Amalia Rodrigues

helldanger1

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Fado Da Maldição


Que destino, ou maldição
Manda em nós, meu coração?
Um do outro assim perdido,
Somos dois gritos calados,
Dois fados desencontrados,
Dois amantes desunidos.

Por ti sofro e vou morrendo,
Não te encontro, nem te entendo,
A mim o digo sem razão:
Coração... quando te cansas
Das nossas mortas esperanças,
Quando paras, coração?

Nesta luta, esta agonia,
Canto e choro de alegria,
Sou feliz e desgraçada.
Que sina a tua, meu peito,
Que nunca estás satisfeito,
Que dás tudo... e não tens nada.

Na gelada solidão,
Que tu me dás coração,
Não é vida nem é morte:
É lucidez, desatino,
De ler no próprio destino
sem poder mudar-lhe a sorte...
 

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Fado Da Saudade


Eu canto o fado pra mim
Abre-me as portas que dão
Do coração cá pra fora
E a minha dor sem ter fim
Que está naquela prisão
Sai da prisão, vai-se embora

Ai, minha dor
Sem o amargo do teu pranto
Não cantava como canto
No meu canto amargurado
Ai, meu amor
Que és agora que eu sofro e choro?
Afinal, agora que adoro
É por ti que eu canto fado!

Eu canto o fado pra mim
Já o cantei pra nós dois
Mas isso foi no passado
Já que assim é, seja assim
Já me esqueceste depois
Já cada qual tem seu fado

O mais feliz é o teu, tenho a certeza
É o fado da pobreza
Que nos leva à felicidade
Se Deus o quis
Não te invejo essa conquista
Porque o meu é mais fadista
É o fado da saudade
 

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Fado Das Tamanquinhas



De cantigas e saudades
Vive esta linda Lisboa!
Faz loucuras e maldades,
Mas, no fundo, pura e boa
Nas suas leviandades!

Burguesinha no Chiado
No seu pátio, costureira,
Nos retiros, canta o fado,
No mercado é regateira
E o Tejo é seu namorado.

Faz das cantigas pregões,
Gosta do sol e da lua,
Vai com fé nas procissões,
Doida nas marchas da rua,
Tem ciúmes e paixões.

Viva esta linda Lisboa
Diferente de outras cidades.
É vaidoso o Madragoa,
Defeitos e qualidades,
Tudo tem esta Lisboa.
 

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Fado Do Ciúme

Se não esqueceste
O amor que me dedicaste,
E o que escreveste
Nas cartas que me mandaste,
Esquece o passado
E volta para meu lado,
Porque já estás perdoado
De tudo o que me chamaste.

Volta meu querido,
Mas volta como disseste,
Arrependido
De tudo o que me fizeste,
Haja o que houver
Já basta p'ra teu castigo
Essa mulher
Que andava agora contigo.

Se é contrafeito
Não voltes, toma cautela
Porque eu aceito
Que vivas antes com ela
Pois podes crer
Que antes prefiro morrer
Do que contigo viver
Sabendo que gostas dela.

Só o que eu te peço
É uma recordação,
Se é que mereço
Um pouco de compaixão,
Deixa ficar
O teu retrato comigo,
P'ra eu julgar
Que ainda vivo contigo.
 

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Fado Do Silencio


Quando Lisboa anoitece
Como um veleiro sem velas
A Alfama toda parece
Uma casa sem janelas
Aonde o povo arrefece
É numa água furtada
No espaço roubado à mágoa
Que Alfama fica fechada
Em quatro paredes dágua
Quatro paredes de pranto
Quatro muros de ansiedade
Que à noite fazem o canto
Que se ascende na cidade
Fechada em seu desencanto
A Alfama cheira a saudade
A Alfama não cheira a fogo
Cheira a povo e solidão
Cheira a silêncio magoado
Sobra a tristeza com pão
Alfama não cheira a fado
Mas não tem outra canção
 

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Fado Dos Caracóis


As janelas avarandadas
Mora aqui algum doutor
Ai, eu venho me aconselhar
Ai, ande logo, ó meu amor

São caracóis, são caracolitos
São espanhóis, são espanholitos
São espanholitos, são os espanhóis
São caracolitos, são os caracóis

Ai, um dia eu fui à Espanha
Comi lá com os espanhóis
Toucinho assado no espeto
No molho dos caracóis
 

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Fado Dos Fados



Naquele amor derradeiro
Madito e abençoado
Pago a sangue e a dinheiro
Já não é amor, é fado

Quando o ciúme é tão forte
Que ao próprio bem desejado
Só tem ódio ou dá à morte
Já não é ciúme, é fado

Canto da nossa tristeza
Choro da nossa alegria
Praga que é quase uma reza
Loucura que é poesia
Um sentimento que passa
A ser eterno cuidado
Em razão duma desgraça
E assim tem de ser, é fado

Um remorso de quem sente
Que se voltasse ao passado
Ficaria novamente
Já não é remorso, é fado

E esta saudade de agora
Não de algo bem acabado
Mas as saudades de outrora
Já não é saudade, é fado


 

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Fado Eugenia Camara



Amar é ter alegria
Nem o mundo existiria,
Não existindo esse bem.
Quem não amar, não é nada,
Como é bom ser adorada,
Como é bom gostar de alguém!

Mas se o amor, feito mágoa,
Se desfaz em gota dágua,
Pouco a pouco fica o mar!
E depois, o mar desfeito,
Batendo de encontro ao peito
Põe a alma a soluçar!

A vida é toda desejos,
Marcam-se os dias com beijos,
Quem não amou, não viveu!
Só quem perde um grande amor
É que sabe dar valor
A todo bem que perdeu!

Mas se houver uma traição
Mata o próprio coração,
O amor que viu nascer
Nessa dor que nos tortura
Antes morrer de amargura,
Que amargurada viver!
 

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Fado Hilário


Que sina desventurada
Me criou só para dois
Cada ventura sonhada
É desventura maior

Quantos caminhos cruzados, ai
A vida terei que andar!
Meus olhos já estão cansados, ai
Doutros olhos procurar

Já não posso ser contente
Trago a esperança perdida
Ando perdido entre a gente
Não morro, nem tenho vida
 

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Fado Lisboeta


não queiram mal a quem canta
quando uma garganta se enche e desgarra
que a mágoa já não é tanta
se a confessar à guitarra
quem canta sempre s ausenta
da hora cinzenta da sua amargura
não sente a cruz tão pesada
na longa estrada da desventura

eu so entendo o fado
pla gente amargurada à noite a soluçar baixinho
que chega ao coração num tom magoado
tão frio como as neves do caminho
que chora uma saudade ou canta ansiedade
de quem tem por amor chorado
dirão que isto é fatal, é natural
mas é lisboeta
e isto é que é o fado

oiço guitarras vibrando e vozes cantandona rua sombria
as luzes vão se apagando a anunciar que é já dia
fecho em silêncio a janela, já se ouve na viela
rumores de ternura
surge a manhã fresca e calma
só na minha alma é noite escura

eu so entendo o fado
pla gente amargurada à noite a soluçar baixinho
que chega ao coração num tom magoado
tão frio como as neves do caminho
que chora uma saudade ou canta ansiedade
de quem tem por amor chorado
dirão que isto é fatal, é natural
mas é lisboeta
e isto é que é o fado
 

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Fado Malhoa


Amália Rodrigues - Fado Malhoa
by José Galhardo / Frederico Valério


Alguém que Deus já lá tem
Pintor consagrado,
Que foi bem grande
E nos fez já ser do passado,
Pintou numa tela
Com arte e com vida
A trova mais bela
Da terra mais querida.

Subiu a um quarto que viu
A luz do petróleo
E fez o mais português
Dos quadros a óleo
Um Zé de Samarra
Com a amante a seu lado
Com os dedos agarra
Percorre a guitarra
E ali vê-se o fado.

Dali vos digo que ouvi
A voz que se esmera
Dançando o Faia banal
Cantando a Severa
Aquilo é bairrista
Aquilo é Lisboa
Aquilo é fadista
Aquilo é de artista
E aquilo é Malhoa.
 

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Fado Marujo


O fado fez-se ao mar nas caravelas
Despediu-se do Tejo e fez viagem
Cantou-o p'lo convés a marinhagem
Quando no céu acordavam estrelas

Saudades amargou de seus amores
Adoeceu febril e quase morto
Quando já não pensav a encontrar porto
Foi quando achou descanso nos Açores

O fado ganhou sotaques diferentes
No falar das nossas gentes
Qual deles mais engraçado
É que o fado, mesmo fora de Lisboa
Se mexe com uma pessoa
Nunca deixa de ser fado

Como era marujo e atrevido
Andou com uma viola de paixões
Mas tendo ela já dois corações
Tomou outra de amores e foi corrido

Alguns afirmam mesmo ser verdade
Que nunca se refez desses amores
Tornou-se vagabundo p'los Açores
E de tanto chorar fez-se saudade
 

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Fado Menor



Os meus olhos são dois círios
dando luz triste ao meu rosto
marcado pelos martírios
da saudade e do desgosto

Quando oiço bater trindades
e a tarde já vai no fim
eu peços às tuas saudades
um padre nosso por mim

Mas não sabes fazer preces
não tens saudade nem pranto
por que é que tu me aborreces
por que é que eu te quero tanto

És para meu desespero
como as nuvens que andam altas
todos os dias te espero
todos os dias me faltas
 

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Fado Meu


Cantar é o meu fado verdadeiro
Com mágoas ou amor no coração
Sou como o mar selvagem ou fagueiro
Mas sempre entoar uma canção
Do vento que conduz a gente aos portos
Das sereias a chamar
E dos marinheiros mortos
Ai, quantos desejos mortos
Canto eu e canta o mar

É fado meu, já não sou eu
Se canto o fado de outra vida
É meu aquele pranto
É minha a dor que canto
É fado meu, já não sou eu
E a minha voz no fado erguida
Dá-me a alma imóvel
De irmã de todos
Que a dor perdeu
 

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Fado Nocturno



Rodam as quatro estações
Dá lugar o sol à lua
Cai a noite sem pregões
E nós ficamos na rua
A escutar dois corações
Que dizem que vou ser tua!

Podes dizer um adeus
E olhar-me com desdém
Que eu sei que não serás meu
Só quero que tudo bem
Que agora mesmo morreu
Não o diz a mais ninguém

Cegam as luzes perdidas
Que se escondem pela cidade
Horas mortas, já vencidas
Dóem-me as dores da saudade
E das saudades fingidas
De quem finge ter saudades.
 

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Fado Perdição


Este amor não é um rio
Tem a vastidão do mar
A dança verde das ondas
Soluça no meu olhar

Tentei esquecer as palavras
Nunca ditas entre nós
Mas pairam sobre o silencio
Nas margens da nossa voz

Tentei esquecer os teus olhos
Que não sabem ler nos meus
Mas neles nasce a alvorada
Que amanhece a terra e os céus

Tentei esquecer o teu nome
Arrancá-lo ao pensamento
Mas regressa a todo o instante
Entrelaçado no vento

Tentei ver a minha imagem
Mas foi a tua que vi
No meu espelho, porque trago
Os olhos rasos de ti

Este amor não é um rio
Tem abismos como o mar
E o manto negro das ondas
Cobre-me de negro o olhar

Este amor não é um rio
Tem a vastidão do mar
 

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Fado Português


O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

Ai, que lindeza tamanha,
meu chão , meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.

Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.

Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.

Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro veleiro
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava
 

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Flor Do Verde Pinho


Ó meu jardim de saudades
Verde catedral marinha
E cuja reza caminha
Pelas roboantes naves.

Ai flores do verde pinho
Dizei que novas sabedes
Da minha alma cujas sedes
M'a perderam no caminho.

Revejo-te e venho exangue,
Acolhe-me com piedade
Longo jardim da saudade
Que me puseste no sangue.

Ai flores do verde ramo
Dizei que novas sabedes
Da minha alma cujas sedes
M'alongaram do que eu amo.

A tua alma em mim existe
E anda no aroma das flores
Que te falam dos amores
De tudo o que é lindo e triste.

A tua alma com carinho
Eu guardo-a e deito-a a cantar
Das flores do verde pinho
Àquelas ondas do mar.

Ai flores do verde ramo
Dizei que novas sabedes
Da minha alma cujas sedes
M'alongaram do que eu amo
 

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Foi Deus


Não sei, não sabe ninguém
Porque canto fado, neste tom magoado
De dor e de pranto . . .
E neste momento, todo sofrimento
Eu sinto que a alma cá dentro se acalma
Nos versos que canto
Foi Deus, que deu luz aos olhos
Perfumou as rosas, deu ouro ao sol e prata ao luar
Ai, foi Deus que me pôs no peito
Um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar
E pôs as estrelas no céu
Fez o espaço sem fim
Deu luto as andorinhas
Ai . . .deu-me esta voz a mim

Se canto, não sei porque canto
Misto de ternura, saudade, ventura e talvez de amor
Mas sei que cantando
Sinto o mesmo quando, me vem um desgosto
E o pranto no rosto nos deixa melhor
Foi Deus, que deu voz ao vento
Luz no firmamento
E pôs o azul nas ondas do mar
Ai foi Deus, que me pôs no peito
Um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar
Fez o poeta o rouxinol
Pôs no campo o alecrim
Deu flores à primavera ai
E deu-me esta voz a mim
 

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Foi Ontem


Foi ontem que lembrei o meu passado
E o fantasma remorso deu um beijo
Só ontem percebi tudo acabado
A luz crua da vida em que me vejo
Um filho desse amor, amor-pecado
No meu pecado vivo se tornou
E chora, e fica triste
Sempre que canto este meu fado
Fado do amor que o amor matou
Foi ontem como hoje
E sempre e sempre o que há de vir
Oh Deus, dá-me sossego pra dormir
Foi ontem que fechei os olhos teus
Mas novamente veio a primavera
E eu que julgava ter fechado os meus
O outro ninho, outro ciclo ou folhas dera
Foi ontem que fugiu, outra o levou
Por que será que tudo me castiga?
O que será que eu canto esta toada, esta cantiga
Que a experiência da vida me ensinou
Foi ontem, como hoje
E sempre e sempre o que há de vir
Oh Deus, olha por mim
Quero dormir
 
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