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Fábula bela e mórbida
"Pigtopia", da irlandesa Kitty Fitzgerald, relata uma amizade invulgar
ELMANO MADAIL
"Pigtopia" é uma fábula. Belíssima como é costume, macabra como serão poucas. E desenvolve-se em torno de uma amizade, secreta e especial, entre um homem maduro, Jack, e uma jovem, Holly.
Apesar de viverem em universos muito diferentes, com Holly superprotegida pela mãe divorciada - pelo menos até ficar noiva de Anthony - e Plum a ser desprezado pela dele, uma velha azeda, cancerosa e alcoólica que passa os dias de bebedeira lamentando a desgraça de o ter parido, ambos sofrem do mesmo mal: solidão.
A do primeiro deve-se à sua fealdade, resultante de uma deformação de nascença que evoca um suíno monstruoso e o mantém afastado da vista de todos; a segunda é escanzelada e, embora bonita a seu modo, está fora dos padrões estéticos dos rapazes lá da escola, pelos quais também não se interessa muito.
Para obstar a essa solidão de três décadas que o corrói, e em memória do pai, um talhante que adorava porcos, Jack constrói, pela calada da noite e ao longo de anos, um palácio especial. Ali cria porcos, os seus únicos amigos, com os quais mantém uma ligação estreitíssima. Até que um dia, percebendo em Holly um coração puro, Jack abre a porta à tragédia sem o suspeitar, ao convidá-la para o seu mundo especial, para a sua heteropia de entendimento e harmonia totais (Pigtopia).
É dessa amizade intensa e as consequências de desafiarem as convenções sociais que trata, no fundo, este livro. Que se afirma como um soberbo exercício de ternura.
JN