Plasma e tipos sangüíneos
O plasma é um líquido transparente e levemente amarelado. Mas ele também pode ter uma aparência meio semelhante a do leite após uma refeição gordurosa ou quando a pessoa tem um nível alto de lipídeos no sangue. Ele é composto por 90% de água e 10% de coisas essenciais à vida. Esses 10% são substâncias dissolvidas que circulam pelo corpo e entram nos tecidos e células em que são necessários através da difusão, uma troca de substâncias que ocorre das áreas de maior concentração para áreas de menor concentração. Quanto maior a diferença de concentração (gradiente), maior a quantidade de material transferido. Já os subprodutos e dejetos fluem na direção oposta, de onde eles são criados, nas células, para a corrente sangüínea, onde são eliminados pelos rins ou pulmões.
Como a pressão hidrostática (pressão sangüínea) empurra o líquido para fora dos vasos sangüíneos, existe a pressão oncótica (causada pelas proteínas dissolvidas no sangue), que equilibra a situação e faz o líquido permanecer dentro deles.
Responsáveis pela pressão oncótica, as proteínas compõem uma grande parte dos 10% de material dissolvidos no plasma. Suas moléculas são muito maiores do que as moléculas de água e tendem a ficar dentro dos vasos sangüíneos, pois é muito mais difícil para elas passarem pelos poros dos capilares. Assim, elas têm uma concentração maior nos vasos sangüíneos e tendem a atrair água para manter sua concentração relativa nos vasos sangüíneos mais parecida com a do líquido fora deles. E essa é uma das maneiras utilizadas pelo corpo para manter um volume constante de sangue.
O plasma contém de 6,5 a 8 gramas de proteína por decilitro de sangue. Entre essas proteínas, as principais são a albumina (60%), globulinas (alfa 1, alfa 2, beta e gamaglobulinas - imunoglobulinas) e proteínas coagulantes (especialmente, o fibrinogênio). Essas proteínas ajudam a manter a pressão oncótica (principalmente a albumina) e a transportar substâncias como lipídeos, hormônios, medicamentos, vitaminas e outros nutrientes. Além disso, elas também fazem parte do sistema imunológico (imunoglobulinas), ajudam o sangue no processo de coagulação (fatores coagulantes), mantêm o equilíbrio de pH e desempenham o papel de enzimas nas reações químicas que ocorrem pelo corpo.
Outra grande categoria de substâncias dissolvidas no plasma são os eletrólitos. Eles incluem:
•Sódio (Na+)
•Potássio (K+)
•Sódio (Na+)
•Bicarbonato (HCO3-)
•Cálcio (Ca+2)
•Magnésio (Mg+2)
Todos eles são compostos químicos essenciais para muitas funções do corpo, incluindo o equilíbrio de líquidos, condução nervosa, contração muscular (incluindo o coração), coagulação sangüínea e equilíbrio do pH.
Outros materiais dissolvidos no plasma são os carboidratos (glicose), colesterol, hormônios e vitaminas. O colesterol costuma ser transportado preso a lipoproteínas como a lipoproteínas de baixa densidade (LDLs) e de alta densidade (HDLs). Para mais informações sobre o colesterol, veja Como funciona o colesterol.
Quando o plasma coagula, o líquido restante se chama soro. Quando se coleta sangue de um paciente, permite-se que essa amostra coagule em um tubo de ensaios, onde as células e fatores coagulantes vão para a parte inferior do tubo e o soro fica na parte superior. Esse soro é utilizado em testes para vários dos itens que discutimos para determinar a existência de anomalias.
Quanto aos tipos sangüíneos, há quatro tipos principais: A, B, AB e 0. Os tipos sangüíneos são determinados por proteínas chamadas antígenos (ou aglutinogênios) existentes na superfície das células vermelhas.
Há dois antígenos: A e B. Se você tem antígeno A nas suas hemácias, o seu tipo sangüíneo é o A. Mas se tem o antígeno B, o seu tipo é B. Agora, se tiver os dois antígenos, o seu tipo sangüíneo é AB, o que nos leva à dedução de que caso você não tenha nenhum dos dois, o seu tipo sangüíneo é o O.
Quando um antígeno está presente na hemácia, o anticorpo (também conhecido como aglutinina) contra o outro tipo de sangue está presente no plasma. Por exemplo, o sangue tipo A possui anticorpos contra o tipo B. Já o tipo B possui anticorpos contra o tipo A. O tipo AB, por sua vez, não possui anticorpos no plasma, enquanto o tipo O possui os dois anticorpos. Esses anticorpos não estão presentes quando nascemos, eles se formam espontaneamente durante a infância e duram a vida inteira.
Além do sistema sangüíneo ABO, também há outro sistema, o grupo sangüíneo Rh. Há muitos antígenos Rh que podem estar presentes na superfície da hemácia, mas o mais comum é o antígeno D. Se esse antígeno estiver presente, o sangue é do tipo Rh+, e se ele não estiver presente, o sangue Rh-. Nos EUA, 85% da população é Rh+ e 15% é Rh-. Diferente do sistema ABO, o anticorpo correspondente ao antígeno Rh não se desenvolve espontaneamente, mas somente quando a pessoa com Rh- é exposta ao antígeno Rh (por meio de uma transfusão ou durante a gravidez). Quando uma mãe com sangue Rh- está grávida de um feto com Rh+, a mãe forma anticorpos que podem atravessar a placenta e causar uma doença chamada doença hemolítica do recém-nascido, ou eritroblastose fetal.
Doando sangue
Suprimentos de sangue da Cruz Vermelha enviados para o Golfo durante a Guerra do Golfo .
Uma unidade de sangue tem 450 mililitros e é misturada com compostos químicos (CPD: Citrato-Fosfato-Dextrose) para impedir a coagulação. A cada ano, de 12 a 14 milhões de unidades de sangue são doadas nos EUA. Geralmente, um doador deve ter, pelo menos, 17 anos, estar saudável e pesar mais de 50 quilos.
Antes da doação, o doador recebe um panfleto informativo, e é feito um levantamento do histórico de doenças desse doador para garantir que ele não foi exposto a doenças transmissíveis pelo sangue e para determinar se a doação não apresenta riscos para a sua saúde. Também são medidos a temperatura, freqüência cardíaca, pressão sangüínea e peso. E, finalmente, retiram algumas gotas de sangue para terem certeza de que o doador não tem anemia. Na doação, costuma-se demorar menos de 10 minutos para tirar seu sangue, contando a partir do momento em que inseriram a agulha. E, por falar em agulha, todos os materiais são esterilizados e descartáveis, o que anula qualquer perigo de infecção. Recomenda-se que os doadores bebam muito líquido, evitem fazer exercícios no dia da doação e espere oito semanas até fazer uma nova doação.
A doação autóloga é a doação de sangue para uso próprio e costuma ser feita antes de uma cirurgia. Já a aferése é o procedimento no qual apenas um componente específico do sangue do doador é removido (normalmente plaquetas, plasma ou leucócitos), o que permite que seja retirada uma quantidade maior desse componente do que existiria em uma unidade de sangue.
Cada unidade de sangue pode ser separada em vários componentes, permitindo que cada um desses componentes seja dado, especificamente, a alguém que só precise dele.
Assim, uma unidade de sangue pode ajudar várias pessoas diferentes. Os componentes incluem:
•Células vermelhas
•Plasma fresco congelado
•Plaquetas
•Células brancas
•Albumina
•Imunoglobulinas
•Crioprecipitado de fator anti-hemolítico
•Fator VIII concentrado
•Fator IX concentrado
São feitas transfusões de células vermelhas para aumentar a capacidade de transporte de oxigênio em pacientes com sangramentos ou anemia extrema. Uma unidade de sangue aumenta a quantidade de hemoglobina em 1 g/dl e o hematócrito em 2 ou 3%.
A transfusão do plasma, após ser derretido, trata os distúrbios de sangramento que ocorrem quando a pessoa não possui muitos dos fatores coagulantes. Isso é causado por insuficiência hepática, quando há excesso do anticoagulante Varfarina, ou quando grandes sangramentos e transfusões causam uma diminuição nos níveis de fatores coagulantes.
A transfusão de plaquetas, por sua vez, é feita em pessoas com um número pequeno delas (trombocitopenia) ou cujas plaquetas apresentam um funcionamento anormal. Cada unidade de plaquetas aumenta a contagem em, aproximadamente, 5 mil plaquetas por microlitro de sangue.
A albumina compõe até 60% das proteínas no plasma, é produzida no fígado e é usada quando o volume sangüíneo precisa ser aumentado, mas os líquidos não deram conta do recado. Exemplos desses casos são os sangramentos e queimaduras graves, e insuficiência hepática.
Já as imunoglobulinas são dadas às pessoas que foram expostas a certas doenças como a raiva, tétano ou hepatite, como uma forma de preveni-las.
A hemofilia A (hemofilia clássica) causada pela deficiência do fator VIII, é a situação na qual o fator VIII concentrado e o crioprecipitado são usados.
Já a hemofilia B pede o uso do fator IX concentrado, já que é a deficiência dele que causa essa doença.
São realizados muitos testes para garantir que uma amostra de sangue é segura. Por exemplo, verifica-se a presença de:
•antígeno de superfície da hepatite B
•anticorpo para o antígeno central da hepatite B
•anticorpo da hepatite C
•anticorpos do HIV-1 e HIV-2
•antígeno p24 do HIV-1
•anticorpos anti-HTLV-1 e anti-HTLV-2
•sífilis
•doença de Chagas (no Brasil e, desde 2001, nos EUA)
Se qualquer um desses testes tiver resultado positivo, o sangue é descartado. A partir de 1996, o risco de contrair HIV com uma única transfusão de sangue era de 1 em 676 mil unidades de sangue, enquanto o risco de desenvolver hepatite B era de 1 em cada 66 mil unidades e o de hepatite C era de 1 em cada 100 mil unidades. No entanto, testes mais novos podem diminuir o risco de hepatite C para algo em torno de 1 em 500 mil e 1 em 1 milhão.
Quando se faz a transfusão de sangue para um paciente, é necessário determinar o tipo sangüíneo para que não ocorra uma reação à transfusão.
Essa reação ocorre quando os antígenos nas células vermelhas do doador reagem com os anticorpos presentes no plasma do receptor. Ou seja, se sangue do tipo A (que contém antígenos A) é dado a alguém com o tipo de sangue B (que tem anticorpos anti-A), a reação vai ocorrer.
Mas o oposto não ocorre, pois não é comum os anticorpos no plasma do sangue doado reagirem com os antígenos do receptor (uma quantidade muita pequena de plasma é transferida e ela é diluída a um nível baixo demais para causar uma reação).
Quando esse tipo de reação ocorre, um anticorpo se liga a antígenos de várias hemácias, fazendo com que elas se juntem e entupam os vasos sangüíneos. Então, elas são destruídas pelo corpo, num processo chamado hemólise, e liberam a hemoglobina das hemácias no sangue. Essa hemoglobina acaba sendo quebrada em bilirrubina, que pode causar icterícia. São esses mesmos passos que ocorrem também na doença hemolítica do recém-nascido, como já mencionamos acima.
Quando uma transfusão de emergência é necessária e não se sabe o tipo sangüíneo do paciente, usa-se sempre o tipo O-, que não possui antígenos que possam reagir com os anticorpos do plasma desse paciente. E é por isso que alguém com tipo O- é chamado de doador universal. Na outra ponta da história, alguém com tipo AB é chamado de receptor universal, pois não possui anticorpos que possam reagir com o sangue doado.