Rui Pinheiro: «Já temos um bom histórico»
Rui Pinheiro é o verdadeiro super-herói dos tempos modernos. Não tem capa nem um vestido colorido colado ao corpo, mas faz do seu dia-a-dia uma verdadeira aventura, de modo a conseguir empenhar-se de forma total em duas áreas relacionadas, mas bem diferentes em termos de objectivos.
Para além de ser atleta de meio-fundo (distâncias de 1.500 metros a 10.000 metros) e de se aventurar de vez em quando pela meia-maratona (21,1 km) para “treinar“, Rui Pinheiro é ainda presidente da Liga Portuguesa de Desporto para Surdos (LPDS), onde gere de forma dinâmica todas as estratégias da organização que tutela.
A Record Internet começou por abordar aqueles que são os verdadeiros problemas para os atletas surdos no nosso país.
“As dificuldades relevantes que impeçam uma prática desportiva de qualidade tendem a ser específicas de cada pessoa e não dependem de a pessoa ser surda ou ouvinte: ou porque tem de cuidar de filhos, ou porque tem dois empregos, ou porque as instalações desportivas mais próximas ficam longe e por aí fora. Relativamente aos surdos, pessoalmente, não creio que existam obstáculos do tipo ‘porque se é surdo’ que não se ultrapassem facilmente com força de vontade - e prova disso é termos atletas que participam até nos Jogos Olímpicos (de ouvintes). O maior problema são as barreiras de comunicação quando o surdo tem de treinar ou competir num meio predominantemente ouvinte”, revela sem rodeios.
E a erradicação de alguns destes problemas é também uma das áreas de acção da LPDS, que na organização do recente Meeting Nacional de Atletismo para Surdos sentiu algumas das novas tendências.
“Até me foi questionado como é que os juízes deveriam assinalar a partida. Sei que existem uns esquemas complicados com luzes que ou estão a ser propostos, ou já estão a ser aplicados para assinalar a partida nas provas de atletismo. No entanto, por experiência própria, quando se usa a pistola, o estrondo é facilmente sentido por todos. No Campeonato Europeu de Corta-Mato que realizámos em 2006, era assim que se assinalava o arranque. Eu estive numa das vezes junto à partida e pude sentir o estrondo com facilidade”, destaca.
Em Portugal existem atletas surdos com excelentes desempenhos e que são a grande aposta para os surdolímpicos. Este Meeeting serviu para observar alguns destes atletas visando os Jogos. Rui Pinheiro revela quais as estrelas a seguir com especial atenção.
“Já temos algum histórico. O Hugo Passos é a referência habitual para campeão nas Lutas Amadoras, visto que é campeão surdolímpico e chegou a ir aos Jogos Olímpicos em 2004. Mais recentemente, tivémos a excelente evolução da Joana Santos no Judo, que este ano se sagrou campeã mundial de Judo tanto na sua categoria de peso, como no Open contra adversárias bem mais pesadas. Já o Hélder Gomes, no Taekwondo, ficou-se pelo bronze, mas ainda assim tem grandes possibilidades de evolução neste ano. No atletismo, o Messias Dias é bem conhecido, sendo actualmente vice-campeão europeu no Corta-Mato de Surdos e ainda este ano terá o Mundial de Surdos em Setembro na Turquia, onde se esperam já medalhas. A meu ver, este é o grupo dos 4 atletas mais fortes e nos quais contamos, para já, que consigam medalhas“, diz.
Aliás, a observação de atletas continuará noutras áreas: “Brevemente, gostaria de realizar um Meeting de natação, porque sei que temos bons atletas que obtiveram bons resultados no passado, mas gostaria de os por à prova este ano, pois a natação tem sido um dos desportos com grande representatividade em Portugal.”
Para rematar, nada como a pergunta da praxe sobre os objectivos de futuro. Rui Pinheiro tens os seus bem decorados: “Como atleta, gostava de conseguir os mínimos para participar nos Surdolímpicos de Taipé 2009 e depois retirar-me da alta competição. Já tenho 29 anos, não tarda serei pai e as minhas prioridades irão mudar. Tenho de aproveitar agora para fazer alguma coisa de relevante enquanto atleta - no futuro terei muito tempo para fazer coisas mais relevantes enquanto dirigente.”
JR