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HistÓria E Vida Do Sporting Clube De Portugal

nuno29

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História e Vida do Sporting Clube de Portugal

O Jornal Sporting
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A “História e Vida do Sporting Clube de Portugal” que temos vindo a dar a conhecer neste Site, é uma homenagem que prestamos ao grande clube português que o nosso coração elegeu para lhe dar a sua simpatia e o seu amor clubista!

É um documento notável que contém informação detalhada sobre os momentos mais importantes da vida do Sporting, com nomes, depoimentos, factos, documentos e datas históricas, alguns apenas guardados na memória ou nos arquivos pessoais de grandes sportinguistas já desaparecidos. A lei da vida é esta. Mas se as pessoas desaparecem do nosso convívio, a memória das suas ideias e dos seus sonhos deve ser preservada. Preservar esta memória é preservar o próprio Sporting que fundaram e ajudaram a crescer.

É particularmente interessante conhecer certos pormenores neste momento especial em que comemoramos 100 anos de vida após a fundação de um clube cuja grandeza é reconhecida nos quatro cantos do mundo, cumprindo o sonho dos fundadores. É importante agora que sejamos capazes de lhe dar continuidade, para legarmos a outros, com maior grandeza ainda, o clube que nasceu para ser grande:

o Sporting Clube de Portugal!

Dissemos, aquando da apresentação desta iniciativa de dar a conhecer a história mais antiga do Sporting que “quem não conhece a sua história é como se não existisse”. Hoje, num momento particularmente importante da vida do Clube, acrescentamos que o conhecimento da história é um guia importante para o futuro.

Nas decisões importantes que o Sporting tem de tomar a curto prazo e na construção do seu futuro, os princípios filosóficos do clube não podem ser esquecidos.

O ecletismo leonino, o sonho de grandeza do clube e, até, o Jornal do Sporting, são questões que, recentemente, têm sido abordadas quanto ao que fazer no futuro ou do futuro.
Sobre elas temos expressado a nossa opinião sem sectarismos que seriam prejudiciais, porque entendemos que a hora é de convergências e não de divisões.

A nossa posição sobre o Jornal do Sporting é clara: é um órgão importante do Clube e deve ser preservado. A sua história que daremos a conhecer em pormenor muito brevemente, mostra como a sua vida não foi fácil mas, também, como a preserverança de muitos o fizeram chegar até hoje.
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Reinaldo dos Santos
Alterações, correcções, novas iniciativas, foram-lhe dando a forma e a vida. Tal como o próprio clube de que é órgão de informação, o Jornal do Sporting necessitará, de novo talvez, de ser repensado. Não nos parece difícil encontrar ideias que lhe dêem uma nova vida e o tornem mais atractivo.
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O ecletismo
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Esforço e dedicação fazem o Jornal

Cremos que, neste momento já avançado da comemoração do nosso Centenário, se perdeu a melhor oportunidade de dar ao Jornal nova forma e nova vida. Mas… mais vale tarde do que nunca!

O passado é sempre fonte de inspiração. Por isso, chamamos a atenção para a publicação próxima da história do nosso Jornal, desde a sua origem no Boletim.
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Júlio Araújo
“Aconteceu que numa noite do começo de 1922 e no Café Martinho, José Serrano e Alberto Burnay Mendes Leal trocavam impressões sobre a intenção de se editar um jornal do clube, quando surgiu Júlio de Araújo opinando que …”
 

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ReflexÕes

Uma breve reflexão

Rui de Carvalho
Lisboa, 3 de Outubro de 2005

Depois de tantos anos, reler a História e Vida do Sporting Clube de Portugal, agora de um modo mais minucioso para preparação do trabalho de divulgação que estamos a fazer, provocou em mim uma sensação de profunda intranquilidade. Levou-me a pensar em tanta coisa que mudou, mostrou-me como o espírito sportinguista que caracteriza um clube com uma filosofia muito própria e única, magistralmente revelada naquela obra, anda arredio de alguns entendimentos do que deve continuar a ser o nosso Sporting: um clube com ideais.

A mística sportinguista, moldada nos princípios definidos pelos fundadores e pelos renovadores, parece estar a perder-se num redemoinho de confusões que, por vezes, dá a ideia de uma clivagem entre o Clube e os que o devotadamente o apoiam sendo, por isso, a sua razão de ser e cuja única recompensa é a de o saberem grande e digno.

Sei bem como o desporto gera paixões, como as paixões exaltam os ânimos e como das decisões apaixonadas não resultam, por via de regra, boas soluções. Mas sei, também, que não é com intransigências que se alcança o sucesso. Este resulta mais de uma gestão que não pode ignorar a paixão desportiva, a esperança que acalenta e as ambições que desperta. O diálogo e o esclarecimento a que sempre dá lugar, são o modo de fundir numa só a vontade de ir mais além, de ser grande e de ser vencedor mesmo quando o resultado não é o que mais se deseja.

Tal como no velho ditado “quem vai ao mar prepara-se em terra”, a gestão de um clube desportivo, como qualquer gestão, deve considerar todos os factores e meios dos quais dependem os êxitos, com antecipação e clarividência, incluindo as expectativas criadas no espírito dos que, apaixonadamente, as acolheram. E também aqui “mais vale prevenir do que remediar”.

A paixão é um factor indissociável do fenómeno desportivo e, por ser assim, um factor com o qual os gestores desportivos devem saber lidar em vez de a ignorarem ou menosprezarem.

Parece-me, por isso, importante e oportuna a leitura da obra que tão bem define os ideais que moldaram a alma sportinguista na sua época de ouro em que tantos dirigentes e campeões ligaram, para sempre, o seu nome ao nome do nosso Clube. Foram desportistas de corpo e de alma que nunca hipotecaram a outros propósitos e, por isso, ainda hoje preservam a grandeza que demonstraram nas lutas travadas em nome do clube do seu coração. O sportinguismo de muitos deles nasceu já dentro do Sporting. E o Sporting soube, então, acarinhá-lo e, por isso, o mantiveram.

Por todos nós, em sua homenagem e pelo nosso Sporting, vamos reencontra-nos com o espírito dos fundadores e dos campeões e, deste modo, afirmar-lhes a determinação de sermos seus seguidores incondicionais no lema de sempre: esforço, dedicação, devoção e glória!
 

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Introdução

História e vida do Sporting Clube de Portugal

Quando se comemora o Centenário do Sporting Clube de Portugal, há, no mínimo, que lembrar e honrar aqueles que, ao longo do tempo, pelas suas iniciativas e pelas suas obras o tornaram possível com o brilho e a dimensão que pode ter: os fundadores e os seus continuadores, os dirigentes, os atletas, os funcionários e, também, os sócios e simpatizantes sem os quais nada faria sentido.

O Sporting é um clube de grandes nomes bem conhecidos de todos, o primeiro dos quais José Alvalade cuja memória se perpetua no magnífico estádio que se conta entre os melhores do mundo. Mas também é um clube de gente menos conhecida mas igualmente importante no historial do nosso clube e, por isso, não menos merecedora de ser lembrada e homenageada.



Sem a memória dos 100 anos que agora se completam, o Sporting seria um clube sem vida porque sem história. Por isso me apraz lembrar e homenagear o meu Avô Eduardo Pinheiro de Azevedo que, de um modo notável, contribuiu para levar ao conhecimento de todos a história mais remota do SCP a obra que hoje começamos a divulgar: a “História e Vida do Sporting Clube de Portugal”.
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Antes de morrer fez-me entrega da sua obra para que dela fizesse o que entendesse em prol do “nosso” Sporting. É o que faço nesta oportunidade.

Trata-se de uma obra notável que dá a conhecer a vida do nosso grande clube até à década de 60, por isso a parte menos conhecida ou mesmo desconhecida da maioria dos actuais sportinguista e do grande público.

Creio prestar a melhor homenagem ao Sporting Clube de Portugal e ao meu Avô Eduardo, apresentando essa obra que, por razões que não entendo, não teve a divulgação que merecia pelo esforço, pela devoção e pela dedicação com que a criou.

Bruno Carvalho

Durante o ano do Centenário, vamos publicando, todos os meses, os Capítulos desta magnifica obra:

PLANO DA OBRA

Volume I

História

1. Exegese do Sportinguismo
2. Conservadores e Renovadores
3. Determinismo e Regularidade
4. Dinâmica Orgânica e Directiva
5. Força e Grandeza do ecletismo
6. Teoria dos Atletas-Símbolos
7. Recordistas e campeões
8. Diagrama dos troféus
9. Dimensão Inernacional
10. Expansionismo

Volume II

Vida

11. Pré-História e Fundação
12. Campos Atléticos e Sedes Sociais
13. Bandeira, Emblemas, Distintivos e Equipamentos
14. Leis Fundamentais
15. Órgãos Supradirectivos
16. Grandes Presidentes e Órgãos Directivos
17. Ógãos Consultivos
18. Do Boletim ao Jornal
19. Fundadores e Sócios Antigos
20. Grandes Iniciativas e Dedicações

Volume III

21. Quadro de Honra
22. Modalidades Desportivas
23. Competições Nacionais
24. Benfica
25. Competições Internacionais
26. Ídolos de Ontem e de Hoje
27. Grandeza Social
28. Papel da Mulher
29. Imprensa, Rádio e Televisão
30. Estádio José Alvalade
 

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Capitulo I

DEDICATÓRIA:

À MEM6RIA DOS FUNDADORES DO SPORTING CLUB DE PORTUGAL:

JOSÉ ALVALADE
JOSÉ GAVAZZO
VISCONDE DE ALVALADE
FERNANDO BARBOSA
JOSÉ STROMP
FRANCISCO STROMP
ANT6NIO STROMP
EDUARDO MENDONÇA
BARJONA DE FREITAS
JOSÉ ROQUETTE
DR. SERRÃO DE MOURA GERALDES BARBA
HENRIQUE LEITE
AFONSO BOTELHO FREDERICO FERREIRA
JOSÉ BORGES DE CASTRO J. SCARLETT
CARLOS SEGURO FRANCISCO GAVAZZO

HOMENAGEM:

Presidente da Comissão Directiva
DR. GUILHERME BRAGA BRÁS MEDEIROS
V ice-Presidente para as Relações Externas
DR. ANTóNIO PEREIRA DA SILVA
V ice-Presidente para as Actividades Administrativas
LúCIO DA SILVA
V ice-Presidente para o Fomento Financeiro ANTóNIO PINTO DE SOUSA
V ice-Presidente para a Expansão Leonina e Relações com Sócios
JORGE PLANAS ALMASQUÉ
V ice-Presidente para as Relações com os Organismos Desportivos
DR. EDUARDO DE OLIVEIRA MARTINS
Vice-Presidente para as Actividades Despúrtivas Profissionais
FERNANDO RAMOS
Vice-Presidente para as Actividades Desportivas Profissionais
COR. JOSÉ CARVALHOSA
Vice-Presidente para as Actividades Desportivas Amadoras
ENG.o JOÃO REBELO MARQUES DE ALMEIDA
Vice-Presidente para as Actividades Desportivas Amadoras
ENG.o MANUEL BARRETO
V ice-Presidente Secretário-Geral
ROMEU DA SILVA BRANCO
Vice-Presidente Director do Jornal do Sporting
DR. HORÁCIO DA GAMA TA VARES
Coordenador por parte da Comissão Directiva:
JORGE PLANAS ALMASQUÉ
Direcção e realização artística:
JÚLIO GIL
Colaboração especial:
DR. JOSÉ SALAZAR CARREIRA
JÚLIO BARREIROS CARDOSO ARAÚJO
FRANCISCO GA V AZZO JORGE LEITÃO
Comissão Acessora para a materialização desta obra:
JORGE GOMES VIEIRA
CARLOS QUEIROGA TAVARES
CARLOS CORREIA
DR. JOSÉ MANUEL SALEMA

HISTORIA

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EXEGESE DO SPORTINGUISMO

Capitulo 1 - 6

Símbolo do mundo leonino, energia que dura e se consome na luta dos estádios, a gloriosa Bandeira do Sporting Club de Portugal é uma força que perdura orgu­lhosamente condecorada com altas distin­ções pelos Chefes do Estado Português; é uma expressão viva do esforço, dedicação, devoção e grandeza dos seus dirigentes, dos seus técnicos, dos seus atletas, e, ainda, dos seus milhares de sócios e de adeptos.

Nas três primeiras décadas da vida do Sporting, floresceu no âmbito da actividade realizada, uma cultura desportiva com rasgos que lhe deram a dimensão pluricontinental que tem hoje. O seu horizonte geográfico ampliou-se para além das costas portuguesas do Atlântico e do Índico. A tenacidade e a determinação dos seus dirigen­tes trouxe para o seu destino a força motriz das grandes realizações; junto de inesquecíveis glórias que representam a natureza dos seus princípios, vão adquirindo significação as gerações de atletas que perpetuam a raça dos triunfadores.

Acham-se na ordem do dia, lutas esforçadas que recordam conquistas de um formidável instrumento de progresso nacional; fortes personalidades erigem-se em apóstolos e a solidariedade aglutina vontades e dedicações numa obra admirável. E de uma maneira geral, surgem potentes individualidades em todos os domínios do seu eclectismo desportivo. A utilização do estádio monu­mental na valorização dos seus atletas, teve para o Sportinguismo uma importância análoga à que, ao ser fundado o clube, havia de ter a courela do avô de José Alvalade, em que foi talhado o primeiro campo de jogos.

Assim como toda a cultura desportiva procede de um primitivo estado moral, assim também a nascente reflexão do Sportinguismo havia de desprender-se da interpretação e concepção aristocrato-mítica da natureza dos seus fundadores. Vemos que todos os homens que formam o primeiro núcleo do clube, interpretaram os fenómenos mais dignificantes do desporto como acções de seres moral e educacional­mente válidos.

Para merecer os favores da aprovação como seres eleitos ou fugir às iras da reprovocação como seres caídos, deram-se à força do exemplo, às acções nobres e aos sacrifícios. E no solo clubista ger­minaram como símbolos todos aqueles de onde partiram efeitos úteis para o mundo Sportinguista em constante evolução. E esses eleitos produziram fenómenos de natureza sublimada que são interpretados numa grande quantidade de figuras lendárias.

Porém, ainda se descobrem por todas as partes da vida do clube outras fontes de representação. As imaginações dos sonhos desportivos aparecem como actos de natureza especial, morais; com a virtude da renúncia e do sacrifício na disciplina da preparação e da competição. Um desses actos é também o amor, misteriosamente profundo, que penetra na alma dos sócios e dos adeptos.

A aparição de sonhos trans­formados em realidade é uma prova de que a sua alma é um Olimpo povoado de mitos do Sportinguismo. A dependência e a gratidão a essa mitologia, assim como o amor por esses seres exemplares haviam de produzir igualmente multidão de acções gloriosas. De igual modo, a representação da existência de tais figuras havia de impulsionar a grandeza dos empreendimentos clubistas.

Não só uma consciente reali­dade poetizadora animou o corpo e a alma do Sporting, como os venerados êxitos do seu eclectismo desportivo se consideram cada vez mais firmemente como resultados visíveis do espírito de unidade que reina no seu mundo. Um produto relativamente precoce da evolução das primitivas pugnas desportivas é o consulado dos ídolos, no qual se manifesta a força clubista da massa associativa.

É certo não se pode­rem equiparar os ídolos de ontem, tal como os há figurado o génio dos pioneiros, com os ídolos da devota crença e culto populares de hoje; predominavam, com efeito, no amor desportivo de então a coragem e o desinteresse, mais intensamente que nos orgulhosos heróis divinizados nos cantos do desporto actual. Um sentido completamente diferente, mais material do que ideal, insinuou-se nos feitos do des­porto mercenário.

O dinheiro, quer dizer, o estímulo do empenho do mercenário contém ao mesmo tempo o gérmen da sua negação como atleta, mostra como aquele objectivo criador de incidências materiais, intenta responder à questão de saber de onde vem a felicidade e, portanto, subministra um pensamento materialista da natureza que, segundo a concepção dominante, rege os homens e os ídolos e oculta uma vaga suspeita da desvirtualização do desporto como ideal, ou seja como fim da realização física da juventude. Também pode des­cobrir-se uma expressão desta suspeita em certa tendência da indus­trialização do desporto que abre caminho à exploração dos atletas como máquinas humanas de bater recordes ou vencer campeonatos, segundo a qual cada um dos ídolos particulares se acha subordinado, cada vez mais fortemente, à vontade despótica do dinheiro.

Para o desenvolvimento do ideal desportivo do Sporting foi deci­sivo o facto de não existir entre os pioneiros um sacerdócio organizado de materialidade. Não faltaram, certamente, bosquejos de algo disse­melhante. Remontam ao princípio deste século, os primeiros escritos em que se transmite uma espécie de código moral como revelação dos fundadores. Neles se acham desenvolvidos os princípios acerca do nascimento da ética Sportinguista, tal como se apresentam em José Alvalade e outros fundadores. Essa linhagem de actos alcançou entre as sucessivas gerações de Sportinguistas, a importância que possuía um brasão de armas na Idade Média. E assim não precisou o Sporting de quebrar os grilhões dos dogmas desportivos. A revolução espiritual originada pela filosofia dos dirigentes dos anos vinte, trinta e quarenta repercutiu nas camadas mais profundas da vida do clube e teve uma forte influência no desenvolvimento ulterior das representações da sua grandeza.

Foi também necessário para uma evolução livre, isto é, só condi­cionada por motivos objectivos, da ética Sportinguista o que os seus porta-vozes encontraram de essencial em homens que, dotados de um poderoso anseio de verdade, se entregavam inteiros à construção da obra clubista; homens que viviam para o Sporting e não do Sporting. Chamamos-lhes, e com justiça, construtores do Sportinguismo; isto é, amantes do esforço e evolução, dedicação e glória: linhas de contorno que definem e caracterizam o Sporting Clube de Portugal. Não eram funcionários e técnicos colocados pelo Estado, forçados a opinar de cátedra. Sem casos de excepção, a política não turvou nem impediu a livre evolução do Sportinguismo.

A actividade do Sporting em que cada um intente por reflexão própria, formar uma concepção do seu mundo e da sua vida, cuja validade possa justificar, e não seja credulamente aceite como evidente por uma espécie de intuição tradicional. E é sempre instru­tivo ver como nela se apresentam com grandiosa simplicidade e sucessão lógica, e encontram a mais profunda resposta, as questões mais graves que surgem ante a meditação dos, responsáveis.

O primeiro problema em torno do qual se moveu a actividade Sportinguista foi a questão da substância selectiva, que se acha na base da natureza evoluída do sócio e que se conserva a mesma no mudar dos tempos e dos acontecimentos. Foi pensada como um ser que é verdadeiramente moral, como fundamento do próprio tempo, da sua evolução. Pois admitiu-se instintivamente que do nada ou pouco educacional ou moral, nada ou pouco podia nascer de bom para o clube. Manifestava-se aliás no princípio de admissão de tal substância selectiva, a necessidade da unidade do comportamento, que ainda hoje constitui a raiz da concepção do ideal clubista: quer dizer, aquela concepção que intenta derivar toda a realidade da sua exis­tência desportiva e social de um princípio único de coesão moral.

Cabouqueiros foram aqueles que saíram do Campo Grande Foot-ball Club e fundaram o Sporting Club de Portugal em 1 de Julho de 1906, como José Alvalade, José Gavazzo, Fernando Barbosa, José Stromp, Francisco e António Stromp, Eduardo Mendonça, Bar­jona Freitas, José Roquette, Dr. Serrão de Moura, Geraldes Barba, Henrique Leite, Afonso Botelho, Frederico Ferreira, Borges de Castro, João Scarlett. Todos manifestavam a mesma convicção desportiva e a mesma compreensão das vantagens físicas e morais do desporto ao ar livre. O mais .influente dos dissidentes, José Holtreman Roquette (Alvalade) encontrou na prodigalidade do avô (Visconde de Alvalade) o dinheiro para fundar o novo clube. Afinal, o Sporting fundava-se no facto de que a alimentação do corpo e do espírito é movimento, que a saúde procede do desporto, e o desporto é também o sémen do equilíbrio social. Imaginava-se que o Sporting é uma bandeira flutuante aos ventos da fama, por cujos movimentos se explicava o aumento considerável do número de associados.

Muitas das coisas que encontramos na experiência do princípio são actividades primordiais. A mescla de todas as actividades, ou melhor a actividade qualitativamente determinada, quer dizer, com determinada consequência evolutiva e, por conseguinte, absoluta­mente diferenciada, como a mudança sucessiva de sedes e de campos de jogos, marca o encontro do Sporting com o seu destino de grande clube. Com efeito, a partir da situação brilhante alcançada na sua sede da Praça dos Restauradores, a matéria finita de um começo predestinado acabaria por esgotar-se na infinita sucessão de produções gloriosas de um eclectismo desportivo tão significativo como influente na sua expressão extracontinental.

Desse eclectisrno nasce, por sepa­ração, em primeiro lugar, a popularidade e a simpatia; com elas se forma a mística e depois a valorização de todas as actividades despor­tivas que garantiram a dimensão internacional do clube. Submetidas estas ao movimento do torvelinho competitivo, colocam-se por ordem de resultados espectaculares, no palco da preferência do público.

O núcleo está formado pela massa associativa; a sua superfície acha-se coberta de entusiasmo; o calor Sportinguista gera o sol das vitórias e evapora dos campos desportivos a fraqueza do desânimo e da des­crença. O atleta leonino encontra-se rodeado por uma capa de vontade férrea e de fogo clubista, da qual se formam as estrelas dos triunfos individuais e colectivos. O Sporting, que é simbolizado pela figura de um leão rompante, é o centro físico e espiritual, à volta do qual se movem livremente centenas de milhar de sócios e de adeptos equidis­tantes de todos os pontos da esfera desportiva da sua vida exemplar. É digna de nota uma certa presunção da ideia da sua fulgurante evo­lução: os primeiros êxitos nasceram do diletantismo desportivo, e deles procedem os demais êxitos, incluso o internacional.

O Sporting encontra na cor verde o princípio original das duas formas da sua esperança: esperança que dura e esperança que con­some. A força do seu símbolo, e a esperança da sua cor, e o servir do seu eclectismo, são condensações de uma energia que é, simultaneamente, eternidade e tempo. A dilatação provocada pelo eclectismo desportivo tornou-o, por sua vez, o suporte de toda a vida clubista, a alma cósmica activa do Sporting.­

É um mundo visível com todas as coisas particulares nele contidas. Havendo nascido de uma matéria primitiva que era o futebol desconhecido do grande público, teve de acabar por voltar a ela, logo que começou o processo internacional da sua expansão. O futebol é um astro que flutua num oceano de popularidade e celebridade, irresistíveis, mas o céu desportivo do Sporting continua a ser uma abóbada cristalina em que se acham fixas as estrelas .de outras modalidades: ténis, atletismo, ciclismo, râguebi, basquetebol, andebol, natação, ginástica, ténis de mesa, voleibol, ciclo­turismo, bilhar, tiro. Mais de dois mil atletas e ginastas movem-se como sangue vivo nas artérias do seu corpo, orientados e dirigidos por centenas de directores e técnicos especializados. E durante a prepara­ção são assistidos por médicos, enfermeiros e massagistas que utilizam a moderníssima aparelhagem do posto clínico). Um trabalho que atinge a altura de enormes montanhas, oculta-se nas entranhas do autêntico laboratório de desporto que é a monumental instalação do seu estádio.

As actividades sociais do Sporting, filiadas na filosofia desportiva da sua estrutura, distinguem-se das especulações que não personificam o objectivo do convívio por razões de solidariedade e cooperação, ditadas pelo princípio da unidade que dá força às massas associativas. Não se reduzem a manifestações de fictícia alegria e forçada camara­dagem, nem se descrevem como acções sem sentido de fraternidade, porque tratam de encontrar o supra-histórico, o permanente da tra­dição na mutação inevitável das suas épocas vitais.

Justamente por isso surge na madrugada da existência clubista, o conceito que daria origem à grande família leonina. Começa-se a observar que as variações, os acontecimentos são pensados de uma maneira determinada, supondo algo de permanente com carácter des­portivo-místico, no qual se realizam. Esse pensamento considera o espírito Sportinguista como fonte de vida clubista, e o seu eclectismo desportivo como conjunto dos seus fenómenos. Aparece como uma manifestação concreta da linfa que alimenta de energia o poderoso caudal das suas realizações.

Pode ver-se nisto uma espécie de equação entre o Sporting e , o seu mundo, isto é, Sportinguismo; o qual se confirma tendo em conta, que a ética, a substância primordial, se pode equiparar com o conceito da matéria activa, a massa associativa. Naturalmente que a massa associativa está dotada de força e incluso de vida. Os fenó­menos desportivos aparecem assim como processos vitais, que crêem conhecidos quando se sabe qual é a massa associativa que lhes serve de fundamento. Por isto, e por se acharem reunidos indistintamente na ética Sportinguista os conceitos da massa associativa, força e vida, pode chamar-se ao Sportinguismo a animação da matéria activa e do espírito vivente dos sócios e dos adeptos. Paralelamente, a ideia de que há um princípio moral na base do mundo Sportinguista é a certeza que permanece através de toda a filosofia da sua vida despor­tiva e social.

Há que considerar também José Alvalade como fundador da doutrina Sportinguista, como um formador moral do desporto e da sociedade que lhe foi consequente. Ao fundar o clube, fundou uma comunidade ou uma ordem desportivo-moral, que prontamente se estendeu a todo o país.
Pode comparar-se e não desacertadamente, esta liga como uma sociedade sem segredos. Cultiva-se nela, de igual modo, o sentimento da fraternidade e o sentimento do desporto, como crença clubista de elevado cunho moral. De ela tomou o futuro a sua ideia da transmi­gração da alma Sportinguista; doutrina de sentido ético que interpreta a reencarnação do essencial do passado como uma recompensa no presente de uma existência anterior fecunda em exemplos.

O senti­mento moral de José Alvalade e de seus pares lutou contra a rotina dos malefícios do incivismo e do antidesporto e venceu a batalha, transmitindo o testemunho da ética Sportinguista na pureza das suas atitudes estritamente aristocráticas e conservadoras. Daí sempre se exigir aos membros da comunidade leonina uma rigorosa submissão à moral e a abstenção de toda a palavra ou acto atentatório da sua autoridade.

O Sporting ocupa-se também da cultura e da arte em saraus de alto nível, quer nos salões da sua sede da Praça dos Restauradores, quer nas instalações actuais. Ficaram memoráveis tais reuniões e as festas do fim de ano e do carnaval quando o clube se encontrava instalado no Palácio Foz. Essas actividades sociais que se consideram como meio de excitar e acalmar os sentimentos foram e são praticadas numa linha tradicional de comunhão clubista. É fundamental e fecundíssimo o convívio entre Sportinguistas.

De aqui nasceu a ideia da realidade interior do Sporting se achar estruturada por uma regu­laride de relações entre os seus sócios. Vê-se no convívio das reuniões ou das excursões ferroviárias e rodoviárias, não só a expressão da fraternidade das relações, como o seu núcleo e a sua própria essência. Aquele pensamento crê captar por meio de conceitos morais, como os da ética Sportinguista, realidades vitais concretas, como são as do convívio entre os seus sócios. A essência dessas reuniões aparece assim, igual à dos princípios que designam o conjunto dos elementos Sportinguistas nela contidos, como substrato geral de toda a animação desportiva, social e cultural leonina.

O progresso do clube reduz a relações numéricas, não só a natureza exterior da sua actividade, seus elementos e suas leis desportivas, como as relações sociais e as propriedades espirituais do Sportinguismo; a ética equipara-se, por exemplo, a um número quadrado, porque a moral recorda o nascimento de um bem constituído por dois factores iguais: educação e solidariedade. Com este fenómeno cooperou a significação mística dos êxitos desportivos. Deriva disto que a cada número de vitórias corresponde um valor distinto, e, em consequência, uma distinta significação para a sua realidade.

O número administrativo, que é a origem de todos os números, .contém também a origem .dos princípios contrapostos, que contra­pontam o princípio da vida Sportinguista: a limitada e a ilimitada. Aos números positivos corresponde a boa realidade, a recta, a lumi­nosa, a limitada; aos números negativos corresponde a má realidade, a curvilínea, a nefasta, a ilimitada.

A vida Sportinguista constitui-se por estas oposições; porém, os opostos acham-se no tempo próprio, harmonicamente reunidos numa ordem superior. O fundamento, pode dizer-se assim, vivente, dessa vida, de todas as suas partes e relações, são os números que não se consideram como conceitos abstractos, mas como substâncias que actuam no seu mundo. Foi da maior importância para o sucesso do clube que os dirigentes conside­rassem a matemática como protótipo de conhecimento exacto e seguro do mundo desportivo e social que se fundou, imobilizando quinhentos e cinquenta mil réis e hoje regista mais de quinze milhões de escudos tanto na receita como na despesa.
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VISCONDE DE ALVALADE

­Dr. Alfredo Augusto das Neves Holtreman, bacharel formado em direito pela Universidade de Coim­bra. Foi distinto advogado em Lis­boa e proprietário de casas e terre­nos. Solicitado pelo seu neto JoséH oltreman Roquette (Alvalade) ce­deu o terreno onde foi talhado o primeiro campo de jogos do Spor­ting e financiou as respectivas ins­talações desportivas. Foi Presidente da primeira direcção do Clube e fez parte do núcleo dos seus fundado­res. O título de Visconde de Alva­lade foi-lhe concedido por D. Car­los, por decreto de 22 de Junho de 1898.
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JOSÉ HOLTREMAN RO­QUETTE (ALVALADE)

Cria­dor, fundador e dirigente do Spor­ting, projectou-se coma máxima figura lendária do clube; a paixão clubista aliada à convicção ideal do desporto fizeram dele um constru­tor entusiasta do mundo leonina, ao mesmo tempo que um profeta da grandeza futura do Sporting Clube de Portugal. Como uma lápida de cara voltada à posteridade, estão gravadas a ouro as suas palavras: «Queremos que o Sporting seja um grande club, tão grande coma os maiores da Europa», Foi um dos fundadores do Sporting e seu principal animador de 1906 a 1916. Dotou-o com um campo de jogos e parque despor­tivo com instalações grandiosas para a época. O monumental estádio inaugurado em Julho de 1956, tem o seu nome, em homenagem à sua dedicação inexcedível, com cria­dor, fundador e dirigente do Spor­ting.
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FRANCISCO STROMP­

O mais representativo dos atletas­-símbolos do Sporting. Exemplo das virtudes éticas e eclécticas do Clube, praticou com o mesmo brilhantismo o futebol e o atletismo. Como futebolista emérito participou em 107 jogos da primeira categoria, ocupando os lugares de médio di­reito e de avançado-centro; fez parte da selecção de Lisboa, verdadeira selecção nacional, que se deslocou ao Brasl em 1913. No atletismo, venceu a prova de lançamento de disco no 1.° Torneio organizado pela Sociedade Promotora de Edu­cação Física Nacional em 1910; distinguiu-se também nos I Jogos Olímpicos Nacionais de 1911, como lançador de disco e de peso. Foi diversas vezes director e membro dos Conselhos Técnicos do Spor­ting.
 
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