João Almeida 'bloqueado' por outra etapa com final neutralizado
Manifestações pró-Palestina forçam a organização a tomar os tempos a 8 quilómetros do final da 16.ª etapa. Um dia perdido para o português no assalto à camisola vermelha
A primeira batalha da semana final da Vuelta entre João Almeida e Jonas Vingegaard foi bloqueada por mais protestos pró-Palestina na estrada, que impediram que a etapa (16) se concluísse na meta, em Castro de Herville, uma contagem de montanha de 2.ª categoria. As manifestações, localizadas a três quilómetros do cume, forçaram a organização da prova a neutralizar a corrida a oito da meta, onde foi decidido o vencedor e tomado os tempos, suprimindo a derradeira subida.
Para João Almeida foi uma oportunidade perdida de atacar a liderança de Jonas Vingegaard. Os dois primeiros da classificação geral terminaram com o mesmo tempo num grupo restrito, de onze corredores, a 5.52 minutos do vencedor da etapa, Egan Bernal, e mantêm 48 segundos a separá-los. Bem mais à frente na etapa, o corredor da Ineos Grenadiers bateu Mikel Landa (Soudal Quick-Step) sobre a linha de chegada virtual, no meio do caos e da imperceção do que estava a suceder na corrida. À imagem do que sucedera no final da etapa 11, em Bilbau, onde Vingegaard e Tom Pidcock discutiram a vitória num final também antecipado por motivos de segurança idênticos, o colombiano e o espanhol preparavam-se para uma prometedora luta de trepadores consagrados, depois de se destacarem da fuga do dia.
Egan Bernal não levantava os braços (excetuando os Nacionais do seu país) desde o triunfo no Giro em 2021, e apesar de conturbada, foi a sua primeira vitória desde o grave acidente que quase lhe custou a vida em janeiro de 2022.
Marc Soler em fuga...
Entre os 17 fugitivos do dia, encontrava-se o espanhol da UAE Emirates, Marc Soler. Mais uma etapa em que um corredor da equipa de João Almeida entra em fuga, desta vez sem se saber se seria com intuito estratégico, uma vez que a Visma soube jogar com esse facto e deixou a fuga ganhar demasiado tempo - mais de 6 minutos à entrada dos últimos 30 quilómetros - para que o posicionamento do corredor da equipa rival, já com uma vitória nesta edição da prova, pudesse acudir a eventual pressuposto tático.
Perante este cenário, Soler apostou no bis, mas perdeu o tempo de entrar na movimentação decisiva de Mikel Landa, a que respondeu apenas um quarteto: Bernal Clemént Braz Afonso e Brieuc Rolland (ambos da Groupama-FDJ) e Nico Denz (Red Bull-Bora), mais tarde, quando o terreno se tornou mais acidentado, reduzido ao duo que discutiu a vitória.
Almeida firme... sem equipa
Sem possibilidade de lutar pela segunda vitória, Marc Soler, após comunicação da direção da equipa, viria a aguardar pelo grupo dos favoritos na curta, mas dura, subida do Alto do Prado (3,2 km a 9%), que originalmente seria a penúltima da jornada, a cerca de 25 quilómetros da meta, onde João Almeida chegou a ficar isolado dos seus companheiros. Então, contra dois corredores rivais da Visma que ainda permaneciam com Vingeggard, Sepp Kuss e Matteo Jorgenson.
A UAE Emirates cedia em bloco ao ritmo forte imposto pela Bahrain no pelotão, com o objetivo de reduzir a vantagem de Egan Bernal na fuga, que ameaça a 10.ª posição da geral do seu corredor norueguês Torstein Traeen, e para fazer descolar o belga Junior Lecerf (Soudal), que ocupava a 9.º lugar, o que conseguiram. Na função, o austríaco Felix Gaal (Decathlon) foi o único do top-10 a perder tempo, baixando de quinto para sexto, ultrapassado pelo jovem italiano Giulio Pellizzari (Red Bull).
João Almeida nunca perdeu de vista Vingegaard (que teve um furo no final da subida e trocou de bicicleta com o seu colega Ben Tulett, sem consequências), mas os intentos do português, de um pretenso e expectável ataque ao rival, provavelmente na subida final (depois anulada), complicavam-se perante o isolamento. Felix Grosschartner tentava resistir no grupo, embora a claudicar ao andamento castigador da Bahrain, e ainda com a Visma na expectativa.
De Ayuso e Vine, nem sombra
Quanto a Juan Ayuso e Jay Vine, sem sombra. Os dois tenentes de montanha (eventuais...) de João Almeida desapareceram às primeiras rampas do Prado. O espanhol terminou a etapa na 120.ª posição, a 17 minutos (12 do grupo de Almeida) e o australiano apenas um minuto à frente (113.º). Com Marc Soler em fuga (estratégica ou não) e Grosschartner a fraquejar, o português ficou mais uma vez desprotegido frente aos adversários, e nem na subida final se encontrava... Motivo para (continuar a) reflexão na equipa dos Emirados.
Estariam Ayuso e Vine ainda a retemperar forças, estendendo o dia de descanso da véspera, para a etapa que pode ser decisiva, quarta-feira, e juntar esforços para auxiliar, enfim, João Almeida? Será uma jornada relativamente curta (143,2 km) com relevo ondulado, que culminará no temível Alto de El Morredero (8,8 km a 9,5% de inclinação média).
Depois da oportunidade involuntariamente perdida na etapa de hoje, segue-se a primeira de duas tiradas montanhosas (a outra no sábado) que restam ao português para atacar a camisola vermelha de Jonas Vingegaard. De permeio, o também importante contrarrelógio, de 27,2 km, em Valladolid, na quinta-feira.
A Bola