jovem de 17 anos que também procura um dador de medula compatível para vencer a leucemia, está estável e em tratamento, em Lisboa. Segundo os amigos e promotores da campanha ‘Ajudar a Teresa’, as recolhas continuam e contam com cada vez mais apoiantes.
DUARTE LIMA SALVO
O deputado do PSD assumiu um importante papel na sociedade portuguesa quando, depois de ter sobrevivido a um cancro, criou a Associação Portuguesa Contra a Leucemia, que agora dirige. Foi aos 42 anos que descobriu que tinha leucemia. Foi salvo porque um irmão era compatível.
CRONOLOGIA
22 Jan: É diagnosticada Leucemia Mioloblástica Aguda. Neste tipo de leucemia, por ter grandes probabilidades de reincidir, é aconselhado o transplante de medula. Nenhum familiar é compatível.
18 Abr: Pais apelam na internet para novos dadores; é criada uma página no Facebook.
20 Abr: O pai cria um blogue para apelar à inscrição das pessoas como dadores.
23 Abr: Comunicação Social divulga o apelo da Associação portuguesa Contra a Leucemia.
25 Abr: Mais de 1200 pessoas participam numa acção de recolha de sangue para encontrar um dador compatível no infantário de Marta, O Botãozinho.
17 Mai: Marta faz 5 anos. No mês de Maio são divulgados vários locais de recolha de medula em todo o País.
2 Jun: Encontrado o primeiro dador.
4 Jun: Sinalizados três potenciais dadores: um inglês, um norte-americano e um espanhol.n A menina sofre uma septicemia e fica internada no H. Santa Maria.
7 Jun: Marta tem alta e regressa a casa.
25 Jun: Marta ultrapassa com êxito os primeiros exames para transplante.
30 Jun: Dos três dadores iniciais, há dois que são compatíveis com a Marta. Fazem-se testes para analisar os dadores. Estão inscritos 170 mil dadores de medula.
30 Jun: Figo Inscreve--se como dador.
10 Jul: Português apto para doar medula.
31 Jul: Marta faz quimioterapia para se preparar para o transplante.
6 Ago: Marta é submetida ao transplante no IPO-Lisboa.
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