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Russos ainda não sabem como lembrar assassinato da família real

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Russos ainda não sabem como lembrar assassinato da família real

A Rússia assinala por estes dias o 90º aniversário do assassínio pelos comunistas da família do último czar russo, Nicolau II, mas mantém-se a polémica sobre o papel do último monarca na História do país


As celebrações religiosas começarão na madrugada de sexta-feira na cidade de Ekaterimburgo, no local onde Nicolau II, a mulher, Alexandra, os seus cinco filhos - Alexei, Olga, Anastássia, Tatiana e Maria - bem como outros membros da família real e criados foram barbaramente assassinados pelos comunistas russos, que tinham tomado o poder pela força a 7 de Novembro de 1917.

Depois de assassinarem os prisioneiros na Casa de Lepatiev, no local onde recentemente foi construído um templo ortodoxo, os comunistas queimaram os restos mortais e enterraram-nos nos arredores de Ekaterimburgo, cidade dos Urais russos.

Em 2000, o Concílio Episcopal da Igreja Ortodoxa Russa canonizou todos os membros da família imperial russa.

Na véspera da data, Alexei II, patriarca de Moscovo e de Toda a Rússia, lançou um apelo aos crentes ortodoxos russos para que «expulsem dos seus corações toda a inimizade e ódio, falsidade e mentira, ira e inveja, se transformem em portadores de amor e obediência, paz e paciência, humildade».

Alexei II sublinha especialmente que «a maldade realizada em Julho de 1918 deu início aos acontecimentos trágicos que o nosso povo viveu no século passado».

«As décadas marcadas na História do nosso país pelos sofrimentos da guerra, por confrontos fracticidas, pela fome e por repressões de envergadura inédita, foram, em grande parte, condicionadas pelos erros morais que têm raíz no desvio das pessoas das verdades eternas dadas por Deus» - lê-se na mensagem.

Hoje, a Comissão de Investigação da Procuradoria Geral da Rússia divulgou um comunicado onde se reafirma que «a peritagem genética confirmou que os restos mortais encontrados a 29 de Julho de 2007, nos arredores de Ekaterimburgo, pertencem a membros do último imperador Nicolau II, a princesa Maria e o princípie herdeiro Alexei».

Em 1991, foram encontrados os restos mortais dos outros membros da família real, que foram transladados para São Petersburgo depois de aturados exames em laboratórios russos e estrangeiros.

Os descendentes da família real aceitaram as conclusões dos cientistas. «Para mim, é muito importante que se trata de uma notícia oficial... Os que não acreditam... que digam porque razão pensam assim... A família esperava que assim fosse» - declarou Dmitri Romanov, dirigente da Fundação Romanov para a Rússia.

Porém, a Igreja Ortodoxa Russa recusa-se a reconhecer que esses restos mortais pertençam à família de Nicolau II, alegando com o facto de «os cientistas não terem respondido a muitas das perguntas colocadas pela Igreja» e propõe a criação de uma «comissão interdisciplinar» para estudar o caso.

Ao contrário das autoridades criminais, que reconhecem que os restos mortais da família de Nicolau II foram encontrados e identificados, as autoridades judiciais russas recusam-se a reabilitá-la politicamente.

Além disso, o Estado ainda não condenou esse crime do regime comunista, não obstante os apelos dos mais diversos quadrantes políticos.

«O Estado que não condena os crimes cometidos contra a família do Czar lança a carga das consequências desses crimes para cima de si próprio e, parcialmente, para cima do povo» - considera Vselovod Tchaplin, porta-voz da Igreja Ortodoxa.

«Não podemos avançar com confiança para o futuro, se na nossa história continuar a nódoa não lavada do regicídio» - concluiu.

A indecisão das autoridades em episódios polémicos como este, a politização extrema da história ou as tentativas de reabilitação de tiranos do passado como José Estaline confundem a opinião pública.

A Rádiotelevisão da Rússia, canal público, organizou um concurso Nomes da Rússia, semelhante aos Dez mais famosos portugueses, e teve de suspender a votação, realizada através de um sítio na Internet, devido a resultados no mínimo estranhos.

Das cinquenta personalidades propostas, Vladimir Vissotski, conhecido bardo soviético, foi o mais votado durante muito tempo. De súbito, na semana passada, a votação em José Estaline disparou, tendo alguns peritos considerarado ter havido uma «votação organizada» no ditador.

Mas o domínio de Estaline durou apenas uma semana, porque se registou uma votação em massa, possivelmente também organizada, em Nicolau II, que passou a ocupar o primeiro lugar e «destronou» Estaline.

Hoje, a votação foi suspensa por «problemas técnicos», dizem os organizadores do concurso, mas poucos são os que duvidam que isso foi feito para repensar a forma como está a ser realizado o concurso.

O czar Nicolau II irá continuar a ser uma personalidade história muito problemática, tendo em conta a sua actividade política num período dramático da História russa.

Para a Igreja Ortodoxa e para alguns monárquicos, o último imperador é um santo mas há também os ortodoxos e monárquicos que consideram que ele não passa de um «traidor» pois, em Fevereiro de 1918, renunciou ao poder que tinha recebido de Deus. Para os comunistas, Nicolau continuará sempre a ser O Sanguinário.


Lusa/SOL
 
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