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Fim dos óculos? - Invenção científica utiliza o colírio com nano partículas para corrigir a miopia

Imagem: katzac/Flickr
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 30% da população mundial sofra com a miopia e a expectativa é que esse número aumente de forma significativa nos próximos anos.
Alguns estudos apontam, que metade da população mundial pode sofrer com o problema até 2050 e o crescimento da condição está diretamente relacionada com a quantidade de tempo que passamos em frente aos ecrãs de telemóveis e computadores.
Como sou uma pessoa que sofre de miopia, posso afirmar, que usar óculos é terrível em muitas situações.
É difícil jogar futebol com eles, não posso nem pensar em assistir a um filme deitado, o cinema 3D não é nada confortável (óculos sobre óculos!) e já quase perdi um show porque estava chovendo e só tinha duas opções:
Ou ver tudo embaçado com gotinhas nas lentes ou ver uns borrões. Tive sorte, pois a chuva parou.
É real que existem lentes de contacto, mas elas também têm suas desvantagens.
Outra opção é a cirurgia para a correção da miopia (também conhecida como cirurgia refractiva ocular), mas a realidade é que ela também tem os seus contras (assim como qualquer outro procedimento cirúrgico).
Há relatos de quem precisou passar pelo procedimento mais de uma vez ou que sofreu complicações como olho seco, por exemplo.
Mas o futuro pode ser mais nítido daqui alguns anos.
Pesquisadores da Universidade de Bar-Ilan, em Tel-Aviv, Israel, estão desenvolvendo um método de correção de problemas de visão que irá resolver as três opções que comentei anteriormente.
A ideia deles consiste num rápido procedimento de correção refractiva via laser, seguida pela utilização de um colírio com nano partículas, que irá fixar a modificação da córnea.
Este procedimento poderá ser realizado para várias condições para além da miopia, incluindo hipermetropia e astigmatismo, por exemplo.
O grande responsável por este avanço é o professor Zeev Zalevsky, físico especialista em opto electrónica e um dos idealizadores deste projecto.
Ele explica que a invenção possui três partes distintas:
- Um software personalizado, onde o paciente colocaria a sua receita médica com informações do problema de visão;
- Um pequeno projector de laser, que faria a leitura dessas informações e aplicaria a correção no olho do paciente;
- Por fim, um colírio com nano partículas especiais que irá fixar o procedimento durante algum tempo.

Da esquerda para a direita: Dr. David Smadja, Prof. Zeev Zalevsky e Prof. Jean-Paul Moshe Lellouche, investigadores responsáveis pelo projecto.
Imagem: Universidade de Bar-Ilan
Zalevsky diz que uma cirurgia tradicional remove muitas camadas da córnea e, assim, ela fica mais plana para que as luzes se formem exatamente sobre a retina.
O novo método, por sua vez, faz a mesma coisa, porém apenas na camada mais externa da córnea, chamada de epitélio.
“Quando se faz uma cirurgia de correção a laser, ela nem sempre funciona, porque precisa mudar a curvatura da lente do seu olho e remover dezenas de camadas da superfície da córnea.
O que fazemos, por outro lado, é apenas arranhar o epitélio da córnea, que tem alta capacidade de regeneração.
É como a nossa pele, você coça, a camada mais externa vai embora, mas depois regenera”, explica o professor.
“A gente não muda a curvatura das lentes dos olhos, são os arranhões que mudam a forma com que a luz passa pelos olhos e assim conseguimos alterar a forma como a luz reflete”.
A aplicação desse laser no olho seria feita a partir de um pico projector portátil, interligado a um smartphone ou computador, por exemplo.
Os investigadores explicam, que este tipo de produto até existe no mercado, mas não para essa finalidade.
Uma vez que o projector obtivesse as informações do aplicativo, o paciente posicionar-se-ia na frente dele e, em menos de um segundo, um laser faria a correção na córnea.
Zalevsky garante que não existem riscos, já que o procedimento dura um instante e, além disso, o corte é muito superficial e numa região, que se regenera com muita facilidade (o epitélio é capaz de se recuperar num dia).
Se o corte é tão superficial e essa camada se regera, como é a que a vista é corrigida?
É aí que entra o colírio com nano partículas.
Esse colírio especial penetra nos “arranhões” feitos pelo projector de laser no olho do paciente e gera mudanças no índice de refração, mudando a forma com que a luz passa pela córnea.
“Se não fossem as nano partículas, as ranhuras feitas pelo laser iriam desaparecer após alguns dias.
Além disso todos nós temos lágrimas, e sem as nano partículas o efeito do laser poderia não ser estável.
Porém, elas são responsáveis por penetrar nas ranhuras e mantê-las ali, oferecendo uma performance estável, quando a luz passar pelos olhos, corrigindo a visão”, diz Zalevsky.

Esta imagem mostra as nano partículas a partir de um microscópio electrónico numa incisão na córnea.
Elas são as pequenas esferas hiper-reflectidas com diâmetros de 40 a 90 nanómetros.
Imagem: Universidade de Bar-Ilan
O professor Jean-Paul Moshe Lellouche, do departamento de química e nano materiais e responsável pela fabricação deste material, conta que tem alcançado bons resultados no aumento do índice de refração com as suas invenções. “Esta nanotecnologia é projetada para funcionar especificamente para o padrão da retina humana.
É extremamente forte para aumentar o índice de refração, a partir de materiais que preparamos aqui no laboratório”.
As expectativas são altas e o estudo ainda está num estágio inicial.
Até agora, foram feitas unicamente experiências “ex vivo”, ou seja, fora de um organismo vivo.
Os cientistas prepararam todo o sistema e realizaram o procedimento utilizando o olho de porco, que possui estruturas muito similares aos olhos humanos.
Os resultados são promissores e, de acordo com os investigadores, a expectativa inicial é que o procedimento dure um mês.
Esse número pode mudar, quando os testes em humanos forem realizados.
Além disso, Lellouche diz que o avanço da nanotecnologia pode permitir resultados ainda melhores e mais duradouros:
“Quando fizermos estudos com humanos, poderemos comprovar que as nano partículas serão mais estáveis e irão durar por muito mais tempo”.

A imagem mostra a gota do colírio com nano partículas sendo colocada na córnea do olho do porco, durante a experiência
Imagem: Universidade de Bar-Ilan
Eles garantem que, apesar das experiências terem sido feitas fora de organismos vivos, não há nenhuma chance do colírio danificar os olhos.
“Nós vamos testar isso com certeza nas experiências in vivo e na estabilidade, mas de acordo com os métodos científicos utilizados, é impossível danificar alguém, causar defeitos ou qualquer coisa do tipo.
Desde o início que nós pensámos em nano partículas biocompatíveis, e não tóxicas.
Não vai doer”, finalizou Lellouche.
Uma das minhas preocupações ao descobrir esta invenção, foi o custo deste procedimento.
Os investigadores ainda estão longe de estimarem um preço do kit que incluirá o aplicativo, o laser e o colírio, mas afirmam, que com uma produção em escala industrial, será possível chegar a uma solução viável para o mercado.
“A metodologia de preparação dos nano materiais é extremamente simples e pode ter uma escala de produção fácil, sem problemas industriais.
Ainda não pode ser muito barato, porque os materiais que utilizamos no início do processo de fabricação são bem caros, mas acho que com a criação da empresa e com o desenvolvimento industrial, podemos fazer avanços e acordos com as fornecedoras dos materiais”, afirma Lellouche.
O próximo passo do estudo é realizar experiências in vivo, também com olhos de porcos.
Os cientistas ainda estão aprimorando o projetor a laser e querem chegar a uma performance maior na córnea.
Na próxima fase de testes, o método será submetido à publicação em revistas e por pares científicos.
Depois disso, a expectativa é iniciar testes clínicos em humanos e passar por toda a fase reguladora, que inclui aprovação da FDA (Food and Drug Administration, órgão americano equivalente à Anvisa) e da EMA (European Medicines Agency).
Ainda faltam alguns anos até que este futuro fique mais claro para os míopes, especialmente porque um dos desafios dos investigadores é o financiamento do projeto.
Neste momento, eles estão procurando apoios, entre eles empresas que possam financiar parte da pesquisa.
Uma vez que exista um financiamento suficiente para a evolução do projecto, os cientistas afirmam que dentro de um ou dois anos conseguem ter um produto finalizado.