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O primogénito

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Conservadorismo e liderança são características predominantes nos irmãos mais velhos.


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Quando nasce, tem o poder de concentrar sobre si todas as atenções. Ele é de longe o mais fotografado de todos os irmãos. Não porque seja mais dotado, mais bonito ou mais amado. Apenas porque é o primeiroNo seu Livro do Bebé, todas as linhas estão profusamente preenchidas. Todos os seus passos foram cuidadosamente documentados. Mas se é verdade que atenção e mimos não lhe faltam - e isso é bom -também é verdade que normalmente sobram tensões, preocupações, exigências e expectativas. Tudo isso pesa sobre o filho mais velho, às vezes de uma forma demasiado intensa.

Os pais esperam dele a perfeição, a perfeição em bom comportamento, a maturidade, a responsabilidade de quem é crescido. E é por isso que «desde cedo é pedido ao primogénito que substitua os pais em certas situações», afirma Otília Monteiro Fernandes. «Ele está mais próximo dos pais do que qualquer outro dos irmãos e, também por isso, nem sempre é muito bem visto pelos mais novos.»

Mandar, liderar são formas naturais de afirmação de uma criança a quem se pede que dê o exemplo, que seja o modelo. É isso que os pais esperam dela e é isso que ela faz. Os especialistas são unânimes em considerar os primogénitos líderes por excelência: mais responsáveis, mais organizados e mais metódicos do que os irmãos. Há estatísticas que comprovam esta tendência: dos 50 líderes empresariais americanos avaliados pela revista Forbes, metade são primogénitos, enquanto em toda a população dos EUA a percentagem de primogénitos é de 35 por cento. Entre os primeiros 23 astronautas americanos, 21 são primogénitos, e entre os presidentes daquele país (de Washington a Carter), os primogénitos estão também significativamente mais representados.

Outra característica dos primeiros filhos, afirmam os especialistas é o conservadorismo. É no primogénito que os pais depositam os valores da família e é a ele que pedem, mais do que a qualquer outro, a defesa das tradições. Por estar mais próximo dos pais e por querer para si alguma da sua autoridade, é natural que o filho mais velho acabe por defender, toda a vida, o que é socialmente aceite e moralmente correcto.

A afronta de ser destronado

Antes de aprender a exercer a autoridade, o filho mais velho tem de passar por uma experiência que marcará para sempre a sua vida: a chegada de um irmão. Os investigadores chamam a este processo «destronação» e, como muitos pais já tiveram oportunidade de constatar, pode ser bem difícil ultrapassá-lo. Significa aceitar que já não se é o único, que alguém veio roubar-lhe a exclusividade das atenções, das conversas, dos elogios, do tempo... Significa ter de partilhar o que até aí era só seu.
Ser destronado será tanto mais difícil quanto mais novo for o primogénito e ainda mais se o segundo filho for do mesmo sexo. «Uma criança que é destronada muito cedo, antes dos dois anos, tem de crescer à força, tem de aprender a ser autónoma mais cedo do que seria de esperar, até porque os pais deixam de ter o tempo todo para a vestir, alimentar, etc», explica Otília Monteiro Fernandes. «A destronação pode ser assim um dos primeiros golpes duros na vida destas crianças, únicas até então», acrescenta.

Mas, se acontecer demasiado tarde, ou seja, se houver uma grande diferença de idades entre o primeiro e o segundo filho, a destronação pode ser igualmente difícil. Adler, um dos primeiros autores a debruçar-se sobre estas questões, considera que a «destronação» vai ter consequências negativas no desenvolvimento do primogénito, tanto se ocorre precocemente, como se ocorre mais tarde, quando ele já temm instituído o seu ¿estilo de vida¿».

Na opinião de Otília Monteiro Fernandes, «a diferença de idades ideal será talvez quatro ou cinco anos, uma idade em que o nível de desenvolvimento já permite alguma compreensão das vantagens de ter um irmão e já existe alguma autonomia em relação aos pais. Antes dos dois anos, todos os sentimentos negativos, a rivalidade acentuada ficam no inconsciente, ou seja, nunca serão verbalizados, o que pode ser mais traumatizante».

Há ainda outra vantagem em ter um irmão por volta dos quatro, cinco anos, acrescenta Otília Monteiro Fernandes: «Ele vai ajudar o primogénito a resolver os seus complexos edipianos. Os sentimentos negativos em relação ao pai, por parte de um rapaz, e em relação à mãe, por parte de uma rapariga, serão divididos com o irmão mais novo o que é menos culpabilizante para o mais velho. Os filhos únicos não têm essa possibilidade e, muitas vezes, ficam enredados naquele triângulo toda a vida.»

Por falar em Édipo, é interessante lembrar que o próprio Freud, apesar de considerar a ordem de nascimento secundária em relação a estes complexos, não deixa de afirmar que esse é «um factor de extrema importância no desenvolvimento individual».

Para além da diferença de idades, outro factor importante na forma como será vivida a destronação é o sexo do invasor. Se for do mesmo sexo que o primogénito a rivalidade será inevitavelmente maior, pois será preciso competir pelas atenções do objecto da primeira paixão ¿ a mãe, no caso dos meninos, o pai, no caso das meninas. «Se forem de sexos diferentes, têm papéis muito diversos, não se sentem tão ameaçados e nunca serão tão competitivos», explica Otília Monteiro Fernandes.

Ajudar o mais velho na chegada de um irmão

Para ajudar o filho mais velho a viver este processo de destronação, os pais devem começar a prepará-lo uns meses antes do nascimento do irmão. E nunca fazer coincidir qualquer mudança significativa na sua vida (mudança de escola, de quarto, de horários) com a chegada de um irmão. Otília Monteiro Fernandes acrescenta que o pai deve ter, nesta fase, um papel activo, dando mais atenção ao filho mais velho. Um presente para ele, felicitando-o por já ter um irmão, deve ser também preocupação da família que vai em peregrinação conhecer o bebé.
 
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