Telespectadores desde o berço

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O poder das imagens em movimento é enorme sobre os bebés. Ficam em êxtase diante de uma televisão ligada. O que não quer dizer que seja bom. Especialistas em desenvolvimento infantil alertam para os riscos de uma exposição precoce.



Primeiro chegaram os Teletubbies, no final dos anos 90, na Grã-Bretanha. O sucesso foi tal que logo surgiram outros programas dedicados aos mais pequenos telespectadores, na faixa etária abaixo dos três anos. Programas concebidos por pedagogos, com arte, música e imagens vagarosas são frequentes nos canais generalistas. Mas também há canais televisivos dedicados apenas - 24 horas por dia - aos bebés. Pois se há tantos que passam a noite acordados, pode muito bem ser útil, às quatro da manhã, ver um episódio da série preferida.

Será demasiado cedo para começar a ver televisão?

O psicólogo britânico Aric Sigman dedicou-se ao estudo da influência da televisão nos mais pequenos, incluindo a análise das mais recentes investigações. No livro que escreveu sobre o assunto, «Remotely Controlled: How Television is Damaging Our Lives», alerta para os riscos de uma exposição precoce: «Ver televisão, independentemente dos conteúdos, está associado a mudanças biológicas e cognitivas desfavoráveis.» Demasiado tempo em frente ao ecrã, acrescenta, «conduz a alterações hormonais que condicionam o sono, levam a obesidade e a baixa imunidade à doença.»
Estas alterações acontecem com níveis de exposição bem abaixo da média verificada nos países desenvolvidos.


O pediatra Frederick Zimmerman, professor e investigador na Universidade de Washington, realizou um estudo, nos Estados Unidos, sobre a televisão vista por crianças dos 2 aos 24 meses. E concluiu que 40 por cento dos bebés de três meses vêem televisão todos os dias, enquanto aos dois anos são já 90 por cento. Este especialista desconselha que crianças com menos de dois anos vejam televisão e relaciona essa realidade com alguns problemas que surgem mais tarde: dificuldades na leitura e no raciocínio matemático, excesso de peso e obesidade, hiperactividade e agressividade. O estudo ressalta que as crianças que fizeram parte da amostra assistiam a programação infantil. Para Zimmerman, a televisão é um robô que forma robôs.
A Academia Americana de Pediatria, na linha dos especialistas citados, há muito que alerta os pais para os riscos de uma exposição exagerada e precoce à televisão: «A AAP, enquanto não surgirem novos estudos sobre a influência da televisão no desenvolvimento cerebral, não recomenda que as crianças com menos de três anos vejam televisão (não apenas os canais, mas também dvd, vídeo, etc).»
França proibiu programas anunciados para menores de três anos
O Baby Tv foi criado em Israel em 2003, para crianças até aos três anos, e já foi exportado para cerca de 120 países.


«Numa época em que se fala muito de ecologia, é preciso consciencializarmo-nos de que proteger os nossos filhos do risco de desenvolver uma dependência em relação ao ecrã é uma forma de ecologia do espírito. Por isso, é urgente que nos mobilizemos para a criação de uma moratória que proíba a existência desses canais, antes que a ciência possa conhecer melhor a relação da criança pequena com o ecrã.»

Estava lançada a polémica que teve resultados em Agosto de 2008: o Conselho Superior do Audiovisual proibiu os canais franceses de emitir programação específica para menores de três anos, como forma de proteger os bebés dos efeitos negativos da caixa mágica. «A televisão prejudica o desenvolvimento de crianças menores de três anos e coloca-as sob um certo número de riscos, encorajando a passividade, atrasando o desenvolvimento da linguagem, levando a uma sobre-excitação, a problemas de sono e concentração, bem como a dependência do ecrã», podia ler-se no texto que explicava a medida. Além disso, os canais transmitidos por cabo e produzidos noutros países deviam avisar os telespectadores de que «Ver televisão pode interromper o desenvolvimento de crianças menores de três anos, mesmo quando se trata de canais dirigidos especificamente para eles». Tal e qual como os avisos que vêm nos maços de tabaco.

Em Portugal
A Portugal, o Baby TV chegou em 2006 e não gerou muitas reacções públicas. Já na privacidade do lar, foram muitos os bebés que começaram a ver televisão porque, afinal, até já tinham um canal só para si.

A Sara tem 13 meses e conheceu há pouco tempo o Baby First, que também já está no nosso país. Mas ainda está longe ficar viciada. Rodrigo, o pai, conta que talvez veja 10 minutos por semana do canal especializado. «Ao fim de semana, às vezes, gosto de ver com ela programas sobre a vida animal. Mas também são só uns dez minutos de cada vez», acrescenta.

«Eu e a mãe conversámos sobre o assunto e acreditamos que podia ser prejudicial para o desenvolvimento dela. Mas já nem é uma questão de princípio, é porque temos tão pouco tempo para estar com ela que há sempre actividades mais estimulantes e divertidas do que ver televisão», afirma. «Quando está a olhar para o écrã, não está a mexer, a descobrir o mundo à volta, a comunicar connosco. E isso é o mais importante nesta fase. E a prova é que o que ela mais gosta na televisão é de mexer nos comandos!»

A Sara tem pais disponíveis e os dois presentes ao fim do dia. O que não acontece em todas as casas, onde a televisão se torna, muitas vezes, a baby-sirtter de serviço. E nesses casos, não só dez minutos de cada vez.


Os limites para cada idade
Segundo Aric Sigman, psicólogo britânico que estudou a influência da televisão no desenvolvimento infantil, as crianças com menos de três anos não devem, de todo, ver televisão. Nunca!
A partir daí, a televisão pode começar a fazer parte das suas vidas de forma gradual e muito controlada. Ou seja, dos três aos cinco anos não devem ver mais de meia hora de televisão, sendo que o programa deve ser escolhido pelos pais de entre a oferta de qualidade que existe hoje nos muitos canais infantis.
Dos cinco aos 12 anos, não devem assistir a mais do que uma hora por dia e para os adolescentes, esse limite pode ir até uma hora e meia.
 
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