Luisao27
GF Ouro
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É possível que você tenha visto algum vídeo da ursinha polar recém-nascida Nora quando ela era criada na mamadeira pela equipe de veterinários do zoológico Columbus em Ohio (EUA), no fim do ano de 2015. Ela ficou famosa no mundo todo pela fofura, mas até agora, pouca gente sabia das terríveis dificuldades que ela e a equipe enfrentaram e ainda enfrentam.
Quem investigou e publicou todos os detalhes desta trajetória foi a jornalista do The Oregonian, Kate Williams, que contou a história de Nora em uma grande-reportagem dividida em cinco capítulos. Este trabalho, que poderia facilmente ser transformado em um livro-reportagem de ótima qualidade, vale a pena ser conferido pelos leitores que entendem inglês.
Tudo começou em meados de novembro de 2015, quando a mãe de Nora, Aurora, deu à luz dois filhotes muito comemorados pela equipe do zoológico Columbus. O macho nunca conseguiu mamar, e morreu apenas dois dias depois de nascer. Já a fêmea parecia ir bem até o sexto dia de vida, quando Aurora a abandonou e foi andar pelas outras áreas da jaula.
Isso imediatamente levantou bandeiras de alerta entre os cuidadores que estavam responsáveis por vigiar a mãe e a filhote 24 horas por dia com a ajuda de uma câmera. Na natureza, as mães não deixam seus filhotes sozinhos nem por um segundo nos primeiros meses, nem mesmo para se alimentar.
Eles apenas observaram durante a primeira hora. A filhote minúscula, ainda surda e cega, estava acomodada em um monte de feno na sala gelada. Na segunda hora, tentaram atrai-la de volta para a filhote com a ajuda de feno fresco, que normalmente chama a atenção da ursa. A filhote chorava alto, com frio e fome, chamando pela mãe. Na terceira hora, eles tentaram atraí-la com peixe, mas a equipe já parecia entender que Aurora havia abandonado a maternidade.
Na marca da quarta hora, algo tinha que ser feito, uma vez que o choro da filhote estava cada vez mais fraco e ela parecia estar em sofrimento. Ela foi então retirada da jaula, e a equipe estava com o coração pesado por saber que as chances de sobrevivência de Nora sem o leite da mãe eram muito pequenas.
Apenas quatro outros filhotes recém-nascidos haviam sido criados na mamadeira com sucesso na América do Norte. A principal dificuldade é imitar a composição do leite materno. A maioria dos filhotes não consegue absorver os nutrientes de outros tipos de leite e acaba morrendo de desnutrição. Outros têm má-formação óssea, e não conseguem crescer.
Desde a descoberta da gestação de Aurora, a equipe compôs um guia de 23 páginas sobre o que fazer em cada possível situação, e uma delas era a retirada prematura da filhote da companhia da mãe. Eles tinham uma grande incubadora e uma nutricionista veterinária, Dana Hatcher, que havia estudado artigos científicos sobre a amamentação de ursos polares. Depois da retirada do filhote, ela tinha apenas uma hora para criar o melhor leite possível para Nora, uma missão muito difícil.
Para sorte de Dana, um veterinário do zoológico de São Francisco tinha estudado a composição do leite do urso polar apenas alguns anos antes. Para conseguir o leite, cientistas da Noruega usaram helicópteros para lançar dardos com tranquilizantes em uma ursa mãe selvagem, e em seguida coletaram leite para analisar a composição.
Por isso, Dana tinha uma ideia do que o leite deveria conter. Ela começou com leite em pó para filhotes de gatos, que é pobre em gordura e que é uma boa base para adicionar a quantidade de gordura e nutrientes necessários para mamíferos de diferente espécies. Ela precisava adicionar taurina ao leite, um aminoácido importante para o sistema nervoso central, músculos e coração. Foi aí que surgiu o maior desafio: Nora precisava de muita gordura para crescer, mas de que tipo?
Enquanto o leite humano e da vaca tem apenas 3,5% de gordura, o dos ursos polares contém 33%. O guia de emergência de Nora recomendava o uso de óleo de arenque, disponível apenas no Canadá. Enquanto Dana lidava com a papelada da importação, ela decidiu usar óleo de cártamo.
Essa fórmula de leite de urso polar foi um sucesso, e Nora passou a crescer pouco a pouco todos os dias. Rapidamente, seu focinho e patinhas passaram da cor rosa para preto, seu pelo ralo quase transparente foi ficando mais branco e grosso.
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A equipe responsável por Nora se revezava em turnos longos, que chegaram a 28 horas. Justamente na época das festas de fim de ano, as veterinárias chamadas de “mães da Nora” mal podiam ir para casa. Um colchão de ar foi instalado na sala da incubadora para que elas pudessem estar pertinho de Nora.
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A equipe responsável por Nora se revezava em turnos longos, que chegaram a 28 horas. Justamente na época das festas de fim de ano, as veterinárias chamadas de “mães da Nora” mal podiam ir para casa. Um colchão de ar foi instalado na sala da incubadora para que elas pudessem estar pertinho de Nora.
Quando ela completou 30 dias de vida, suas chances de sobrevivência chegaram a 50%. Aos 34 dias, abriu os olhos pela primeira vez. Ao redor desta data, o óleo de arenque finalmente chegou do Canadá, e substituiu o óleo de cártamo na fórmula de Nora.
Isso foi terrível para Nora, porque seu crescimento diminuiu e suas fezes passaram a apresentar óleo. Aos 54 dias de vida, seus níveis de cálcio e vitamina D eram baixos, e um exame de raio-X mostrou que ela tinha um dos ossos do braço quebrado, além de má-formação no cotovelo.
A equipe veterinária retornou imediatamente ao óleo de cártamo, mas os estragos estavam feitos. Aos dois anos de vida, Nora sofre com dores no cotovelo, que não consegue sustentar seu pesado corpo. Ela precisa tomar medicação para dor e manca ligeiramente.
Aos 154 dias de vida, Nora finalmente recebeu alta do hospital e foi apresentada ao público do zoológico, que passou a visitar o parque em números altíssimos. Em cinco meses, 260 mil pessoas passaram pela fila para ver Nora.
Quando Nora tinha 10 meses de vida, porém, Aurora ficou prenhe novamente e o zoológico precisava do espaço de Nora para receber os novos filhotes. A associação de Zoológicos e Aquários dos Estados Unidos decidiu que seria melhor para ela ser transferida para o zoológico de Oregon, na cidade de Portland, onde ela poderia fazer companhia para uma ursa idosa de 31 anos chamada Tasul que havia acabado de perder o irmão.
A transferência foi traumática para Nora, que parecia não entender que era uma ursa polar, e não se deu nada bem com a ursa idosa do zoológico de Oregon. Ela passou a sofrer de ansiedade e queria apenas a companhia de humanos. Ela começou a receber doses de Alprazolam e depois Fluoxetina para ansiedade, e uma cuidadora notou que ela estava mancando por causa do problema ósseo.
Uma das cuidadoras de Nora passou a fazer “sessões zen” com a ursa para ensiná-la a ser paciente. Essas sessões consistiam em dar um peixe para ursa a cada cinco segundos, para que ela aprendesse a esperar pela próxima bocada.
Pouco tempo depois, Tasul teve que ser sacrificada porque estava com um câncer avançado, e Nora ficou novamente sozinha. A equipe do zoológico de Oregon decidiu reformar a jaula dos ursos polares, e em setembro de 2017 Nora foi transferida novamente para o Zoológico Hogle de Utah, onde se reuniu com Hope, uma ursa polar da mesma idade que também acaba de ser transferida.
A mãe de Hope é a avó materna de Nora, portanto ela é tia de Nora. Os cuidadores da dupla esperam que o contato das duas seja benéfico para Nora, já que Hope cresceu na presença de outros ursos e pode ensinar Nora a se comportar como tal. A idade de dois anos é ideal para a mudança, pois é com esta idade que os filhotes costumam se separar das mães.
Quanto aos problemas ósseos de Nora, suas consequências devem ser analisadas melhor daqui a dois anos, quando ela terminar de crescer. No pior caso, seu peso adulto poderia ser excessivo para suas juntas e causar tanta dor que ela poderia ter que ser sacrificada. O mais provável, porém, é que ela manque e sofra com desconfortos pelo resto da vida.
Confira o primeiro vídeo de Hope e Nora juntas em Utah:
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