Antonio A Alves
GF Ouro
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Um sarcófago egípcio apreendido permanece guardado num armazém secreto de Nova Iorque.
A senhora de peruca riscada e olhar fixo jaz sobre uma mesa fortemente iluminada, enquanto a professora paira sobre o seu rosto à distância de um palmo. “Ainda em admirável estado… extremamente bem conservada”, murmura a especialista. Enquanto o seu olhar desce, percorrendo o corpo da vítima pintado sobre a tampa da urna funerária, destaca-se um corte recente que atravessa a região superior das coxas e símbolos do deus Amon, um íbis e encantamentos mágicos transcritos do Livro dos Mortos. “Eis aqui o seu nome e título: Chesep--amon-taiecher, Senhora da Casa. Ao lê-lo em voz alta, estou a cumprir o seu desejo de ser lembrada na vida depois da morte.”
Esta nobre mulher egípcia morreu há cerca de 2.600 anos. A egiptóloga Sarah Parcak está a examinar o sarcófago interior, um dos três invólucros de madeira que serviu outrora de berço ao corpo mumificado, cujo odor ainda subsiste dentro do sarcófago. Os salteadores serraram este sarcófago em quatro partes e despacharam--no por correio aéreo para os Estados Unidos, onde um especialista em restauro de antiguidades voltou a montá-lo. Alguns meses mais tarde, um agente dos serviços aduaneiros descobriu o caixão escondido em casa de um negociante de antiguidades. Encontra-se agora num armazém em local secreto da cidade de Nova Iorque, onde as autoridades federais guardam artefactos apreendidos provenientes de todas as partes do mundo. Aqui encontra-se um gigantesco Buda de pedra proveniente da Índia, cavaleiros de terracota originários da China, relevos do Iraque, da Síria e do Iémen. Todas as peças são órfãs do comércio ilícito de antiguidades, vítimas da batalha internacional pelo património cultural.
Desde ladrões de templos na Índia a saqueadores de igrejas na Bolívia, passando por quadrilhas de salteadores de túmulos formadas por cem homens na província chinesa de Liaoning, os bandidos pilham sistematicamente o nosso passado. A pilhagem é difícil de quantificar, mas as imagens recolhidas por satélite, as apreensões das autoridades policiais e os relatos de testemunhas obtidos no campo comprovam que o comércio de tesouros roubados se encontra em crescimento explosivo em todo o mundo.