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Portugueses ensaiam medicamento na hepatite C

Amoom

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Ensaios clínicos feitos em Portugal provam revolução no tratamento da hepatite C, com taxas de cura perto de 96%. No Hospital de Santa Maria, 16 doentes tomaram comprimidos inovadores durante três meses e 13 ficaram sem a doença.“A revolução” foi comprovada por Rui Tato Marinho, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia. Num ensaio clínico que está a ser concluído com 16 portugueses com hepatite C no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, o médico verificou que o ‘novo medicamento’ têm taxas de cura de perto de 96%. Os resultados já obtidos indicam que dos 16 doentes, 13 ficaram curados.
Trata-se de uma das novas substâncias activas que prometem curar a hepatite C sem os pesados efeitos secundários sentidos pelos pacientes com as terapêuticas convencionais – que podem incluir ansiedade, depressão, cansaço incapacitante e anemia.
A substância que está a ser usada nos doentes de Santa Maria – que apenas tem um nome de código – dispensa ser um complemento à injecção semanal de interferão peguilado, uma das terapêuticas actuais, e principal responsável por aqueles efeitos secundários.
Na realidade, com estes novos tratamentos não é necessário recorrer à injecção semanal de interferão peguilado. O ensaio clínico revelou que o tratamento se consegue apenas com comprimidos durante três meses.
Se esta substância ainda está em ensaios clínicos, e pode demorar a chegar ao mercado, a Europa prepara-se para aprovar, em 2014, dois novos medicamentos, o Sofosbuvir e o Simeprevir, que têm substâncias com níveis de eficácia semelhantes aos do produto ensaiado no Santa Maria.
Enquanto todas estas novas substâncias não chegam, os doentes podem recorrer a outras alternativas, uma vez que medicação na área da hepatite C tem evoluído a grande velocidade nos últimos anos. Uma das mais recentes novidades foi o tratamento triplo: à injecção semanal, o doente acrescenta os comprimidos de Ribavirina, diários, e um outro, que pode ser o Boceprevir ou o Telaprevir.
Estes dois últimos chegaram ao mercado há dois anos e meio, tendo aumentado o sucesso dos tratamentos. Antes eram duplos (com interferão e Ribavirina) e tinham uma eficácia de 40 a 50%. Agora juntando a estes o Boceprevir ou o Telaprevir, a eficácia passou para 80%. Só que o Estado português ainda não aprovou o consumo nos hospitais nacionais destes medicamentos e por isso os doentes dependem das autorizações especiais pedidas pelos médicos ao Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento.
Bastonário diz que doentes foram ‘condenados à morte’
Os atrasos nas aprovações, sobretudo na das novas terapêuticas que podem subtrair os interferões da equação, permitindo aos doentes trabalhar e fazer uma vida normal durante os tratamentos, tem gerado grande polémica entre o Ministério da Saúde e a Ordem dos Médicos.
Em entrevista ao SOL, o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, chegou a admitir que estimula os doentes ou familiares a fazerem “queixas-crime” contra o ministério pelo facto de não terem acesso a medicamentos existentes que lhes podiam ter salvo a vida. Além disso, acrescentava o bastonário, o atraso na aprovação está a condenar alguns deles “à morte”, pois enquanto esperam pelas novas soluções, a doença evolui para um estado incurável e fatal.
Na base do atraso – Portugal está agora dois passos atrás da Europa nesta matéria – está, inevitavelmente, o custo dos novos medicamentos. O tratamento duplo custa 3.500 euros e o triplo vai dos 15.500 aos 27.500 euros. Pelos casos mais avançados, como fibrose intensa e cirrose, paga-se 22.500 a 27.500 euros. A variação dos custos depende dos fármacos utilizados (Boceprevir ou Telaprevir), já que os esquemas de tratamento são diferentes.
O ministro da Saúde, Paulo Macedo, por seu lado, acusou esta semana a indústria farmacêutica de estar a fazer pressão para que sejam introduzidos medicamentos inovadores nos hospitais, em especial para a hepatite C, sublinhando que o “negócio da indústria farmacêutica é de 3,7 mil milhões de euros” e que é sempre preciso ver vantagens terapêuticas do medicamento.
Na Índia, por exemplo, o Estado pediu a impugnação da patente do laboratório responsável pelo Sofosbuvir, para impedir que tenha o monopólio da produção e da definição do preço do medicamento.
Cirurgiões e enfermeiros entre as vítimas da doença
Esta doença tem um forte estigma social. Diz-se que é uma doença de toxicodependentes. O estereótipo cruel que está associado à hepatite C é injusto e faz pensar noutra doença que facilmente ainda leva à descriminarão, o VIH/sida. “Mas não se pode dizer que é uma doença de toxicodependentes. De maneira nenhuma”, observa Rui Tato Marinho.
Pode atingir toda a gente, com uma grande percentagem entre os consumidores de estupefacientes, pela partilha de seringas – actualmente está entre os 50 e os 80%, tendo os números reduzido pelos programas de prevenção, em especial os de troca de seringas. Mas afecta também os que fizeram transfusões antes de 1992, e até entre os próprios profissionais de saúde (2 a 3%, segundo Tato Marinho). Os que manipulam seringas e agulhas (enfermeiros) ou os que operam, como cirurgiões são os grupos de maior risco. Mas há que contar ainda com 30% dos infectados em que “não se consegue identificar com precisão o modo de contágio” e apenas se “pode adivinhar como contraíram a doença”, explica o médico.
Vírus silencioso:
- Vírus infeccioso e ‘silencioso’: é assintomático (pode não apresentar sintomas durante 20, 30 ou até 40 anos). Pode contrair-se pela manipulação de agulhas, transfusões anteriores a 1992, consumo de drogas injectáveis com partilha do material, sexo de risco ou tatuagens sem que o material tenha sido devidamente esterilizado.
- Atinge o fígado dos pacientes. Sem tratamento, evolui para cirrose e pode degenerar em cancro do fígado. O risco de evoluir para complicações (cirrose, cancro) é de cerca de 30 a 40% a longo prazo.
- Tem vários tipos, sendo os mais frequentes o 1 e o 3, que os fármacos actuais combatem com uma eficácia que pode chegar aos 80%.
- Tem cura definitiva, particularmente se não tiver ocorrido evolução para cirrose, desde que tratada a tempo. Com os novos tratamentos pode chegar a mais de 90%.

 
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