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Benite estreia-se na encenação de ópera no São Carlos
Joaquim Benite vai estrear-se na encenação de uma ópera no São Carlos com «La Clemenza di Tito», de Mozart, em resposta a um «desafio» do anterior director do teatro lírico, Paolo Pinamonti.
«Antes já tinha encenado uma pequena ópera de câmara de Mozart, 'Bastien e Bastienne', agora numa grande produção deste tipo é uma estreia», disse à Lusa o fundador da Companhia de Teatro de Almada.
«La Clemenza di Tito» vai estrear-se no São Carlos na próxima quarta-feira.
«O convite surgiu quando Paolo Pinamonti era director do São Carlos. Eu manifestei reticências (porque não tinha experiência anterior), mas ele insistiu e estimulou-me bastante, disse que queria encenadores de teatro a trabalhar nas óperas, que é uma coisa que se faz em todo o mundo», contou o encenador, num intervalo dos ensaios.
O novo director artístico do São Carlos, Christoph Dammann, que substituiu Pinamonti em meados no ano passado, manteve o convite e o projecto avançou.
«É uma experiência muito enriquecedora», sublinhou Benite, que não conhecia a obra.
O convite inicial de Pinamonti era para encenar «A Flauta Mágica».
«Eu disse-lhe redondamente que não, porque achava muito complicado», continuou. Depois surgiu a proposta de encenar «La Clemenza di Tito».
«É uma ópera muito interessante porque trata dos problemas da ética e do poder que é uma matéria que está sempre nos meus espectáculos de teatro», referiu.
Na opinião do encenador, a obra de Mozart tem na figura do imperador Tito «uma personagem utópica».
«Mas numa época como a nossa, em que faltam utopias, eu penso que é interessante confrontarmo-nos com essa visão um pouco idílica que Mozart tem em relação ao futuro», adiantou.
Na obra de Mozart (com libreto de Caterino Mazzolà sobre obra de Pietro Metastasio), a acção decorre em Roma, nos anos 79-81, e tudo gira em torno de uma conspiração para assassinar o soberano. Tito acaba por sobreviver ao atentado e perdoa, sendo glorificado.
Para aproximar mais a obra dos nossos dias, o encenador situou-a nos anos 20.
«A peça foi escrita em 1791, em plena revolução francesa, e de certa maneira constitui um aviso aos reis e imperadores: ou utilizam uma forma de governo mais tolerante e dialogante ou então podem correr o risco dos seus primos de França», assinalou.
Para Benite, nos anos 20 vive-se uma «época semelhante». Depois da I Guerra Mundial e da revolução russa, «havia uma grande utopia sobre as possibilidades de paz definitiva», por isso situando a acção nessa altura a obra torna-se «mais compreensível».
«Uma das coisas importantes que a peça nos pode dizer é que vivemos numa sociedade sem utopias», afirmou.
«Bem sei que não é realista pensar-se que é possível, através da clemência, conseguir grandes efeitos sociais, mas até esta afirmação deve ser feita com alguma contenção, porque no século XX tivemos o exemplo de Nelson Mandela, que, através do diálogo, da tolerância e justamente da clemência em relação aos antigos inimigos, conseguiu transformar um país», apontou.
Depois desta ópera, Joaquim Benite, que se estreou como encenador em 1971, confessou que lhe agradaria levar à cena uma outra obra de Mozart, «Don Giovanni», dado que já produziu a peça «Don Juan» de Molière.
«No teatro temos muito mais tempo para tratar de pormenores (às vezes estamos uma semana a trabalhar uma pequena cena), a produção da ópera é muito mais rápida», referiu o encenador, que começou os ensaios no São Carlos há três semanas.
A seguir, Joaquim Benite vai encenar uma peça de Shakespeare para o Festival de Mérida, «Timão de Atenas».
«Este ano é o ano da clemência. Estou a tratar da clemência de Tito e depois vou tratar da generosidade altruísta do Timão de Atenas», ironizou.
Fonte:Lusa
Joaquim Benite vai estrear-se na encenação de uma ópera no São Carlos com «La Clemenza di Tito», de Mozart, em resposta a um «desafio» do anterior director do teatro lírico, Paolo Pinamonti.
«Antes já tinha encenado uma pequena ópera de câmara de Mozart, 'Bastien e Bastienne', agora numa grande produção deste tipo é uma estreia», disse à Lusa o fundador da Companhia de Teatro de Almada.
«La Clemenza di Tito» vai estrear-se no São Carlos na próxima quarta-feira.
«O convite surgiu quando Paolo Pinamonti era director do São Carlos. Eu manifestei reticências (porque não tinha experiência anterior), mas ele insistiu e estimulou-me bastante, disse que queria encenadores de teatro a trabalhar nas óperas, que é uma coisa que se faz em todo o mundo», contou o encenador, num intervalo dos ensaios.
O novo director artístico do São Carlos, Christoph Dammann, que substituiu Pinamonti em meados no ano passado, manteve o convite e o projecto avançou.
«É uma experiência muito enriquecedora», sublinhou Benite, que não conhecia a obra.
O convite inicial de Pinamonti era para encenar «A Flauta Mágica».
«Eu disse-lhe redondamente que não, porque achava muito complicado», continuou. Depois surgiu a proposta de encenar «La Clemenza di Tito».
«É uma ópera muito interessante porque trata dos problemas da ética e do poder que é uma matéria que está sempre nos meus espectáculos de teatro», referiu.
Na opinião do encenador, a obra de Mozart tem na figura do imperador Tito «uma personagem utópica».
«Mas numa época como a nossa, em que faltam utopias, eu penso que é interessante confrontarmo-nos com essa visão um pouco idílica que Mozart tem em relação ao futuro», adiantou.
Na obra de Mozart (com libreto de Caterino Mazzolà sobre obra de Pietro Metastasio), a acção decorre em Roma, nos anos 79-81, e tudo gira em torno de uma conspiração para assassinar o soberano. Tito acaba por sobreviver ao atentado e perdoa, sendo glorificado.
Para aproximar mais a obra dos nossos dias, o encenador situou-a nos anos 20.
«A peça foi escrita em 1791, em plena revolução francesa, e de certa maneira constitui um aviso aos reis e imperadores: ou utilizam uma forma de governo mais tolerante e dialogante ou então podem correr o risco dos seus primos de França», assinalou.
Para Benite, nos anos 20 vive-se uma «época semelhante». Depois da I Guerra Mundial e da revolução russa, «havia uma grande utopia sobre as possibilidades de paz definitiva», por isso situando a acção nessa altura a obra torna-se «mais compreensível».
«Uma das coisas importantes que a peça nos pode dizer é que vivemos numa sociedade sem utopias», afirmou.
«Bem sei que não é realista pensar-se que é possível, através da clemência, conseguir grandes efeitos sociais, mas até esta afirmação deve ser feita com alguma contenção, porque no século XX tivemos o exemplo de Nelson Mandela, que, através do diálogo, da tolerância e justamente da clemência em relação aos antigos inimigos, conseguiu transformar um país», apontou.
Depois desta ópera, Joaquim Benite, que se estreou como encenador em 1971, confessou que lhe agradaria levar à cena uma outra obra de Mozart, «Don Giovanni», dado que já produziu a peça «Don Juan» de Molière.
«No teatro temos muito mais tempo para tratar de pormenores (às vezes estamos uma semana a trabalhar uma pequena cena), a produção da ópera é muito mais rápida», referiu o encenador, que começou os ensaios no São Carlos há três semanas.
A seguir, Joaquim Benite vai encenar uma peça de Shakespeare para o Festival de Mérida, «Timão de Atenas».
«Este ano é o ano da clemência. Estou a tratar da clemência de Tito e depois vou tratar da generosidade altruísta do Timão de Atenas», ironizou.
Fonte:Lusa