O seu filho vê bem?

Luana

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Os problemas de visão podem ter consequências no desenvolvimento global da criança e na forma como ela apreende o mundo. Saiba como vigiar, os sinais de alerta e quando procurar ajuda

Quando a criança está prestes a entrar para escola, surge muitas vezes a preocupação: será que vê bem? Será que vai ver para o quadro ou para os livros e os cadernos? E aí a família decide procurar um especialista. Mas a saúde ocular deve ser assegurada desde os primeiros dias. Não se nasce a saber ver, aprende-se a ver. Quanto mais fortes forem as ferramentas visuais, melhores serão os resultados da aprendizagem. Em contrapartida, se essas ferramentas forem fracas, o nível de conhecimentos é também deficitário e impossível de recuperar mais tarde.
Os especialistas falam mesmo de um «período crítico» em que o cérebro tem capacidade para utilizar os estímulos visuais. Uma vez esgotado esse intervalo, mesmo que as alterações sejam corrigidas, não é possível melhorar o sentido da visão. Assim, quanto mais cedo for feita a avaliação do sistema ocular, melhor.





«Logo que o bebé nasce é possível detectar algumas situações, através dos sinais físicos», garante a oftalmologista pediátrica Cristina Ferreira. Por exemplo, se o recém-nascido apresenta falta de simetria dos globos oculares, manchas na pupila, anomalias no brilho, secreções ou lágrimas persistentes ou uma condição denominada ptose, em que uma das pálpebras superiores está caída, podendo mesmo cobrir a pupila. «Nestes casos, o desenvolvimento normal da visão é afectado, pois os dois olhos apresentam características funcionais distintas. Um é normal e o afectado pela ptose não, uma vez que recebe muito menos estímulos», refere a especialista.


Perto de cinco por cento das crianças nascem com um ou ambos os canais lacrimais obstruídos. Isto resulta na presença constante de lágrimas – porque não são expelidas – e secreções mucosas ou purulentas no olho ou nas pestanas. Em cerca de 80 por cento dos casos, esta situação resolve-se espontaneamente até aos nove meses. Nos restantes, as opções passam pela sondagem e desobstrução da via lacrimal, realizada sob anestesia.


Mas nem tudo é motivo para alarme. Em idades muito precoces, é possível que o bebé pareça estrábico, mesmo não o sendo. É o chamado falso estrabismo ou pseudo-estrabismo e acontece devido a uma ilusão de óptica. Por exemplo, quando a criança tem pregas no canto interior dos olhos ou quando a base do nariz é larga ou existem alterações da distância entre as pupilas. Mas se os reflexos visuais permanecem centrados, então está tudo bem.


Nos dias e semanas seguintes, há que permanecer atento à informação que o bebé transmite. «Por exemplo, os torcicolos. Quando são descartados outros motivos para a posição estranha da cabeça e do pescoço, é de equacionar um problema a nível da visão», aconselha. Alterações do brilho e da forma dos olhos, se a criança parece estar permanentemente franzida e, mais uma vez, secreções e lágrimas que não param são outros sinais que levam a uma ida ao médico. «Os pediatras são uma ajuda muito grande. Muitas vezes os pais têm dificuldade em aperceberem-se da situação e são eles que nos encaminham as crianças», diz a médica do Hospital de D. Estefânia, em Lisboa.

Rastreios iniciais
Aos seis meses, é importante que o bebé faça o primeiro rastreio, a menos que existam motivos que indiquem uma consulta mais cedo. São os casos do historial familiar com doenças graves do foro oftalmológico ou questões, por exemplo, ligadas à prematuridade. «Os bebés que nascem cedo demais são vistos por um oftalmologista pediátrico logo depois do parto, para ser feita uma avaliação do sistema ocular». Nos recém-nascidos de termo, essa avaliação só acontece em casos excepcionais, quando o neonatologista detecta sinais físicos preocupantes ou quando a mãe desenvolveu toxoplasmose durante a gravidez, situações «que podem resultar em lesões a nível da retina».
No primeiro rastreio, o médico – habitualmente o pediatra ou o médico de família – procura alterações morfológicas, avalia o fundo do olho, as capacidades de perseguição de faces, luzes e objectos, a centragem dos olhos e dos movimentos oculares e a forma como o bebé reage quando um dos olhos é tapado.


Existem médicos que aconselham um novo rastreio entre os seis meses e a entrada no ensino pré-escolar. Outros afirmam que a vigilância realizada nas consultas de pediatria é uma rede de segurança suficiente. Seja qual for a opção, algumas situações exigem a marcação de uma consulta com o especialista: vermelhidão, secreções ou lágrimas constantes, repetição de inflamações e infecções como conjuntivites, pupilas brancas ou sem reflexo ou alterações do tamanho do olho e regiões vizinhas.

Avaliação total
Mesmo que depois dos seis meses tudo esteja bem, é mesmo necessário voltar ao médico cerca dos três anos. Aí, «convém que o rastreio seja realizado por um especialista, que vai procurar sinais de problemas e, se for caso disso, iniciar medidas de correcção». Estrabismo, problemas de refracção como miopias e hipermetropias ou astigmatismo (ver caixa) são os problemas mais frequentes.


Estas consultas são muito diferentes das realizadas junto de adultos, revela Cristina Ferreira. «As crianças com problemas de visão encontram, muito frequentemente, ‘ferramentas’ que lhes permitem contornar as dificuldades. Acomodam-se à situação e como não conhecem outra, não vale a pena perguntar-lhes como vêem. Elas dizem que vêem bem e, habitualmente, até ultrapassam testes como as placas com objectos ou letras». Cabe ao profissional – «com a ajuda dos pais e, por vezes, a indicação do pediatra» – fazer uma avaliação múltipla e demorada da situação, para descartar todas as hipóteses e, se for caso disso, encontrar as melhores soluções terapêuticas. «Nenhuma máquina é capaz de fazer esta abordagem», garante a especialista do Instituto de Microcirurgia Ocular.


Situações complexas, como glaucomas, cataratas, tumores ou problemas relacionados com doenças auto-imunes da criança são muitíssimo mais raras e apresentam geralmente sintomas bem aparentes, o que facilita a detecção e tratamento precoces e um acompanhamento permanente e adequado.

Tempo de escola
Tudo o que vemos não é mais do que luz reflectida. Essa luz entra no olho e é processada numa película cheia de nervos – a retina/ou mácula, que funciona como uma película fotográfica. Os feixes de luz penetram de forma paralela mas têm de convergir apenas num quando chegam à retina. Quando isso não acontece, está-se em presença de um erro de refracção: uma hipermetropia, uma miopia ou astigmatismo.
Estas condições, bem como a detecção de alterações físicas e avaliação do reflexo das pupilas é o que os médicos procuram no rastreio pré-escolar, entre os cinco e os seis anos. Estima-se que entre dez a 25 por cento dos alunos portugueses têm problemas visuais, que podem estar na origem de uma diminuição significativa do rendimento escolar. Quanto mais cedo esses problemas forem detectados, mais fácil é a sua correcção e/ou solução.


Mesmo que nada seja detectado nas consultas e rastreios até à entrada para a escola, Cristina Ferreira recomenda que pelo menos de dois em dois anos a criança vá ao médico. «À medida que a criança vai crescendo, a família continua a ter um papel fundamental de vigilância, que se torna ainda mais importante no momento em que inicia o seu percurso escolar», refere a médica oftalmologista. Se o seu filho aproxima ou afasta os objectos para os observar, se vê televisão muito em cima do ecrã, tem dificuldades na leitura e/ou na escrita numa idade em que já não é suposto ou se as notas não são as esperadas ou estão a diminuir inexplicavelmente, talvez seja tempo de visitar o oftalmologista.




O que é o quê


Ambliopia – é o termo médico para o chamado «olho preguiçoso». Significa que um dos olhos tem uma capacidade visual inferior ao normal e não acompanha o outro. É provocada por uma experiência visual pouco correcta nos primeiros meses ou anos de vida, causada essencialmente por erros refractivos ou estrabismo. O sucesso da recuperação depende da idade em que se inicia o tratamento, que convém ser o mais cedo possível.

Hipermetropia – Os raios luminosos convergem atrás da retina, tal como se o olho fosse demasiado pequeno ou o sistema de focagem fraco. A primeira dificuldade consiste em ver ao perto, pois os objectos mais próximos necessitam de uma focagem mais forte. À medida que o olho da criança cresce, a graduação da hipermetropia pode diminuir.

Miopia – Os raios luminosos convergem à frente da retina, tal como se o olho fosse demasiado grande ou o sistema de focagem demasiado potente. Como a visão de longe necessita de uma focagem menor que a visão de perto, os míopes vêem bem a curtas distâncias, mesmo sem correcção. A graduação da miopia é tendencialmente crescente, à medida que o olho cresce.

Astigmatismo – Os raios luminosos não convergem todos no mesmo plano. É como se o olho deixasse de ter uma forma redonda e os vários feixes entrassem de modo diferente e focassem em pontos diferentes. Provoca visão desfocada ao longe e ao perto.

Estrabismo – É a forma genérica para designar qualquer desalinhamento dos eixos visuais, cujo sintoma patente é o desvio de um ou de ambos os olhos. Esse desvio pode acontecer de forma horizontal convergente ou divergente (para fora ou para dentro, respectivamente), de forma vertical para cima ou para baixo ou segundo um eixo torsional. Na maior parte das situações, acontece porque a criança faz esforço para focar os objectos, mas também pode ser devida à baixa visão de um dos olhos.
 
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