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A que estado chegou a Terra?
Somos diariamente bombardeados com notícias aterradoras mas muitas vezes desconexas. Fique a conhecer o panorama negro que se abateu sobre o nosso pequeno planeta.
Já não é novidade afirmar que o estado ambiental e social que o planeta Terra atingiu em consequência da actividade humana é deplorável. Não é novidade, mas ainda assim os decisores políticos de todo o mundo parecem muito renitentes em enveredar por uma agenda cuidadosamente planeada com vista à resolução, ou pelo menos minimização, dos problemas ambientais e sociais que hoje são endémicos em várias regiões do globo.

O principal objectivo deste artigo não é, porém, lançar vaticínios sobre as medidas que se impõem – apesar de se tratar de uma tarefa de grande importância – mas antes procurar retratar, de uma forma genérica, o estado deste planeta frágil.
Segue-se uma listagem seleccionada dos principais problemas que hoje enfrentamos em diversas áreas.
Alterações climáticas
Objectivos
. Os países industrializados comprometem-se a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa com origem humana para os níveis de 1990 pelo ano 2000.
. O objectivo último da Convenção de Estocolmo é atingir a estabilização da concentração dos gases de estufa na atmosfera, de modo a evitar uma interferência humana perigosa no sistema climático.
A realidade
. Pelo ano 2000 as emissões de CO2 tinham subido 18,1% relativamente aos níveis de 1990 nos EUA; 10,7% no Japão; e 28,8% na Austrália.
. A concentração de CO2 na atmosfera é hoje 30% superior à que se verificava na era pré industrial: de 281 ppm (partes por milhão) em 1800 passou para 327 ppm em 1972, 356 ppm em 1992 e 367 ppm em 2002.
. Os desastres relacionados com o clima aumentaram 160% entre 1975 e 2001, provocando a morte a 440000 pessoas.
O futuro
Se nada for feito, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas prevê que a temperatura média global do planeta seja 5,8 ºC superior em 2100.
Desflorestação
Objectivos
. As políticas e estratégias nacionais devem criar as condições para a adequada conservação, gestão e desenvolvimento sustentável das florestas.
. Todos os países devem promover e cooperar na conservação e melhoria das florestas.
A realidade
. Metade do coberto florestal original já foi destruída (cerca de 418 milhões de ha nos últimos 30 anos); mais de 60% das florestas temperadas foram perdidas; o mesmo aconteceu a 45% das florestas tropicais húmidas e a 70% das florestas tropicais secas.
. As florestas restantes estão a ser dizimadas à razão de 160000 km2 ao ano (Portugal tem cerca de 92000 km2).
. Os incêndios florestais (a maior parte são intencionais com o fim de substituir a floresta por prados para o gado) são a segunda principal causa de libertação de CO2 para a atmosfera (a primeira é a queima de combustíveis fósseis).

O futuro
Se a taxa actual de desflorestação persistir, será perdida em meados deste século uma parte significativa das 50 a 90% das espécies que vivem nas florestas.
Perda de água doce
Objectivos
. O objectivo geral é assegurar que são mantidas reservas adequadas de água de boa qualidade para toda a população deste planeta.
. Todos os Estados podem iniciar programas de protecção, conservação e uso racional da água numa base sustentável.
A realidade
. Deu-se um aumento global de 175% na captação de água doce para a agricultura nas últimas três décadas (actividade responsável por 70% do consumo deste recurso), aumentado de 1850 km3 em 1970 para 3250 km3 em 2000.
. De acordo com as Nações Unidas, 41% da população mundial – cerca de 2,3 mil milhões de pessoas – vive em áreas de stresse hídrico, onde a falta de água é frequente. Em 2002 este problema levou à morte de mais de 7 milhões de pessoas.
. Morrem diariamente 6000 crianças devido à ingestão de água poluída.

O futuro
Em 2025 prevê-se que a procura de água seja 56% superior àquela que está actualmente disponível, estendendo a carência de água a 2 em cada 3 pessoas.
Erosão e desertificação
Objectivos
. Os Governos devem formular, introduzir e monitorizar políticas, leis, regulamentos e incentivos com vista a uma agricultura sustentável.
. É urgente cessar a degradação do solo e lançar programas de conservação e reabilitação nas áreas mais criticamente afectadas e vulneráveis.
A realidade
. Cerca de 2 mil milhões de ha de solo, equivalente a 15% da área terrestre, foram de alguma forma degradados por uma agricultura intensiva e por outras actividades humanas. De 1945 a 1990 degradaram-se 552 milhões de ha ou 38% da área cultivada do planeta.
. Anualmente perdem-se 26 mil milhões de ton de solo devido à erosão, 6 milhões de ha por desertificação e 2,5 milhões de ha por excessiva salinização.
. Estima-se que a perda anual de produtividade devido à erosão do solo equivalha a 20 milhões de ton de cereais.
. Os subsídios governamentais para a industrialização da agricultura totalizam todos os anos 313 mil milhões de dólares.

Decréscimo da biodiversidade
Objectivos
. Os objectivos desta Convenção são a conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos seus componentes.
A realidade
. Entre 50 e 100 espécies extinguem-se diariamente, taxa 10000 superior à natural.
. Desde 1970 que se regista um declínio de 54% nas populações de 195 espécies de água doce, de 35% nas populações de 217 espécies marítimas e de 15% nas populações de 282 espécies florestais.
. Actualmente, cerca de 27% dos recifes de coral do planeta (onde vivem um quarto de todas as espécies oceânicas) estão ameaçados.
. A diversidade dos alimentos também está a desaparecer: 80% das variedades de tomate e 92% das variedades de alface foram perdidas ao longo do século XX.
. As Nações Unidas concluíram que 11046 espécies de animais e plantas estão actualmente em perigo. A cifra inclui 1130 espécies de mamíferos (24% do total), 1183 aves (12% do total) e 5611 plantas.
O futuro
Se a taxa de extinções actual continuar, poderemos perder metade de todas as espécies de animais e plantas do planeta nos próximos 50 anos.

Crise dos recursos piscícolas
Objectivos
. Os Estados comprometem-se a conservar e a usar de forma sustentável os recursos marítimos vivos.
A realidade
. Verificou-se uma duplicação nas capturas globais de peixe nos últimos 35 anos, atingindo hoje em dias 137 milhões de ton.
. Metade dos bancos de pesca mundiais estão totalmente explorados e outros 25% encontram se sobre explorados.
. A pesca de espécies como o bacalhau do Atlântico, eglefim, arenque do Atlântico e sardinha Sul-Africana entrou em colapso ou é realizada de forma insustentável.
. Estima-se que a capacidade pesqueira mundial seja 150% superior à sustentável.

Poluição química
Objectivos
. Os Governos devem levar a cabo actividades concertadas para reduzir o risco dos químicos tóxicos. Estas actividades podiam incluir a eliminação gradual ou o banimento dos químicos tóxicos que representam um risco não razoável para o ambiente ou para a saúde humana, e dos que são tóxicos, persistentes e bioacumuláveis.
. Pelo ano 2000 devem estar em vigor em todos os países sistemas que promovam uma gestão ambientalmente correcta dos químicos, incluindo legislação e provisões para a implementação e aplicação desta.
A realidade
. As vendas globais de químicos aumentaram quase nove vezes desde 1970. Estão actualmente disponíveis no mercado entre 70000 e 100000 químicos, onde são introduzidos à razão de 1500 por ano.
. Os pesticidas tornaram-se entre 10 e 100 vezes mais tóxicos do que em meados dos anos 70, resultando entre 3,5 e 5 milhões de envenenamentos agudos todos os anos.
. A Organização Mundial de Saúde estima que 25% de todas as doenças evitáveis no mundo se devam a factores ambientais.
. O cancro na infância (incluindo tumores cerebrais e leucemia) nos EUA está a aumentar à taxa de 1% ao ano e é agora a segunda principal causa de morte em crianças entre 1 e 14 anos de idade.
. O cancro da mama atingiu uma em cada oito mulheres em 1993, quando em 1950 afectava uma em cada vinte.
. Desde 1950 a proporção de cancros nos testículos triplicou, a de cancros na próstata duplicou e as contagens de esperma diminuíram em 50% entre Europeus e Americanos.
Produção e deposição de resíduos
Objectivos
. Os Estados devem reduzir e eliminar as formas insustentáveis de produção e consumo.
. Os Governos devem, pelo ano 2000, promover os meios tecnológicos e financeiros necessários à reutilização e reciclagem dos resíduos aos níveis local, regional, e nacional.
. Os Governos devem iniciar programas para atingir uma minimização sustentada da produção de resíduos.
A realidade
. Dois terços dos resíduos produzidos são depositados em aterro (só na União Europeia existem 8700).
. Nos últimos 20 anos a produção de resíduos urbanos por pessoa nos países industrializados quase triplicou, atingindo uma média de 475 kg/pessoa.ano.
. Muitos países, entre os quais Portugal, optaram por incinerar uma parte substancial dos seus resíduos como forma de os gerir, o que acarreta a libertação de dioxinas (um carcinogéneo humano conhecido), metais pesados e gases ácidos.
. Muitos países, incluindo Portugal, Japão, França, Reino Unido, Irlanda, Grécia e México, reciclam menos de 12% do total de resíduos que produzem.
. Os EUA desperdiçam alumínio suficiente para substituir toda a sua frota aeronáutica comercial a cada três meses.
O futuro
Ao ritmo actual a OCDE prevê, até ao ano 2020, um aumento entre 70 e 100% na produção de resíduos nos países industrializados e de 200% nos países em desenvolvimento.

Pobreza
Objectivos
. Todos os Estados e pessoas devem cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza por forma a reduzir a disparidade de condições de vida e melhor ir ao encontro das necessidades da maioria das pessoas do mundo.
A realidade
. Em 1997, 40% de todas as crianças no mundo em desenvolvimento com menos de 5 anos encontravam-se malnutridas.
. O número de pessoas que vive num estado de pobreza (com menos de 1 euro por dia) aumentou em 100 milhões na última década, atingindo 1,3 mil milhões de indivíduos.
. O rendimento combinado dos 5% mais ricos era 30 vezes superior ao dos 5% mais pobres em 1960; a razão subiu para 60 vezes em 1991 e para 78 em 1998.
. Existem actualmente cerca de 840 milhões de pessoas malnutridas.
. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados estima que o número de refugiados (por razões políticas, de guerra ou ambientais) aumentou de 2,7 milhões em 1972 para 12,1 milhões em 2000.
. Desapareceram entre 4000 e 9000 linguagens nos últimos 500 anos e prevê-se que entre metade e 90% das 6800 linguagens restantes tenham o mesmo destino.
O futuro
O número de pessoas numa situação de pobreza poderá elevar-se em mais 100 milhões até 2015.
Como é facilmente constatável, a retórica ambiental não passa de um farisaísmo. Há tanto por fazer que só uma cidadania aplicada e consciente poderá ser capaz de reverter uma situação à partida tão desanimadora. Mas, tal como dizia um poeta inglês, enquanto há vida há esperança, por isso não podemos desanimar e temos de prosseguir de forma determinada a salvaguarda deste pequenino planeta de que teimamos em gostar.
Nota: 1 ha = 1 hectare = 100 m por 100 m; 1 km2 = 10000 ha
Para saber mais
EarthTrends, earthtrends.wri.org/
Worldwatch Institute, Worldwatch Institute | Vision for a Sustainable World
Publicado em Naturlink
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