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Acha que uma enxaqueca é o mesmo que uma dor de cabeça? Olhe que não poderia estar mais enganado. “É uma doença por si só, e não um sintoma de outra coisa”, esclarece ao Lifestyle ao Minuto Madalena Plácido, presidente da MiGRA Portugal, Associação Portuguesa de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias.
Em entrevista, revela o que as distingue de uma dor de cabeça, as formas de atuação e o que pode ser feito para minimizar os problemas. "Caso suspeite de que poderá ter enxaqueca, procure ajuda junto do seu médico de família. Não desvalorize os sintomas", continua.
Esta sexta-feira, a MiGRA leva uma ação especial até à estação de metro do Cais do Sodré. Poderá passar por lá entre as 8h00 e as 12h00 e entre as 16h00 e as 20h00. Através de uns óculos de realidade virtual, poderá vivenciar alguns dos sintomas de enxaqueca.

Madalena Plácido é presidente da MiGRA Portugal© MiGRA
Enxaqueca é o mesmo que uma dor de cabeça? Quais as principais diferenças?
Enxaqueca não é o mesmo que dor de cabeça. Quando nos referimos a uma dor de cabeça, falamos de todos os tipos de cefaleias que existem, e são mais de 200. A enxaqueca é um dos tipos de dor de cabeça, uma cefaleia primária, o que significa que é uma doença por si só, e não um sintoma de outra coisa. Assim, a dor de cabeça é apenas um dos muitos sintomas da enxaqueca. Outros sintomas possíveis são náuseas, vómitos, sensibilidade à luz, som, odor, aura, alterações de humor ou cognitivas, entre outros.
Como reconhecer que está com uma enxaqueca?
Os principais sinais e sintomas que nos devem deixar alerta, quando associados à dor de cabeça intensa, são náuseas e vómitos e sensibilidade à luz, som e odores - poderemos estar perante um caso de enxaqueca. A dor de cabeça da enxaqueca é uma dor moderada a intensa, geralmente só de um lado da cabeça (também pode ser dos dois lados) e é uma dor latejante/pulsátil. A dor piora com a atividade física. Caso suspeite de que poderá ter enxaqueca, procure ajuda junto do seu médico de família - não desvalorize os sintomas!
Posso ter crises de enxaqueca e até ser algo crónico?
Sim, a enxaqueca pode ser episódica, se o número de dias de crise for inferior a 15 por mês, ou crónica, se o número de dias de crise for superior a 15 por mês. Muitas pessoas têm apenas algumas crises durante o ano, outras pessoas conseguem identificar que as suas crises são despoletadas por determinados fatores (quando, por exemplo, ocorrem antes/durante a menstruação) e, nalguns casos mais complicados, o número de dias de crise por mês é muito elevado, tendo a doença um enorme impacto na qualidade de vida. Uma pessoa que tenha enxaqueca episódica, se não tiver o devido tratamento e cuidados, poderá mais tarde ter enxaqueca crónica, com crises mais frequentes e intensas. Quem vive com enxaqueca, ao longo da sua vida, pode ter períodos em que se encontra melhor e outros períodos em que a doença se agravou.
Há formas de prevenir uma enxaqueca?
O surgimento da enxaqueca deve-se a vários fatores, sobretudo genéticos. É muito comum a enxaqueca ser “uma doença de família” e manifestar-se em várias gerações. Quando falamos de prevenção, falamos sim de prevenir as crises, de forma a que sejam menos frequentes e intensas. Nesse sentido, há várias coisas que podemos fazer, começando por identificar fatores que podem desencadear as crises e procurar evitá-los, quando for possível. Uma boa higiene do sono, manter uma alimentação equilibrada, não saltar refeições, evitar alimentos que possam ser “gatilhos”, praticar exercício físico moderado e regular, recorrer a terapêutica preventiva (quando for o indicado para o caso, sempre com aconselhamento médico) são algumas das estratégias.
Como atenuar uma crise de enxaqueca ou uma que seja muito forte?
Quando a pessoa está com crise de enxaqueca, o mais importante é tomar a medicação SOS o mais cedo possível: para evitar que a crise progrida, se torne mais intensa e dure mais tempo. A par com o tratamento farmacológico, existem várias medidas que poderão ajudar durante uma crise: procurar um ambiente calmo, silencioso e com pouca luz, onde se possa deitar e dormir um pouco; colocar uma compressa fria na testa ou na nuca; beber bastante água; técnicas de relaxamento, entre outras.
Existe algum tipo de cura?
A enxaqueca não tem cura, mas tem tratamento. Ao longo da vida, a doença pode ter períodos mais críticos mas também ter algumas alturas de melhoria. O tratamento mais adequado para a enxaqueca varia de pessoa para pessoa, sendo o acompanhamento médico essencial para identificar qual o tratamento farmacológico mais adequado para cada caso. O tratamento farmacológico divide-se em tratamento agudo, utilizado em SOS para aliviar os sintomas, sempre que a pessoa tem uma crise de enxaqueca, e em tratamento preventivo, utilizado para prevenir as crises, de modo a que sejam menos intensas e frequentes. Existem também outras estratégias não farmacológicas que podem complementar a ação dos medicamentos, em SOS e de prevenção.Tomar a medicação SOS e descansar é fundamental para evitar que a crise se instaleSó afeta adultos ou também pode acontecer em crianças e jovens?
A enxaqueca afeta adultos e a população mais jovem de igual forma. No entanto, as cefaleias são pouco valorizadas na idade pediátrica, o que resulta num diagnóstico e início de tratamento tardios. Os sintomas da enxaqueca nas crianças e jovens são muito semelhantes aos dos adultos.
Dormir ajuda a aliviar a enxaqueca?
Dormir num local escuro e calmo pode ser uma estratégia que ajuda muito, sobretudo quando a pessoa está com uma crise. Tomar a medicação SOS e descansar é fundamental para evitar que a crise se instale e dure mais tempo. Também numa ótica de prevenção o sono é importante - ter hábitos de sono e manter as rotinas é muito importante para prevenir o surgimento de mais crises de enxaqueca.
A enxaqueca pode durar mais do que um dia?
Sim, a crise de enxaqueca dura entre 4 a 72 horas. Os sintomas vão variando ao longo do tempo - de acordo com as diferentes fases da enxaqueca. Primeiro, a pessoa começa a sentir alterações de humor, dificuldades de concentração, bocejos, desejo específico por certos alimentos (doces, café, salgados…), sensibilidade à luz, sons e cheiros, fadiga e dor/rigidez na zona do pescoço. A esta primeira fase chamamos de pródromo. Em seguida, vem a aura - fase que apenas 25% das pessoas com enxaqueca têm. Caracteriza-se por alterações na visão (como pontos brilhantes ou visão embaciada), formigueiro e dormência dos membros e dificuldades para falar. Depois surge a dor de cabeça, a fase da cefaleia, uma dor forte, latejante, que pode ser acompanhada de náuseas, vómitos, sensibilidade à luz, som e odores. Por fim, quando a dor passa, surge o pósdromo. Nesta fase da enxaqueca, a pessoa sente-se como estivesse “de ressaca” da crise: cansada, com dificuldades de concentração e muitas vezes com o corpo dorido.
Beber muito café à enxaqueca?
A relação entre o consumo de café e a enxaqueca é complexa - nalguns casos a cafeína pode ajudar e noutros piorar a situação. Em pequenas doses, a cafeína pode aliviar uma crise, por isso faz parte da composição de alguns analgésicos e anti-inflamatórios utilizados em SOS. Por outro lado, quando o consumo é excessivo e muito frequente, a pessoa torna-se “dependente” - se deixar de beber café, pode levar ao aparecimento de uma crise, funcionando como um gatilho. A cafeína pode ser uma aliada na enxaqueca, mas se o seu consumo for controlado.
A enxaqueca pode ter algo a ver com a saúde mental?
Muitas vezes, a enxaqueca anda lado a lado com o stress e a ansiedade. É muitas vezes confundida (erradamente) com uma doença mental, mas é na verdade uma doença neurológica. O stress é um dos fatores desencadeantes mais identificados pelas pessoas que vivem com enxaqueca. Por outro lado, as pessoas que vivem com esta doença neurológica muitas vezes apresentam níveis elevados de stress - é um ciclo. A imprevisibilidade e a frequência das crises de enxaqueca limitam a participação em atividades e eventos importantes para a pessoa, o que pode ter impacto nas relações sociais, no desenvolvimento profissional, diminuindo também a sua qualidade de vida e consequentemente a sua saúde mental.
Assim que começa uma enxaqueca, qual é a primeira coisa a fazer?
Existem algumas estratégias que podem ajudar a gerir uma crise de enxaqueca, assim que ela se instala, e aliviar a dor e outros sintomas, como por exemplo, dormir um pouco, num local calmo e escuro; aplicar frio na zona das têmporas; massajar e tomar banho de água quente para promover o relaxamento; evitar os fatores que agravam a crise; praticar exercícios de relaxamento e meditação; bem como tomar a medicação SOS.
Quando é que é motivo para ir ao médico?
Deve procurar ajuda médica se as dores de cabeça interferem com as atividades diárias (trabalho, escola, tarefas domésticas), se tiver sensibilidade à luz (fotofobia) ou ao som (fonofobia), se verificar um aumento da frequência, intensidade ou duração das crises, se sentir necessidade de tomar medicamentos com frequência ou os analgésicos/anti-inflamatórios perderem efeito, bem como se tiverem surgido novos sintomas associados à dor de cabeça, por exemplo, alterações visuais, dormência, formigueiro, fraqueza muscular, confusão ou dificuldades na fala.
E a que especialidade deve ir?
A maioria das pessoas com enxaqueca deve ser acompanhada por um médico de medicina geral e familiar. Apenas os casos mais graves e mais difíceis de tratar requerem acompanhamento por um neurologista especialista em cefaleias. Se identificar algum dos sintomas da enxaqueca, deve procurar ajuda junto do seu médico de família.
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