Nós e os nossos irmãos

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O lugar que ocupamos entre irmãos é determinante para a formação da personalidade e faz de nós muito daquilo que somos.

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«Se abres a boca, levas!» «Cala-te, oh estúpido!» «Pára de mexer nas minhas coisas!» Quem tem mais do que um filho está mais do que habituado a ouvir estes e outros mimos verbais todos os dias, a toda a hora. Quem cresceu entre irmãos não estranha. É assim mesmo. Dividir território, atenção e outros tesouros vitais não é fácil para nenhuma espécie animal e o homem, que ainda por cima nasce mais dependente do que qualquer outra criatura, não é excepção. Por outro lado, ser destronado de um lugar privilegiado no pódio da família não é um processo pacífico.

A seguir à relação com os pais, é a relação com os irmãos que mais determina aquilo que somos. Por isso, muitos investigadores têm estudado essa relação.
Através dos papéis assumidos no seu seio, a família desenvolve e promove diferenças entre irmãos. É isso mesmo que explica Otília Monteiro Fernandes, professora de Psicologia na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e autora do livro «Semelhanças e Diferenças entre Irmãos» (Climepsi Editores), escrito com base na sua tese de doutoramento: «Os irmãos podem ter muitas semelhanças físicas, mas em termos de personalidade um irmão mais velho terá muito mais em comum com um irmão mais velho de outra família do que com os seus irmãos.»

Expectativas dos pais
As diferenças começam a ser cultivadas ainda antes do nascimento, pois ganham raízes nas expectativas que os pais têm em relação aos filhos. Em diferentes culturas e sociedades há expectativas comuns em relação aos filhos mais velhos e em relação aos rapazes e raparigas.

Para além dessas heranças culturais - que determinam, por exemplo, que o mais velho seja o guardião das tradições familiares, o filho que até há pouco tempo herdava a casa paterna, o que em certas famílias herdava o nome próprio do pai e o que tinha obrigação de dar continuidade ao nome de família - há outros factores que contribuem para a criação de expectativas. Se o desejo de os pais terem um rapaz ou uma rapariga nunca é satisfeito, esse facto vai condicionar o que os pais esperam dos filhos. Normalmente é na última criança que nasce, ou seja na sua última oportunidade de satisfazer esse desejo, que tentam criar características do sexo oposto. «Muitas vezes, contrariam a identidade sexual da terceira ou quarta filha, depois de se conformarem com o facto de nunca virem a ter um rapaz», confirma Otília Monteiro Fernandes.

Nestas expectativas dos pais e na forma como se relacionam com os filhos é de considerar também a posição que eles próprios ocuparam entre os seus irmãos. «Um pai que é irmão mais velho e tem um rapaz que é o filho do meio tenderá a educá-lo conferindo-lhe o estatuto de mais velho, pois foi essa a experiência que teve», exemplifica Otília Monteiro Fernandes.

Mas para além das expectativas dos pais, o lugar que ocupamos entre os irmãos vai fazer de nós muito daquilo que somos. Conheça as características dos primogénitos, dos irmãos do meio e dos caçulas. As teorias sobre a ordem do nascimento podem dar pistas aos pais sobre o desenvolvimento e personalidade de cada filho. Mas devem, claro, tentar perceber cada um na sua individualidade e ir ao encontro do que sentem, deixando de lado ideiais de justiça salomónica. É esse o conselho que deixa Otíia Monteiro Fernandes: «Tentar ser igual para todos pode bem ser uma forma de injustiça, pois todos têm necessidades diferentes. O importante é tentar dar a cada um, em cada momento, aquilo que cada um necessita.
A saúde e a ordem de nascimento
Vários investigadores garantem que a ordem de nascimento não influencia apenas a formação da personalidade. Os seus efeitos estendem-se até à vida adulta, repercutem-se na saúde e até na esperança de vida. É claro que a propensão para determinado problema não é mais do que isso mesmo. Não devemos tratar a saúde dos nossos filhos à luz do lugar que ocupam entre os irmãos. Ainda assim, vale a pena conhecer o que dizem as estatíricas:

Mais velhos:
# Mais propensos a alergias e asma

# Mais propensos a epilepsia (talvez devido a uma maior dificuldade na passagem pelo canal de parto)

# Mais propensos a exagerar sintomas físicos banais como forma de chamar a atenção

Do meio:
# Mais propensos a dificuldades de aprendizagem

# Menos propensos a esclerose múltipla e a a infecções no aparelho urinário

Mais novos:

# Mais probabilidades de passarem por internamentos devido a acidentes durante a infância. Para além de correrem mais riscos devido à sua personalidade, os pais têm mais dificuldade em controlar os seus movimentos, pois têm outros filhos

# Menor esperança de vida devido à propensão para os riscos e para uma vida sexual e sentimental mais instável

# Linfomas e leucemias surgem mais nos irmãos mais novos. Especialistas avançam a teoria que talvez o facto de as mães amamentarem menos tempo os filhos mais novos (já que têm os outros a competir pela sua atenção) possa explicar estes números.

# Diabetes na infância. Em média, os mais novos nascem com um peso mais elevado o que pode predispo-los para terem mais tarde problemas hormonais, tal como os que estão na origem da diabetes.

# Mais propensos a sofrer de anorexia nervosa.

# Menos propensos a alergias e asma.
 
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